segunda-feira, 25 de maio de 2009

Palavrão no alicerce da Educação


A educação formal dos brasileiros vive uma situação de dualidade, merecendo toda a atenção e projetos importantes para o resgate de sua importância, ao tempo em que apresenta situações críticas extremas, como o abandono de escolas, falta de materiais e professores, prédios depredados e alunos despreparados, saídos das salas de aula como alfabetizados funcionais. Não faltam projetos de reformulação do padrão de ensino, com a introdução de práticas pedagógicas de todas as vertentes, assim como arautos da modernização de um setor onde as deficiências são visíveis e os investimentos acanhados.

O Estado de São Paulo tem se destacado por iniciativas importantes na área da Educação, reconhecidas as enormes dificuldades impostas a discentes e docentes, com programas inovadores introduzidos nas salas de aula, ao passo de políticas públicas relevantes. Não são suficientes para minimizar os impasses registrados em escolas estaduais abandonadas, tampouco a má remuneração de professores e funcionários, mas há que se admitir avanços que têm servido de base até mesmo para outros estados onde os padrões escolares são dramáticos.

Para a opinião pública, graves deslizes acabam por afetar profundamente a seriedade do que se busca, como o programa Ler e Escrever, dedicado a oferecer material de leitura para os estudantes das escolas públicas, distribuindo livros como material didático a ser explorado por coordenadores pedagógicos. A distribuição absolutamente equivocada de 1.216 exemplares do livro Dez na área, Um na Banheira e Nenhum no Gol, uma coletânea de histórias em quadrinhos sobre temas relacionados a futebol assinada por vários autores de renome, é mais um fato que mostra o ponto a que pode chegar a irresponsabilidade no serviço público. Os livros, previstos para serem disponibilizados para alunos da 3a série do Ensino Fundamental, com idade em torno de nove anos, é cheio de palavrões e insinuações de situações de sexo.

O governador José Serra amarga com este episódio mais uma situação constrangedora. No mês de março, já virara notícia a distribuição de material didático na rede pública com erros crassos. Um livro didático de geografia teve 500 mil exemplares distribuídos com um atlas onde apareciam dois Paraguais. Oficialmente, os fatos não se relacionaram, mas a secretária de Educação foi afastada na semana seguinte em que apareceu em rede nacional minimizando em entrevista a gravidade do caso.

A reação ao mais recente episódio foi rápida. Os livros foram recolhidos, o erro admitido e fala-se em punição exemplar aos responsáveis pelo absurdo. Não se pode comprometer, contudo, a tentativa de aprimorar a qualidade do ensino e o esforço de oferecer material didático para os alunos. As falhas grosseiras como essas devem ser condenadas e as cobranças devem sinalizar a correção de erros ainda mais graves que ocorrem na definição dos quadros de carreira, remuneração de professores, infraestrutura dos prédios e falhas na alfabetização.

(Correio Popular, 25/5)

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