quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Consumo consciente de água


O consumo consciente de água é uma preocupação que deve ser constante, uma cultura que deve ser firmemente incutida no comportamento social, até mesmo como atitude preventiva contra um colapso de abastecimento que a cada dia se mostra mais factível. A falta de disponibilidade de água doce para atender toda a demanda global, deixa sobressaltados os técnicos que se debruçam sobre a questão. Estima-se que, somente no Brasil, 22 milhões de pessoas não tem acesso a água tratada; no mundo todo, este drama atinge um bilhão e 200 milhões de pessoas - 35% da população mundial.

Em regiões onde os rios parecem abundantes e os sistemas de distribuição atingem a grande maioria da população, torna-se difícil para as pessoas comuns dimensionarem a gravidade do problema, sendo bastante comuns os abusos, o desperdício e o descaso com as dificuldades e custos para se obter água em quantidade compatível com o consumo e a necessidade. Somente situações críticas e a cobrança de taxas de serviço elevadas despertam o interesse pela racionalização.

A maior eficiência na medição e cobrança do consumo de água é certamente um dos fatores que contribuem para a maior parcimônia no gasto em residências e empresas. O hidrômetro distribui justiça na aferição do consumo mas faz pesar no bolso do usuário do serviço, despertando a preocupação em reduzir despesas no orçamento doméstico. Não se pode desconsiderar ainda boa parcela da população que busca a mudança de hábitos a partir de maior consciência da necessidade de utilização consciente de recursos.

A par de todas as campanhas de conscientização da população, com reflexos positivos para a economia e o meio ambiente, é importante ainda que os serviços de captação, tratamento e distribuição de água desenvolvam tecnologia e apliquem investimentos contra as perdas através de vazamentos e ligações clandestinas. Na região do Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jaguari, perdem-se 6,7 mil litros de água tratada por segundo entre a estação de tratamento e as casas, cerca de 36% da produção.

Todas as ações possíveis assumem caráter de prioridade, desde a preservação dos mananciais e maior eficiência no sistema de captação, tratamento, distribuição e consumo, tendo em vista a necessidade de garantir o futuro do abastecimento, ganhar tempo para medidas conciliadoras e exploratórias, e em respeito à população que tem a água como um bem extremamente raro.

(Correio Popular, 27/2)

O sono das águas

Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes. O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...

(Guimarães Rosa, citado por Bruno Ribeiro em sua coluna no Correio Popular)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A busca de uma cultura de paz



Quando alguma voz se levanta para denunciar os atentados contra a paz, sempre é preciso dar ouvidos ao que a sociedade exige como medida de proteção e como parâmetros de justiça. A falta de segurança não é apenas a questão da agressão pessoal, individual, é fruto de um contexto mais amplo que exibe a falta de uma política de segurança pública, a dificuldade de diagnosticar os elementos que levam à violência, a instabilidade moral e ética no meio educacional, empresarial e, especialmente, no político.

A propor a Segurança Pública como tema da Campanha da Fraternidade deste ano, a Igreja Católica brasileira se coloca como interlocutora de um movimento urgente pela construção de uma cultura de paz e de busca de um bem comum. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) optou, desde 1973, por dar um enfoque social aos temas adotados, dando espaço à discussão das questões que afetam diretamente as comunidades, relacionando os assuntos que merecem reflexão não apenas no contexto religioso institucional, mas refletem uma preocupação geral da sociedade.

O lema da campanha pinça um texto bíblico do Livro de Isaías, que ressalta que a paz é fruto da Justiça. Neste repto, são colocadas em pauta questões como a violência na vida das pessoas, a responsabilidade de cada um diante dos problemas, os crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, a impunidade de parlamentares e o sistema penal brasileiro. O amplo leque de abordagens permite equacionar a Segurança Pública dentro de uma perspectiva abrangente, a partir da inquietação detectada nas bases pastorais.

Independentemente de ter um berço ideológico e religioso, amparado pela Igreja Católica, a campanha é altamente oportuna, trazendo à reflexão temas que são capazes de motivar ações moralizadoras, de resgate do direito individual e coletivo, mobilizando uma parcela considerável da população brasileira capaz de irradiar propostas concretas e envolventes, cobrando providências e elevando o senso crítico das pessoas em relação à segurança de modo geral.

A sociedade tem engasgados os motivos que têm adiado o enfrentamento de questões vitais que impedem a distribuição de justiça e as garantias de cidadania. No plano político, de onde deveriam partir políticas públicas de segurança, sobressaem os exemplos de corrupção, de alheamento aos problemas nacionais, de ofensiva indiferença em relação às necessidades dos cidadãos. Uma mobilização deste porte é capaz de, finalmente, estabelecer um padrão de cobranças compatível com a capacidade de argumentação cívica.

É importante que o debate extrapole a circunscrição dos católicos e se some a iniciativas semelhantes em todos os setores da sociedade, finalmente engajada em um processo transformador que coloque em xeque os desacertos institucionais e fortaleça uma rede ampla capaz de transformar a realidade, superar as causas da violência e implantar uma efetiva e abrangente cultura de paz.

(Editorial Correio Popular, 25/2)

Marcha da Quarta-feira de Cinzas


Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar

Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

(Marcha De Quarta-Feira De Cinzas, Vinicius de Moraes/Carlos Lyra)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A guerra civil brasileira


A marca de 150 mil mortes violentas por ano no Brasil é o maior indicador de que estamos vivendo nada menos do que uma Guerra Civil. Um conflito mal disfarçado, consequência da falta de ação de um Estado que, em cinco séculos de história, nunca funcionou como vetor pacificador, civilizatório. Esta é a análise proposta pelo médico e historiador Luís Mir, autor do livro Guerra Civil – Estado e Trauma, que pinta com cores fortes o quadro da violência no País e atribui à degradação social o mote principal da explosão das situações de risco para o cidadão comum.

Da forma como são apresentados, os números conferem à análise um tom convincente. De todas as mortes registradas por ano, 55 mil são assassinatos. Neste quesito, o Brasil figura destacadamente no ranking mundial: com 3% da população do globo, o país registra 13% de todos os homicídios do mundo. "Nos últimos 20 anos – 1980 a 2000 – foram assassinadas no Brasil 600 mil pessoas. De 1990 a 2000, dois terços: 369.101, dos quais 70% jovens entre 15 e 24 anos. Somos um país genocida com um Estado Pacífico, ou um Estado genocida com uma sociedade pacífica?", questiona o autor na apresentação do livro. Uma pergunta que ele próprio se propõe a responder nas mais de 900 páginas do ensaio.

Ao apresentar suas justificativas para o título, Luís Mir assume uma linguagem especial, quase como de um correspondente de guerra, descrevendo em agudas expressões o número de baixas, as estratégias e os custos desta guerra. Como exemplo da contundência do estilo, Mir descreve a ação policial com termos que desenham uma realidade beligerante: "A grotesca ofensiva policial-militar à criminalidade ambicionada pelo Estado brasileiro ignora a essência desta realidade (per capita baixo) e colabora dramaticamente para a acentuação do ressentimento étnico e a sua violência explosiva. As ofensivas são amorais e obscenas porque impõem soluções de pacificação que vitimam civis inocentes e esteiam infinitamente a violência".

O livro não poupa a ação passiva do Estado, apontado como promotor e responsável pela situação de insegurança que vivemos desde o Descobrimento. Mir destila sua crítica às elites dominantes que ‘controlam o Estado e sempre elegeram a repressão, o uso sistemático da violência como primeira solução para lidar com as desigualdades sociais. A redistribuição de renda – que poderia diminuir o fosso entre ricos e pobres, entre a elite e segregados – nunca foi considerada uma alternativa viável pelos donos do poder", conclui.

Na apresentação das estatísticas, o autor dá a impressão de colocar no mesmo tacho de fervura questões que não podem ser somadas aritmeticamente. Quando fala em 150 mil mortes violentas por ano, Luís Mir soma quase 100 mil vítimas de acidentes de trânsito. Em princípio, vítimas também da violência. Mas a informação colide com o argumento da degradação social como fator desencadeador: as causas e justificativas de um caso e outro são muito diferentes. Nos homicídios, há o peso pessoal-emocional, da eliminação motivada da vida; nos acidentes de trânsito, a irresponsabilidade e soberba podem ser os principais motes, atingindo vítimas sem identidade. Nada que afete profundamente o resultado do ensaio, apenas uma ideia para ser confrontada ao longo da leitura.

(Guerra Civil – Estado e Trauma, de Luís Mir - Geração Editorial, 960 páginas)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

É preciso saber viver, de Anita Motta

A vida muda tão rapidamente...
Um dia desses estava eu a sorrir, tranquila, brincando de teatro, fazer minhas próprias peças. Mal sabia o que estava por vir.
Eu era feliz e não sabia. Eu vivia e não acreditava.
Hoje, aos 18 anos de idade, me sinto muito criança ainda. Não sei lidar com certas responsabilidades da vida adulta, muito menos sei lidar com esses diferentes sentimentos que aparecem. Isto não é um diário, mas é a minha vida escrita num papel.
Hoje não moro mais com meus pais. Isso é ótimo! Liberdade à vista! Faço o que quero sem ninguém dar palpite! Não, não é assim a história. Pensava eu poder ser feliz longe de quem me criou, mas sei a luta que é para me safar da saudade e da vontade de tê-los comigo novamente... Só eu sei.
Mas a vida lá fora está me esperando. Preciso crescer e amadurecer minhas ideias. Preciso me tornar adulta e arcar com as consequências de cada um dos meus atos, sendo eles mal pensados ou muito bem planejados.
Porém, como aprender tudo isso se ainda não aprendi o que é adolescência?
Como me tornar adulta, independente, se não vejo a hora de voltar para casa e me encostar no meu pai ou me deitar no colo de minha mãe?
Como me entregar ao desejo de crescer se ainda nem sei o que é o gostinho de uma vitória perfeita?
É nesta hora que Deus me pega em seus braços.
Preciso de ajuda, de conselhos e de companhia...
EU QUERO VIVER!
Será que isso foi um grito? Ou um simples desafio de quem está mais confusa do que nunca? Para que precisamos sofrer tanto para aprender as coisas?
É claro que sei que grande parte dessa minha tristeza vem de mim mesma e do que faço ou penso, mas qual é o porquê dessa agústia que me corrói o coração?
Conforta-me ó meu Senhor... Guia-me por teus caminhos de Graça e Verdade.
Não me abandonem caros colegas, caros amigos e comparsas.
Estejam vocês ao meu lado nessa hora tão difícil de minha vida.
Tenham a acerteza de que estou com vocês, aqui ou longe, mas estou. Na sua lembrança e no seu pensamento.
Apenas mais um desabafo...

(Anita Ribeiro Motta, em 25/3/2000)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Sonhar não custa nada


Sonhar não custa nada
O meu sonho é tão real
Mergulhei nessa magia
Era tudo que eu queria
Para este carnaval

Deixe a sua mente vagar
Não custa nada sonhar
Viajar nos braços do infinito
Onde tudo é mais bonito
Nesse mundo de ilusão
Transformar o sonho em realidade
E sonhar com a mocidade
É sonhar com o pé no chão

Estrela de luz
Que me conduz
Estrela que me faz sonhar

Amor, sonhe com os anjos (não se paga)
Não se paga pra sonhar
Eu sou a noite mais bela
Que encanta o teu sonho
Te alucina por te amar (amar, amar)

Vem nas estrelas do Céu
Vem na lua de mel
Vem me querer
Delírio sensual
Arco-íris de prazer
Amor, eu vou te anoitecer

Eu vejo a lua no céu
A mocidade a sorrir
De verde-e-branco na Sapucaí


(Sonhar Não Custa Nada! Ou Quase Nada, 1992, de Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Moleque Silveira, samba-enredo da Mocidade - RJ)

Revisões penais


As leis nada mais são do que o concerto da sociedade sobre as ações que são permitidas e até onde vai a liberdade das pessoas de fazerem o que desejam. O princípio elementar do direito é assegurar o interesse comum, aplicando sanções sempre que o comportamento de uns afete o conforto de outrem. O princípio punitivo não é exclusivamente corretivo, mas também garantidor da segurança dos indivíduos.

A constante ameaça à segurança do cidadão e a aplicação da lei em matizes diferentes pelo Judiciário, em casos trazidos a conhecimento público, despertaram o interesse em reformular o sistema, rediscutir a legislação penal, e confrontar com a opinião pública os critérios que levam a flagrantes distorções da interpretação do Direito e a fragilidade das instituições responsáveis pela sua aplicação.

Por tudo isso, a sociedade sinaliza que não está mais disposta a ver julgamentos levados ao humor dos aplicadores da lei. Há que ter rigor e cumprimento severo do que prescreve a lei. E o próprio
Judiciário deve estabelecer critério em sentenças que ferem o senso comum.

Carnaval


No meio do aguaceiro
a velha baiana roda a saia
Ah! esses carnavais
(Haikai de Maria Teresa Costa, http://mteresabr.wordpress.com/)

O Sambódromo visto por Jânio de Freitas

Chega a ser raro encontrar uma opinião ajustada, coerente, fundamentada e totalmente de acordo com o que pensamos a respeito de alguns assuntos. A opinião do jornalista Jânio de Freitas, publicado na Folha de S. Paulo de hoje, é exemplo de letra legal que todo mundo deveria ler.

"A invenção que é o espetáculo nos sambódromos do Rio, de São Paulo e de seus imitadores, sendo já o paulistano uma imitação do carioca, ainda leva o nome genérico de Carnaval e o nome particular de desfile das Escolas de Samba. Não é um, nem é outro. Usa aqueles nomes por apropriação indébita. O que é, não sei, e jamais ouvi sequer sugestão a respeito.

Tais como são, esses acontecimentos anuais refletiram, na sua origem, o espírito de "Brasil Grande" que inundava o país de propaganda da ditadura, ainda em sua pior fase. Como padrão estético, se a expressão não exagera demais, aderia e projetava o "padrão Globo" que então começava a impor-se, com a multidão de cores e formas de gosto suburbanamente duvidoso, e constituía a manifestação integral do espírito de "Brasil Grande".

As características do acontecimento levado ao Sambódromo do Rio foram criadas sobretudo por Joãosinho Trinta, desde então saudado acriticamente como prodígio de criatividade. Mas a hábil apreensão do espírito propalado, adaptando a grandes dimensões e a algum repique de tamborins os desfiles à velha maneira europeia (já outrora adaptados aqui pelas Grandes Sociedades), não bastaria para materializar a ideia. Era necessário dinheiro farto e fácil. E um dos repositórios mais satisfeitos por esse dinheiro são os bolsos dos bicheiros. De antigos signatários das listas de arrecadação das escolas de samba autênticas, os bicheiros passaram a tutores, financiadores, presidentes e diretores, orientadores e representantes políticos e sociais das entidades que tomavam o lugar das escolas originais. Donos.

Há mais proximidade entre contravenção e ditadura do que se ousou reconhecer, não só à época, mas até hoje. Graças ao grande poder de influência nos seus domínios ditos carnavalescos, os bicheiros ganharam da ditadura, e da política em geral, passe livre para suas atividades convencionais e, ainda melhor, para enveredar por novas especialidades. Eventuais situações incômodas, só como decorrência de disputas entre políticos, realidade que perdura. Simbólico, mas nem de longe caso único, da proximidade entre contraventores e ditadura aí está, ainda, o capitão Guimarães, que passou direto dos quartéis de repressão e tortura para o controle de uma rede de jogo de bicho e coliderança da classe.

Com a solução financeira, criou-se uma ciranda desatinada. Vários fatores provenientes do novo espetáculo, a começar do preço das entradas, afastaram do Sambódromo carioca o chamado povão. Mas quem, na realidade, paga a maior parte do espetáculo é o povão. Porque é o povão que, na vã esperança de ganhar algunzinho no bicho, engorda os cofres dos bicheiros. É a mágica à brasileira: tiraram do povão o que ele criou e o fazem pagar, sem saber, o custo do que o usurpou e falsifica a sua criação.Contribuição triste para isso tudo foi a boa intenção do Sambódromo, como projetado por Niemeyer. Sua insipidez estética, a capacidade de acumular calor, o desconforto das arquibancadas já seriam deploráveis. A criação de áreas em tudo privilegiadas, para a comodidade dos camarotes reservados à riqueza e à mediocridade "célebre", completa a contribuição com evidência e ênfase definitivas.

Se o povão fica à margem, Carnaval não é. Misto de exibicionismo por si só, e de chamariz para o turismo sexual, e de montagens delirantes, e sem a alegria tipicamente carnavalesca, Carnaval não é. A música? Boa ou ruim, samba não é. Um ritmo sem nome, criado para um espetáculo sem nome próprio."

(Jânio de Freitas, Folha de S. Paulo, 22/2)

Samba do Crioulo Doido


Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá

Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes

Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar

Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II

Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão

Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Da. Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também

O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou

(Samba do Crioulo Doido, de Stanislaw Ponte Preta - Sérgio Porto)

Liberdade, Liberdade! Abra as asas sobre nós


Liberdade!, Liberdade!
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz,
mas eu digo que vem

Vem, vem reviver comigo amor
O centenário em poesia
Nesta pátria mãe querida
O império decadente,
muito rico incoerente

Era fidalguia e por isso que surgem
Surgem os tamborins, vem emoção
A bateria vem, no pique da canção
E a nobreza enfeita o luxo do salão, vem viver
Vem viver o sonho que sonhei
Ao longe faz-se ouvir
Tem verde e branco por aí
Brilhando na Sapucaí e da guerra

Da guerra nunca mais
Esqueceremos do patrono, o duque imortal
A imigração floriu, de cultura o Brasil
A música encanta, e o povo canta assim e da princesa
Pra Isabel a heroína, que assinou a lei divina
Negro dançou, comemorou, o fim da sina
Na noite quinze e reluzente
Com a bravura, finalmente
O Marechal que proclamou foi presidente

Liberdade!, Liberdade!
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz,

(Liberdade. Liberdade, Abre as asas sobre nós, samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, 1989)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quero amar..., de Anita Motta


O amor é o limite a ser ultrapassado.
É a garantia do desejo solucionado
É o coração, a carne e o pensamento
Querer, mesmo que proibido
Beber da água, mesmo que não mate a sede
É querer comer a carne e saciar a fome.

É faca transpassando o peito
É querer sentir a dor e o gosto do sangue
Sorrir e se sentir bobo, desafiar
Apaixonar-se e sentir-se lobo, ganhar
É ser um grão de areia em meio a um furacão
É sentir-se a lava de um vulcão
É entrar em erupção e gozar das cinzas perdidas.

Viver, sobreviver, querer
Ser, desejar, beijar
Desejar estar nas entranhas e curtir cada momento
É criar, inovar, gostar
Se apaixonar e chorar por alguém
Conquistar e reconquistar a cada dia
Estar preso e sentir-se livre como um pássaro
É sentir as mãos tocarem o céu,
E sentir o pé grudar no chão.

Querer descobrir limites; ultrapassá-los e redescobri-los
Pular obstáculos e não cair em nenhum
Marcar o gol da vitória, comemorar junto, emocionar-se
É gritar, sentir, soltar-se
Amar e querer sempre amar mais...
Amar, amar, amar sempre.


(Texto de Anita Ribeiro Motta, em 18/5/05)



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Organização de Carnavais


A enorme diversidade cultural brasileira faz com que o Carnaval tenha tantas faces quantos são os locais onde a festa acontece. A maior comemoração popular deste país tem como signo comum a música, a diversão escancarada, a informalidade, fantasias, tudo misturado e condimentado por toques de sensualidade, espírito crítico, resgate histórico, puro deboche. De Norte a Sul, das marchinhas de salão, do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro aos trios elétricos ensandecidos da Bahia, há espaço para todo tipo de folia que acontece com a leitura típica de cada região.

A riqueza destas abordagens é um fator importante, ao par de ser uma tradicional opção de lazer que incrementa o turismo e gera ocupação cultural para milhões de pessoas. Os preparativos para os desfiles, a infraestrutura operacional e de segurança, sem falar do suporte na área de transportes, saúde, envolvem enormes investimentos e movimentação de dinheiro, sendo um evento de real importância para a economia.

Quando o desfile das escolas de samba do Rio e o carnaval baiano encamparam a grandiosidade do evento e tornaram-se um dos maiores negócios de turismo do país, a atenção das pessoas se voltou para eventos alternativos, valorizando pontos originais como o tradicional carnaval de marchinhas em São Luís do Paraitinga, os blocos extravagantes formados nas esquinas, os bailes de salão reformulados, a alegria pulsante de cada ritmo regional, amalgamando a cultura da festa brasileira.

Toda esta mobilização tem razão de ser na necessidade da população encontrar momentos de relaxamento e confraternização, que o poder público tem entre suas atribuições facilitar. O que não pode acontecer é o Carnaval ficar na coordenação de pessoas despreparadas, faltar infraestrutura elementar para reunir tantas pessoas em segurança, e mesmo escolas serem subsidiadas e sequer aparecerem para o desfile ou para a prestação de contas. Organizar evento para milhares de pessoas exige profissionalismo e investimento sério, que dê estímulo para que o Carnaval não se resuma a cinco dias de desperdício e aborrecimentos, e se transforme numa festa que pode começar a partir da quarta-feira de Cinzas.

Plataforma


Não põe corda no meu bloco
Nem vem com teu carro-chefe
Não dá ordem ao pessoal
Não traz lema nem divisa
Que a gente não precisa
Que organizem nosso carnaval

Não sou candidato a nada
Meu negócio é madrugada
Mas meu coração não se conforma
O meu peito é do contra
E por isso mete bronca
Neste samba plataforma

Por um bloco
Que derrube esse coreto
Por passistas à vontade
Que não dancem o minueto

Por um bloco
Sem bandeira ou fingimento
Que balance e abagunce
O desfile e o julgamento

Por um bloco
que aumente o movimento
Que sacuda e arrebente

(Plataforma, João Bosco)

O que não mata engorda, por Xyko Motta


Nietzsche não punha uma gota de álcool na boca. Não tanto pelos malefícios que a bebida pode causar ao homem, mas pelos “benefícios”. O que ele condenava era a fuga dos problemas e dificuldades através do beber para, ainda que momentaneamente, se livrar do sofrimento.Ele afirmou ainda que o cristianismo tem a mesma função das bebidas alcoólicas no enfrentamento de problemas. E o problema é que em parte Nietzsche tem razão! Para muitas pessoas é uma fuga o ir ao culto, às reuniões de oração, o ser cristão enfim. Uma senhora uma vez me falou que gosta de ir à Igreja porque pelo menos enquanto ela está lá esquece dos problemas que tem em casa.

Nietzsche, como Gandi, confundiu a vida falha dos cristãos com o próprio cristianismo. Veja o que ele escreveu:“O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência”.

E ainda:

“Deus está morto: mas, considerando o estado em que se encontra a espécie humana, talvez ainda por um milênio existirão grutas em que se mostrará a sua sombra”.

Cristianismo verdadeiro é o que Jesus viveu e que devemos imitar.

Ele, Nietzsche, acreditava que o sofrimento pode ser uma coisa boa para o homem. “O que não me mata me fortalece”. Não o sofrer em si, o qual nunca deixa de ser ruim, mas sim o modo como vemos e encaramos o sofrimento. Nisso ele está certo. Veja esse versículo:“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28)

Notar que, o que a Bíblia afirma é que as coisas ruins “cooperam” para o bem, e não que elas são um bem.

Se você não está sofrendo por um problema, uma doença, uma perda ou qualquer outra aflição, com certeza vai sofrer. O importante é pensar em como vai sair dessa, melhor ou pior? Um dos ladrões se saiu bem na cruz, o outro não.

(Texto de Xyko Motta, no Blog do Xyko - http://xykomotta.blogspot.com/)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Já que citamos Neruda...


Vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como ele corre o mundo
para levar-me longe.
Esconde-me em teus braços
por esta noite erma,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me longe.
Como tua fronte na minha,
tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
Que me chame e me busque
galopando na sombra,
enquanto eu, protegido
sob teus grandes olhos,
por esta noite só
descansarei, meu amor.


(O Vento na Ilha, Pablo Neruda)

Carnaval



Batuque de pratos –
Mendigos fazem carnaval
sem arroz nem feijão


(Haikais, Teresa Costa - http://mteresabr.wordpress.com/)

A guerra no trânsito e civilidade


Os conceitos de civilidade não se afirmam por decreto, são consequência de um longo processo de educação, de base de convivência respeitosa, de ter no direito individual e coletivo os parâmetros que definam os limites e bases do comportamento em sociedade. As tradições enriquecem a moral individual e coletiva, mesmo que possam vergar por conta de novos princípios incorporados na dinâmica da evolução.


O que melhor caracteriza os países de Primeiro Mundo, além de sua inserção privilegiada no mundo econômico globalizado, são as relações de civilidade entre as pessoas. Tanto quanto mais educados os povos, melhores se apresentam as relações comunitárias, com exemplos de convivência ajustada e organização harmoniosa. Quando o limite é estabelecido pelo egoísmo, pela individualidade, pelo desrespeito ao próximo, surgem os inevitáveis conflitos que nem sempre são resolvidos da melhor maneira.

Se há um ponto que aufere adequadamente o grau de civilidade, o trânsito é onde melhor se revelam as qualidade da sociedade. No Brasil, é nas ruas que o povo mostra a sua face mais desorganizada, calcada no improviso e na falta de disciplina. Ostentando estatísticas altíssimas de acidentes, acumulando vítimas em hospitais, colecionando histórias de conflitos e agressões provocados pelo estresse da desorganização, o trânsito no País é uma verdadeira guerra que se trava todos os dias.

Os conflitos entre motoristas e pedestres são constantes. A demarcação de áreas de estacionamento proibido ou reservado para deficientes ou idosos é frequentemente ignorada e as faixas de pedestres em muitos casos parecem mero adorno pintado nas vias. Os semáforos são obedecidos apenas à custo de ameaça de multas e ainda assim os avanços proibidos são as maiores infrações cometidas no município.

O que é necessário é um banho de civilidade para todos os cidadãos. Um processo que começa com um trabalho educativo sério, abrangente e constante, que invada as escolas para formar uma geração mais consciente. É preciso que os motoristas e pedestres sejam motivados a comportamento educado e de respeito, na busca real de uma convivência pacífica. E as autoridades de trânsito devem estar atentas ao cumprimento efetivo das regras estabelecidas, promovendo correta sinalização, adequação de vias, organização de estacionamentos, de modo que a colocação de radares e as multas aplicadas tenham verdadeiro sentido disciplinador, afastando a sensação de que tudo tem um sentido de apenas manter arrecadação para uma estrutura que se mostra ineficiente para ordenar o sistema.

(Correio Popular, 17/2)

Cotidiano n. 2


Hay dias que no sé lo que me pasa
Eu abro meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
e acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho meu violão

Acordo de manhã, pão com manteiga
e muito, muito sangue no jornal
aí a criançada toda chega
e eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
quem sabe nosso dia vai chegar
e rio porque rico ri à toa
também não custa nada imaginar

Aos sábados em casa tomo um porre
e sonho soluções fenomenais
mas quando o sono vem a noite morre
o dia conta histórias sempre iguais

Às vezes quero crer, mas não consigo,
é tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: "Escute, amigo,
se foi pra desfazer por que é que fez?"

(Cotidiano n.2 , Toquinho e Vinícius)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Recursos e embaraços processuais


Quando a sociedade se estrutura em todos os níveis, estabelece os parâmetros que determinarão as formas de relacionamento, a administração de contendas e as maneiras de estabelecer sanções a quem apresentar conduta incompatível com os padrões instituídos. A aplicação da justiça se faz através de um código legal colocado na forma de leis e também pela moral entendida como o consenso do que é aceitável como forma de comportamento.
Na maior parte dos países, o sistema judiciário é organizado para aplicar a justiça seriamente, estabelecendo penas depois de preservados todos os direitos de defesa e argumentação. A rotina de investigação, formação de inquérito, acusação formal, julgamento e aplicação de punição se dá dentro de um processo detalhado pela Constituição, garantindo a todo cidadão o seu amplo direito de contestação.


No Brasil, o sistema se mostra distorcido diante da crônica falta de estrutura do Poder Judiciário, onde faltam juízes, pessoal administrativo e as condições de trabalho fazem com que os processos se arrastem indefinidamente, criando situações que, em alguns casos extremos, beiram o inacreditável, penalizando acusados, retardando a invocação do direito, postergando indenizações, deixando pendências que tendem a se agravar diante da omissão da Justiça.

Uma das situações mais graves diz respeito à prisão de acusados que aguardam a decisão final da Justiça. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu recentemente que todo condenado tem, em princípio, o direito de permanecer em liberdade até que seja julgado o último recurso possível. A súmula do STF confirma o teor do Artigo 5º da Constituição Federal, que visa resguardar o direito de ninguém cumprir pena até que a decisão de culpa seja definitiva e irrecorrível.

A decisão foi saudada por especialistas em Direito, que colocam o direito individual acima de qualquer conveniência. É verdade que muitas distorções serão corrigidas, especialmente as promovidas pela própria lentidão da Justiça, que faz com que muitos processos se arrastem por anos sem que haja o desembaraço do julgamento final, contrariando interesses de todas as partes. Há mesmo casos relatados de presos que excederam o período da pena enquanto aguardavam o pronunciamento oficial.

Se, por um lado, a decisão reafirma princípio constitucional, deve-se relevar também que a situação cria embaraços evidentes, deixando criminosos livres enquanto houver recursos e advogados bem pagos para explorar todos os escaninhos da legislação para adiar sentenças. O importante é que a reafirmação do preceito constitucional seja acompanhada por uma revisão radical da estrutura do Judiciário brasileiro de forma a fazer frente à demanda de ações, dando respaldo a todas as instâncias necessárias para a preservação do direito, mas sem ceder à acomodação de admitir trânsito incompatível com a urgência que todo caso exige assim que chega às barras dos tribunais.

(Correio Popular, 16/2)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Saudade de um tempo que não volta


Contar a história da criação de um jornal como O IMPACTO não é tarefa fácil, especialmente para quem esteve diretamente envolvido com as situações. Por mais isenção que se busque, os fatos serão relatados sob a ótica única do autor, privilegiado em poder lançar sobre o papel a sua interpretação do que aconteceu.

Longe de mim, portanto, pretender registrar parte da história da imprensa de Mogi Mirim, até porque muito já se perdeu nestes anos e as lembranças nos surgem eivadas de versões atualizadas por vagas conversas que nos remetem à tradição oral. Talvez deste material se possam tirar importantes lições de ética, estratégias de trabalho ou apenas mais um relato de como se fazer jornalismo no interior. Se ao menos servir como referência de uma época particularmente interessante para os contemporâneos, já terá valido o esforço.

Em uma tarde fria de junho de 1981, eu me dirigia ao prédio onde funcionara por muitos anos a Adap, fábrica de móveis de aço no distrito industrial de Mogi Mirim. Ali seria realizada a VI Faibam e eu, como repórter do jornal A Comarca, estava preparando a cobertura do evento. O antigo prédio estava abandonado e os estandes eram construídos em uma grande área coberta. Aquele era um dia especial, realmente. Após entrar no recinto da exposição, subindo uma rampa de cimento para o pátio onde se montavam os estandes, encontrei Mauro de Campos Adorno Filho no espaço reservado para a Viação Santa Cruz, atarefado na organização da feira. Tratamos de alguns assuntos mais imediatos e, antes de sair, lembro de ter dito a ele, com um entusiasmo que ainda posso sentir: "Vou montar um jornal em Mogi Mirim. Só não sei como, nem quando". Lembro ainda a expressão de surpresa do Mauro antes de me afastar, mas naquela hora tive a certeza de que uma semente tinha sido lançada em solo fértil.

Nosso primeiro encontro de trabalho foi no bar do Posto do Ari, no alto da avenida Padre Roque. Sentamos no final de tarde em uma mesa e falamos longamente da idéia de fazer um jornal popular, com uma abordagem inteiramente voltada para a valorização das coisas de Mogi Mirim, sem deixar de lado a polêmica, a denúncia, cumprindo rigorosamente o propósito de sermos porta-vozes da comunidade. Isto ficou bastante claro desde o primeiro editorial.

Hoje, tantos anos passados, vejo o rosto de cada um dos companheiros que dividiram conosco as realizações, as alegrias e as muitas dificuldades. Tantos que já se perderam no tempo. E me resta o direito de sentir orgulho de ter visto este nosso filho andando pelas próprias pernas, traçando o seu próprio destino, cumprindo seu ideal. Mas, como dizia Khalil Gibran, "vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma". Assim, resta-nos apenas o consolo de termos legado a Mogi Mirim este fruto bendito.

(Texto adaptado do original escrito em 2006, pelos 25 anos de fundação de O Impacto, de Mogi Mirim)

Hold on

Justice to the left of you
Justice to the right
Speak when you are spoken to
Don't pretend you're right
This life's not for living
It's for fighting and for war
No matter what the truth is
Hold on to what is yours

Jigsaw puzzle traitors
Set to spill the beans
Constitution screw up
Shattering the dreams
Blood flows in the desert
Dark citadels burning too
Watch! Look over your shoulder
This one is strictly for you

Hold on - Hold on
Wait maybe the answer's
Looking for you

Hold on - Hold on
Wait! Take you time
Think it through
Yes! I can make it through


Hold on - Hold on
Sunshine shine on you
See it through

Talk the simple smile
Such platonic eye
How they drown in incomplete capacity
Strangest of them all
When the feeling calls
How we drown in stylistic audacity
Charge the common ground
Round and round and round
We living in gravity

Shake - We shake so hard
How we laugh so loud
When we reach
We believe in eternity
I believe in eternity

Hold on - Hold on
Wait - Take your time
Sunshine shine on through
See it through

Hold on - Hold on
Wait - Maybe a chance
Sunshine shine on through
Is looking for you
Sunshine shine on you

Hold on - Hold on
Hold on - Hold on
Sunshine - Shine on shine on you
Sunshine - Shine on through

Maybe the answer's looking for you

Tradução livre

É justiça à sua esquerda
É justiça à direita
Fale quando falarem com você
E não finja que está certo
Essa vida não é pra se viver
É para lutar e para as guerras
Não importa qual seja a verdade
Aguarde o que é seu

Os traidores te confundem
Prontos para dar a rajada
A constituição é desordenada
E detona todos os sonhos
O sangue escorre no deserto
As cidadelas tenebrosas queimam
Cuidado, olhe por sobre os ombros
Esta foi especialmente pra você

Aguarde, aguarde
Esperar talvez seja a resposta
Procurando por você
Aguarde, aguarde
Espere, dê um tempo
Pense além

Sim, eu posso ir além

Aguarde, aguarde
A luz do sol brilha em você
Aguarde, aguarde
A luz do sol brilha em você
Veja além

Diga que um simples sorriso
É um olhar platônico
Como ele se afoga em uma capacidade incompleta
É um estranho para todos
Quando o sentimento chama
Como nos afogamos numa audácia estilística
Carregada de lugares comuns
Toda vez, toda vez, toda vez
Vivemos numa gravidade

Balançamos, nós balançamos tão forte
Como rimos tão alto
Quando alcançarmos isso
Acreditaremos na eternidade
Eu acredito na eternidade

Aguarde, aguarde
Espere, dê um tempo (a luz do sol brilha além)
Veja além
Aguarde, aguardeEspere,
talvez uma chance (a luz do sol brilha além)
Esteja lhe procurando (a luz do sol brilha além)

(Hold On, Yes)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Confraternização ou humilhação?


A sociedade se transforma a cada geração, incorporando novos hábitos às tradições que se modificam ao sabor das novidades e da forma como as pessoas se relacionam. Cabe a cada grupo determinar as vantagens de estabelecer comunicação em todos os níveis, respeitando-se os limites do bom senso e da convivência saudável.

Uma tradição que insiste em permanecer é o trote universitário, rito de passagem que marca a entrada de jovens em cursos superiores, que através dos anos assumiu várias características e formatos, que descambaram para a insignificância de comemorações absurdas a partir de cortes de cabelo e pintura de calouros, ou para a violência da agressão física, da humilhação, de barbaridades como exposição a produtos tóxicos, bebedeiras que, em alguns casos, provocaram até a morte. O caso do jovem Edison Tsung Chi Hsueh, calouro de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que morreu afogado durante churrasco em festa de calouros, há dez anos, tornou-se emblemático e símbolo de um movimento pelo fim dos abusos.

Ao início de mais um ano letivo, os trotes voltam ao noticiário, mostrando no geral estudantes sob o domínio de veteranos, obrigados a esmolar em semáforos para custear bebidas, quando não obrigados a ingerir álcool ou expor-se de forma vergonhosa com as roupas ao avesso ou rasgadas. Mas choca ainda mais quando o noticiário traz notícias de violência desmedida para o que deveria ser uma confraternização, ainda que caricata. Os casos de agressões a jovens de universidades de Leme, Santa Fé do Sul e Goiânia apenas exemplificam o que acontece em escala muito maior, talvez sem consequências mais graves, mas igualmente inaceitáveis em se tratando de pessoas presumivelmente cultas e educadas, tornadas elite por terem acesso a um nível de escolaridade que atinge apenas 2% da população brasileira.

O objetivo de integração e aproximação entre calouros e veteranos dificilmente é promovido com ações desta natureza. Pelo contrário, apenas acirra disposições de ânimo para que o círculo de violência se renove a cada ano, assumindo contornos que fogem do controle. Mesmo quando as faculdades gradativamente vão assumindo a responsabilidade e iniciativa de promover ações solidárias e verdadeiramente educativas, alguns poucos grupos resistem e insistem na insanidade de achacarem os novos colegas.

Não se iludam os especialistas que pregam o fim de toda e qualquer manifestação pelo acesso à faculdade. O caráter festivo dos adolescentes e a sensação de mais uma importante etapa cumprida na vida são motivos mais do que justificáveis para a comemoração. O necessário é que a faculdades estejam sempre atentas para conter os abusos na esfera de sua influência, os pais exerçam seu papel protetor e orientador, e os jovens assumam seu direito de celebrar uma vitória particular de modo alegre, festivo, seguro e respeitoso.

(Correio Popular, 15/2)

Verdades e mentiras

Responda depressa quem se acha esperto
Quem sabe de tudo que é certo na vida
Porque que a cara feroz da mentira nos pode trazer tanta felicidade
Porque que na hora da grande verdade às vezes o povo se esconde se esquece

Verdade....esconde esconde, jogo de esconde esconde tudo se esconderá
Mentira.... esconde esconde, jogo de esconde esconde tudo se esconderá
Verdade, mentira
Verdade ou mentira

Às vezes é sua inimiga a verdade
Às vezes é sua aliada a mentira
Aquilo que a vida nos dá e nos tira
Não anda de braços com a sinceridade
Por onde será que é mais curto o caminho
Qual deles mais sobe
Qual deles mais desce

Tem gente que jura que a vida é virtude
Tem gente que faz o bem por falsidade
Não há no universo uma força que mude
O dom da mentira, o som da verdade
A lábia do sábio, a arma do rude
São Deus e o Diabo unidos na prece

Verdade....esconde escondejogo de esconde escondetudo tudo se esconderá
Mentira.... esconde escondejogo de esconde escondetudo tudo se esconderá
Verdade, mentira
Verdade ou mentira

(Verdades e mentiras, Sá e Guarabira)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Encontrada outra granada na RAC


Uma segunda granada foi encontrada hoje no prédio da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), na Vila Industrial, em Campinas. Na noite do dia 21 de janeiro, uma janela da sede do grupo foi quebrada e uma granada foi encontrada na calçada ao lado com o pino retirado, mas ainda travada. O segundo artefato foi encontrado por volta das 15h, escondido sob uma mesa na mesma sala onde foi registrado o primeiro ataque. Provavelmente ele foi lançado no local também no mesmo dia 21.

A sala estava fechada desde o primeiro ataque e teve as janelas arrancadas e a parede fechada com alvenaria por questões de segurança. A granada foi encontrada durante a limpeza da sala e, logo depois, o prédio foi evacuado. A Polícia Militar foi acionada e equipes do Garra estiveram no local para retirar a bomba e levá-la para a desativação. Assim como a primeiro encontrado na calçada, o artefato teve o pino retirado, mas continuou travado e não explodiu.
Os funcionários da RAC tiveram que ficar na rua enquanto a granada era retirada pelos policiais. O trabalho só foi retomado após as 17h. A RAC publica os jornais Correio Popular, Diário do Povo, Notícias Já, revista Metrópole e as gazetas de Piracicaba, Ribeirão e Cambuí, e o portal Cosmo On Line.

(Informações do Cosmo on Line. Foto AAN)

O papel do lixo

Faça-se justiça. Já no final dos anos 70, o então vereador Décio Mariotoni subia freqüentemente à tribuna da Câmara Municipal e levantava temas polêmicos e – por incrível que possa parecer – modernos para a época. Seu discurso falava com insistência de temas como fluoretação da água, políticas ambiental e de saúde pública, e especialmente de usinas de tratamento de lixo urbano. Chegou a comandar comissões que visitaram experiências industriais interessantes neste setor, mas suas idéias invariavelmente caíram no descaso das administrações. Muitos colegas seus deveriam penitenciar-se por não anteverem a urgência de solução de tais problemas nos dias de hoje.

O lixo urbano é uma questão política, antes de mais nada. Deixá-lo na rua é um contra-senso; investir nesta área, acredita-se que seja má política eleitoral. E assim, a microrregião deixa de beneficiar-se da possibilidade de um projeto comum por histórica falta de interesse e de diálogo entre os prefeitos.

As grandes concentrações urbanas fazem aumentar o lixo. No Brasil, hoje, produz-se mais de 240 mil toneladas de lixo por dia. Os lixões a céu aberto recebem 76% deste volume; 13% são depositados em aterros controlados, 10% em aterros sanitários e apenas 10% são compostados em usinas ou incinerados. Uma surpreendente falta de cultura e de compromisso com a saúde pública, diante de um problema que tem horas contadas para eclodir.

Longe da discussão sobre os custos da coleta de lixo e o respectivo repasse deste encargo à população, afirmo que o problema é muito maior que isto: há anos, falta aos administradores desta Mogi Mirim uma política para o lixo. Uma abordagem corajosa que exceda a esquemas de simples recolhimento manual da sujeira produzida por uma sociedade consumista e o entulhamento precário em lixões que logo não comportarão mais nada.

Há alternativas de bom senso e exemplos inteligentes a serem imitados. Soluções não convencionais podem parecer complexas do ponto de vista operacional, mas servem como mote de geração de emprego e renda, com evidentes ganhos para o meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida. Vários projetos podem ser executados sem altos custos e o retorno social é facilmente avaliável.

Neste espaço não cabe discutir tais propostas, até porque são sobejamente conhecidas. Os esforços neste sentido é que são tímidos. A cooperativa de reciclagem de materiais, por exemplo, funciona, mas tem pouca adesão da população, o que restringe o seu alcance social e não satisfaz os envolvidos, que reclamam de melhores resultados financeiros.

Se o município hoje não suporta mais os custos de manuseio do lixo doméstico - que exige cada vez mais programas de reciclagem, coleta seletiva e usinagem - deve espelhar-se em projetos bem sucedidos e fazer uma análise crítica da eficiência do sistema. Afinal, a população não pode concordar com acondicionar indefinidamente verbas públicas em sacos de plástico e colocar na calçada da rua dr. José Alves.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Serra do luar


Amor vim te buscar em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento

Eu só voltei pra te contar
Viajei, fui pra Serra do Luar
Eu mergulhei, ai, eu quis voar
Agora vem, vem pra terra descansar

Viver é afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora, a todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro


Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo

(Serra do Luar, Walter Franco)

Desrespeito em call centers


O direitos dos consumidores ainda é a melhor e mais forte ferramenta para regular as relações entre empresas comerciais, produtores e prestadores de serviços. Com a maior consciência da responsabilidade e conveniência de dar atendimento amplo a seus clientes, as empresas apressaram-se em equipar seus setores ligados ao relacionamento externo, criando um sistema que demonstra respeito e atenção.

Nos primeiros passos, o diferencial colocava as primeiras empresas como avançadas no atendimento a seu público, distribuindo dividendos de fidelização da clientela, retorno de contratos e vendas, maior confiança depositada nos portfólios das empresas e um alto grau de satisfação por conta do pós-venda, garantias oferecidas e agilidade de atendimento. Os serviços de call center espalharam-se como a porta de entrada para o contato com as empresas, que incorporaram rapidamente as inovações tecnológicas e os recursos modernos de comunicação.

Mas faltou competência e atenção redobrada com relação aos direitos dos consumidores, que de uma hora para outra passaram a ser altamente dependentes destes serviços para a aquisição de bens e serviços, reclamações, cancelamento de contratos, agendas técnicas. Os abusos era evidentes a ponto de ser necessária a regulamentação em defesa dos clientes, obrigando as empresas a disporem de condições mínimas para garantir o respeito aos interlocutores. No final do ano passado, as novas regras entraram em vigor cercadas de certo ceticismo quanto à sua implantação de fato.

É certo que houve um recuo considerável nos abusos praticados pelas empresas, mas os problemas persistem seriamente. Segundo levantamento do Procon-Campinas e do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), ligado ao Ministério da Justiça, ainda são frequentes as reclamações pelo atendimento de forma abusiva, especialmente nos setores de telefonia, televisão a cabo, financeiro, energia, aéreo e rodoviário, os mais destacados nos registros oficiais de queixas.

Não há qualquer desculpa para os constantes deslizes de empresas, que acabam se tornando referências negativas sempre que o assunto é serviço de call centers. As novas regras que determinam tempo máximo para atendimento, além de limitar os encaminhamentos internos e dificuldades de acesso aos setores de requisições técnicas, cancelamentos ou esclarecimento de problemas de fatura, ainda estabelecem condições de funcionamento que atendam às requisições mínimas do direito dos consumidores.

Se, por um lado, os problemas decorrem do crescimento acentuado dos setores destacados, os investimentos também deveriam priorizar a normalização e ajuste dos serviços de atendimento por telefonia. Há que se considerar, ainda, que mesmo as estatísticas apresentadas podem representar apenas uma ponta do enorme iceberg que é o problema dos call centers, onde o desrespeito aos consumidores para na constante irritação dos clientes que não chegam a formalizar seu inconformismo com a desatenção das empresas.


(Correio Popular, 11/2)

Vaidade de vaidades

Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?

Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.

Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois.


(Eclesiastes 1:1-11)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Má política traduz 'vícios de amizade'


Praticamente não há mais surpresas na vida política brasileira. A sucessão de escândalos começa a se tornar previsível, como se fosse possível apostar em quem será o próximo protagonista de alguma denúncia de corrupção ou malversação do dinheiro público. Candidatos não faltam para serem apontados como os novos malfeitores, tantos políticos envolvidos em enriquecimento ilícito, violência, crimes eleitorais, além dos desmandos e abusos correntes da vida pública.

Torna-se emblemática a renúncia do recém nomeado corregedor da Câmara Federal, o deputado mineiro Edmar Moreira (DEM), envolvido em tantas irregularidades, há tanto tempo, que o desafio maior é entender como pode prosperar uma carreira política antecedida por golpes, empréstimos suspeitos, desvio de dinheiro. Não apenas um histórico político que o credencia somente diante de seus eleitores, mas junto a bancos e órgãos do governo que lhe dão cobertura e estendem privilégios.

Chama a atenção o imbróglio que resultou na renúncia do indicado a Corregedor e segundo vice-presidente da Câmara. Não bastasse a extensa lista de irregularidades nas contas particulares e de empresas administradas pelo deputado e sua família, ressaltou o castelo medieval de 36 suítes construído em São João Nepomuceno, em Minas Gerais, avaliado em R$ 25 milhões, que se configurou um escândalo para quem esteve à beira da falência em 2006 e foi socorrido pelo Banco do Brasil em operação que não levou em consideração todo o histórico de inadimplência. Somente em cartórios de São Paulo há 123 protestos correspondentes a dívidas de R$ 551 mil. Não faltam fraudes no INSS, cheques sem fundo, protestos em nomes das empresas da famílias, um quadro que desqualificaria a maioria dos cidadãos às linhas de crédito.

Quando a classe política carece de um esforço concentrado para limpar a sua tão degradada imagem, os eleitores são confrontados com informações que denunciam um quadro de verdadeiro compadrio que faz com que as picaretagens e absoluta falta de ética sejam acobertadas entre eles, a ponto dos líderes partidários e o próprio presidente da Câmara Michel Temer terem articulado uma saída "honrosa" para o deputado, quando deveriam colocá-lo na Corregedoria da Câmara, mas na qualidade de investigado. O próprio deputado cunhou a expressão "vício de amizade" para definir a relação entre parlamentares que impede a correta apuração de corrupção e gastos irregulares.

Longe de ser um exemplo único, o caso do deputado Moreira traz ainda um componente que inquieta a opinião pública. Mesmo diante de tantas evidências, documentos e passado comprometedor, tudo o que se discute hoje na esfera política é apenas o afastamento dos cargos relativos à mesa da Câmara, sequer se cogita um afastamento ou condenação por falta de decoro parlamentar. Com vícios de amizade como este, vai-se perpetuando a imagem de desfaçatez que hoje cobre de vergonha a política brasileira.


(Correio Popular, 10/2)

Reunião de bacana


Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão
Se gritar pega ladrão, não fica um

Você me chamou para esse pagode
E me avisou aqui não tem pobre
Até me pediu pra pisar de mansinho
Porque sou da cor eu sou escurinho

Aqui realmente está toda nata
Doutores, senhores até magnatas
Com a bebedeira e a discussão
Tirei a minha conclusão:

Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão
Se gritar pega ladrão, não fica um


Lugar meu amigo é a minha Baixada
Que ando tranquilo e ninguém me diz nada
E lá camburão não vai com a justiça
Pois não há ladrão e é boa a polícia

Lá até parece a Suécia bacana
Só se leva o bagulho e se deixa a grana
Não é como esse ambiente pesado
Que você me trouxe para ser roubado.

(Reunião de bacana, Exporta Samba)

You've got a friend

When you're down and troubled
And you need some loving care
And nothing, oh nothing is going right.
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest nights

You just call out my name, and you know wherever I am
I'll come running to see you again
Winter, spring, summer, or fall,
All you got to do is call
And I'll be there, yes I will
You've got a friend

If the sky above you
Should turn dark and full of clouds
And that old north wind should begin to blow
Keep your head together and call my name out loud now
And soon I'll be knocking upon your door

Hey, ain't it good to know that you've got a friend?
When people can be so cold
They'll hurt you and desert you.
They'll take your soul if you let them.
Oh yeah, but don't you let them.

(You've got a friend, Carole King)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Trote violento e cidadania


Há tantas dificuldades a serem superadas para ingressar em cursos de nível superior que o rito de passagem merece e deve ser marcado de forma definitiva na vida das pessoas, assim como a graduação final é uma etapa importantíssima que sempre é celebrada como o cumprimento de uma tarefa e início de uma temporada de maior responsabilidade pessoal, profissional e acadêmica.


O trote sempre teve o espírito de informalidade e quebra de padrões, transformando o acesso às faculdades em uma grande festa, uma comemoração que tinha por princípio entrosar os calouros com os veteranos, como preparando a introdução a uma vida acadêmica de muito trabalho e dedicação. As tradições de cortar cabelos, pintar o rosto dos novatos e descaracterizar as roupas remontam à Idade Média, quando os jovens camponeses eram admitidos em escolas dos nobres, não sem antes terem as roupas rasgadas no vestíbulo das instituições, cabelos cortados e serem cobertos de remédio para piolhos e parasitas, para que não contagiassem os filhos da nobreza.

As distorções não tardaram e o que deveria ser sempre uma atividade de congraçamento e boas-vindas se tornou brincadeiras de humilhação, de mau gosto, violência, agressões e, em casos mais dramáticos, morte. Os trotes passaram a ser mal vistos por parcela da sociedade e muitas instituições trataram de interferir na forma de comemorar, assumindo a responsabilidade sobre o que acontece neste período, mesmo fora dos campi. Os abusos aos poucos foram sendo substituídos por atividades inteligentes, de cunho social e comunitário, mesmo sem perder o caráter festivo e de confraternização.

Alguns nichos ainda resistem aos novos costumes. Ainda é possível ver jovens estudantes humilhando-se em semáforos, esmolando para a aquisição de bebidas alcoólicas para veteranos, em atitude que não tem o menor resquício de comemoração ou entrosamento. E persistem abusos, como o registrado na quarta-feira, quando um mendigo foi agredido por estudantes de Direito ao se aproximar do local onde era aplicado trote em calouros. Abusando da condição frágil da vítima, os alunos rasparam seu cabelo, sobrancelhas, ele teve braços e pernas pichados, dentadura quebrada e ainda suas roupas encharcadas de bebida.

Não há explicação ou justificativa para estes gestos, por mais inconveniente que a vítima possa ter-se mostrado pela dependência alcoolista. A condição de pretensa lucidez dos estudantes apenas agrava a intenção de agressão, mostrando um total desrespeito pelo ser humano, em ato demonstrativo de selvageria e péssimos costumes. A Polícia deve lidar com o assunto com a seriedade que a agressão requer e a instituição educacional rever seus critérios de disciplina, estabelecendo condições para que seus alunos usem o pretexto da volta às aulas para mostrar seu lado menos educado. É preciso despertar em todos a consciência de que festa não suprime os limites de civilidade e respeito.

(Correio Popular, 7/2)