sexta-feira, 29 de maio de 2009

A violência inaceitável das torcidas

O futebol é reconhecidamente o esporte que atrai o maior público em todo o mundo, com torcidas apaixonadas movimentando uma roda econômica gigantesca, com uma infraestrutura globalizada que mantém acesa uma chama intensa de fervor e dedicação. Desde os jogos nos pequenos campos de diversão aos grandes estádios, a paixão é a mesma, dando forma a sonhos de realização e do sentido de fazer parte de um grande organismo que vibra na mesma frequência.

Nos tempos modernos, o profissionalismo atingiu os grandes clubes que se tornaram empresas de entretenimento, gerando contratos e receitas milionários, e seus personagens são ídolos em todos os cantos do globo. Em todos os continentes e em todas as linguagens, prevalece a habilidade com os pés, tomando a forma de um fenômeno sem fronteiras capaz de congregar nações e fazer prevalecer o espírito esportivo.

As camisas e bandeiras são hoje símbolos que arrebatam torcedores fanáticos de todos os níveis, desde os que são capazes de acompanhar seus clubes de coração com entusiasmo, àqueles que perdem a noção do esporte e incorporam a violência onde deveria ser festa, disputa organizada, diversão e lazer. Infiltram-se na multidão e dão vazão a seu instinto bárbaro, manchando o ambiente com xingamentos, agressões e atitudes inconvenientes.
Em todo mundo são identificados arruaceiros que invadem estádios para promover baderna, brigas e bebedeiras, estendendo até às ruas sua sanha bárbara de criar confusão onde deveria haver respeito. Nos estádios europeus onde nem é preciso fossos e altos alambrados para proteger os atletas, há um notável esforço para que os torcedores possam assistir aos jogos com conforto e segurança, e os incidentes violentos são quase exceções.

No Brasil, o espírito exacerbado dos torcedores tem caracterizado o esporte como de violência fora campo. O comportamento das torcidas acaba sendo notícia das páginas policiais antes das de esporte, frequentemente com mortes e graves agressões que sacodem as comunidades onde se realizam os jogos. O caso de torcedores do Fluminense que invadiram o centro de treinamentos do clube, agredindo jogadores é emblemática, justamente por não ser um caso isolado. É bastante comum que um grupo de torcedores, geralmente pequeno, envolva-se na política interna dos clube e passe a assediar os profissionais, exigindo uma atenção que não lhes é devida. Caso semelhante aconteceu na Ponte Preta, um dos incidentes que levaram à saída do treinador Marco Aurélio e o diretor Dicá do clube.

Ao torcedor cabe incentivar seu time, vaiar quando achar adequado, até xingar os protagonistas do jogo, mas seu papel se encerra aí, nas arquibancadas. Querer exigir maior participação nas decisões internas e profissionais do clube é exceder sua importância e grau de ingerência. Em grande parte, a culpa é dos próprios dirigentes, politicamente posicionados ao lado das torcidas organizadas, financiando suas atitudes, franqueando ao cesso aos estádios, facilitando a pressão nos treinos. Muitas vezes, o feitiço vira contra o feiticeiro e os baderneiros tornam-se os inconvenientes vilões das crises.

(Correio Popular, 29/5)

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