quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Misery


The world is treating me bad... Misery

I'm the kind of guy,
Who never used to cry,
The world is treatin' me bad... Misery!

I've lost her now for sure,
I won't see her no more,
It's gonna be a drag... Misery!

I'll remember all the little things we've done
Can't she see she'll always be the only one, only one.

Send her back to me,
'Cause everyone can see
Without her I will be in misery

(The Beatles, 1962)

Uma guinada bolivariana

Entre acertos e desacertos, dimensionados pelos críticos e simpatizantes, o governo Lula introduziu uma nova forma de governar, com ênfase populista, de discursos baratos e frases de efeito, que nem sempre evidenciam o que deveria ser um programa efetivo e claro de governo. Na pregação tosca, permeada de metáforas, os grandes debates nacionais ficam em segundo plano, uma situação sustentada apenas pela momentânea navegação da economia em céu de brigadeiro.

Se o Brasil apresenta mudanças sintomáticas e o presidente alcança altíssimos índices de aprovação, também é verdade que as posições políticas mais controvertidas e que exigem mais atenção não são percebidas totalmente. Em muitos setores, a política lulista deixa transparecer as verdadeiras intenções de seus mentores, que prudentemente jogam nos bastidores as partidas mais elaboradas. Um dos exemplos é a crescente bolivarização da política brasileira, articulada por seus assessores mais diretos e pela eminência parda de José Dirceu, principalmente.

Vários são os sinais da guinada brasileira no sentido de uma integração a um pífio projeto articulado pelo presidente Hugo Chávez, com profundas raízes na ilha de Cuba. A bolivarização da América Latina é um projeto exdrúxulo, por isso mesmo apoiado em retóricas fascistas e populistas, bem ao gosto do tiranete venezuelano. A recorrente discussão sobre a validade de prorrogação de mandatos presdenciais é uma constante que já aportou nos projetos políticos brasileiros. Rechaçada a hipótese, as cartas foram prudentemente recolhidas em favor de uma candidatura imposta pelo próprio presidente Lula ao seu partido.

O perfil das relações exteriores brasileiras mostra o quanto o País caminha no sentido inverso de um alinhamento de interesse econômico consubstanciado em apoios e reconhecimentos políticos. Emblemática a posição de abrir as portas ao governo tirano de Muhamad Ahmadinejad, para o qual as grandes nações viram as costas. O caso de Honduras também mostra um Brasil submisso aos extertores histriônicos chavistas,que rsultou em um impasse altamente inconveniente.

Pagar mais pelo gás boliviano que o consumidor brasileiro não consome é uma alta fatura que deverá ser explicada no futuro, quando se dissiparem as sombras do favoritismo de Lula. A inserção da Venezuela no desfalecido Mercosul foi um golpe de misericórdia no que poderia ser a formação de uma forte união. Permitir a ingerência de um vizinho que nada tem a oferecer como membro com poder de decisão, é um passo que pode colocar uma pá de cal no grupo.

Para arrematar, todas as tentativas de controle da opinião pública, estabelecendo amarras para os veículos que se oponham aos regime, são formas comuns em todos os países da região. E até no Brasil tentou estender os tentáculos de um controle da imprensa através de uma radical conferência, convocada pelo próprio governo para que a sua claque destilasse intenções de manipular e censurar o noticiário.

Mais que intenções, esses movimentos estão perfeitamente articulados e pode-se perceber suas raízes onde germina a semente de uma retrógrada e datada revolução bolivariana.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Essa mulher

De manhã cedo essa senhora se conforma
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Ah. como essa santa não se esquece de pedir pelas mulheres
Pelos filhos, pelo pão

Depois sorri, meio sem graça
E abraça aquele homem, aquele mundo
Que a faz assim, feliz
De tardezinha essas menina se namora
Se enfeita se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista
Isso tudo é muito bom

E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia qualquer dia
Entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quanto os homens enlouquece
Nessa boca, nesse chão

Depois parece que acha graça
E agradece ao destino aquilo tudo
Que a faz tão infeliz

Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em que esbarro toda hora
No espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz
Que acha tudo natural.

(Essa Mulher, Joyce/A.Terra)

O drama das chuvas


No exato instante em que representantes de todos os países se reuniam em Copenhague para discutir os efeitos das alterações climáticas e buscar um consenso que possa representar uma redução na emissão de gases poluentes na atmosfera, o Estado de São Paulo foi atingido por um nível extraordinário de chuvas, que levaram o caos a diversas regiões. Além das mortes trágicas, houve problemas sérios de alagamentos, deslizamentos, bloqueio de vias, interrupção de serviços, paralisação de serviços de transporte e comunicação, mostrando que a natureza consegue responder com vigor a todas as agressões perpetradas pelo ser humano.

O nível de precipitação foi considerado anormal por todos os especialistas, ainda que as mudanças violentas do clima venham sendo registradas com maior frequência. Os fenômenos climáticos incluem variáveis que se apresentam em ritmo diferente, que pode ser percebido por qualquer pessoa, que já não distingue períodos regulares em uma região onde as estações se sucedem sem alterações bruscas.

Não se pode atribuir os efeitos devastadores dos últimos temporais exclusivamente à questão do aquecimento global. A conclusão seria rasteira e pouco científica, pois até mesmo na desgraça há uma razoável sazonalidade que os estudiosos detectam. Pois a quantidade acumulada de chuva que se precipitou sobre a Capital paulista na terça-feira já não acontecera em 2007? Daí não se poder dizer que seria totalmente inesperada. Uma conjunção de fatores desfavoráveis culminou na tragédia registrada, desafiando a capacidade de gerenciamento dos governos, apressados em apresentar desculpas pelas falhas e jogar a culpa sobre a natureza inclemente.

Há que se reconhecer a gravidade da situação diante da imponderabilidade do clima, mas não se pode alegar que muitas providências podem ser antecipadas a partir de programas de prevenção a enchentes, isolamento de áreas de risco, atenção a ocupações irregulares, planejamento urbano que leve em consideração os períodos críticos de chuvas, a manutenção de canais de vazão da chuva - cada vez mais raros com o assoreamento de mananciais, entupimento de galerias e a dominação do concreto e asfalto no desenho das cidades.

O discurso recorrente de monitoramento de áreas com risco de enchentes, deslocamento de famílias, nada alivia o drama das famílias atingidas, que perdem seus bens, sua segurança e entes queridos. A consequência é fruto do desgoverno, da falta de ações objetivas para acabar com as enchentes que ocorrem com previsível regularidade. Para tanto, são necessários investimentos, competência, planejamento e atitude, e não apenas o inadmissível conformismo de apresentar as desculpas de praxe, culpar a natureza e esperar que as cenas trágicas e o drama das pessoas se repitam nos anos seguintes.

(Correio Popular, 11/12)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Amor é o Meu País

Eu queria, eu queria, eu queria
Um segundo lá no fundo de você
Eu queria, me perdera, me perdoa
Por que eu ando à toa
Sem chegar

Tão mais longe se torna o cais
Lindo é voltar
É difícil o meu caminhar
Mas vou tentar

Não importa qual seja a dor
Nem as pedras que eu vou pisar
Não me importo se é pra chegar
Eu sei, eu sei
De você fiz o meu País
Vestindo festa e final feliz
Eu vi, eu vi
O amor é o meu País
E sim, eu vi
O amor é o meu País

(O Amor é o Meu País, Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza)

De novo, e ainda, a corrupção


Os efeitos nefastos da corrupção impregnada no serviço público podem ser medidos na exata proporção da falta de recursos para o cumprimento dos pressupostos constitucionais de governos e administradores, historicamente alheios às necessidades elementares da população enquanto carreiam volumes enormes de verbas públicas para seus bolsos - isso quando usam os bolsos.

O aproveitamento de oportunidades em benefício próprio é inato ao ser humano. Todos, de uma forma ou outra, buscam auferir vantagens que possam representar poder, conforto, segurança, qualidade de vida, benefícios. A diferença está em obter benefícios de forma ética, legal, por mérito, e não apropriar-se do direito dos outros, fraudar situações favoráveis, vender-se ao ilícito, roubar descaradamente, na certeza de um sistema que privilegia a impunidade e ensina que o crime, muitas vezes, compensa.

A política brasileira passa por um momento de preocupante fragilidade em suas instituições. As constantes denúncias têm mostrado governantes e parlamentares envolvidos em sucessivas e cada vez mais descaradas situações de desvio de dinheiro público, em desavergonhada apropriação de recursos que notadamente fazem falta na recomposição de um sistema de saúde adequado, no suporte de uma reformulação da educação em todos os níveis, na geração de riquezas que impliquem em mais empregos e vagas no empreendedorismo, na mitigação das desigualdades sociais.

Para a maioria dos cidadãos, a situação é de desânimo e falta de perspectiva. A solução em grande parte poderia vir pela reformulação das práticas políticas, a partir de uma revisão e aperfeiçoamento do sistema representativo, da administração pública, dos sistemas de controle e fiscalização. O problema é que muitos desses instrumentos devem ser aplicados pelos próprios envolvidos, obviamente desinteressados em alterar o status quo de forma que lhes afete os privilégios.

Mais que isso, já se diagnosticou que os atuais políticos vivem numa aura de excepcionalidade, como se realmente cressem viver em um mundo diferenciado, distante das agruras e preocupações dos cidadãos comuns, investidos de um poder extraordinário que lhes garante segurança, estabilidade e impunidade. A convicção é de que eles não estão fora do alcance da lei, mas muito além das fronteiras da decência, do compromisso, da ética. Muitas já nem raciocinam dentro de parâmetros aceitáveis e nos limites de suas prerrogativas de representação.

O momento é de tomada de decisão por parte da sociedade, que já criou instrumentos para qualificação do voto, do incentivo à responsabilidade eleitoral. Vários sites de organizações não-governamentais oferecem subsídios para a triagem ética de candidatos e há movimentos que pretendem barrar preliminarmente aqueles que apresentarem antecedentes na vida pública e privada que os possam incriminar. A divulgação desses mecanismos e todo esforço de conscientização dos eleitores são um passo fundamental para combater a corrupção. Se não definitivo, ao menos é essencial.

I dreamed a dream

There was a time when men were kind
When their voices were soft
And their words inviting.
There was a time when love was blind
And the world was a song
And the song was exciting.
There was a time ...
then it all went wrong

I dreamed a dream in time gone by
When hopes were high and life worth living,
I dreamed that love would never die
I dreamed that God would be forgiving.

The I was young and unafraid,
When dreams were made and used and wasted.
There was no ransom to be payed,
No song unsung, no wine untasted.

But the tigers come at night,
With their voices soft as thunder,
As they tear your hope apart
As they turn your dreams to shame

He slept a summer by my side.
He filled my days with endless wonder,
He took my childhood in his stride,
But he was gone when autumn came.

And still I dreamed he'd come to me
And we would live the years together,
But there are dreams that cannot be
And there are storms we cannot weather.

I had a dream my life would be
So different from this hell I'm living
So different now from what it seemed
Now life has killed the dream
I dreamed.


Eu Sonhei um Sonho

Houve um tempo em que os homens eram gentis
Quando suas vozes eram suaves
E suas palavras convidativas
Houve um tempo em que o amor era cego
E o mundo era uma música
E a música era excitante
Houve um tempo...
e de repente tudo ficou errado

Eu sonhei um sonho em um tempo passado
Quando as esperanças eram grandes e a vida valia ser vivida
Eu sonhei que o amor nunca acabaria
Eu sonhei que Deus seria misericordioso.

Eu era jovem e não tinha medo
Quando os sonhos eram realizados e usados e jogados fora
Não havia resgate a ser pago
Nenhuma música sem ser cantada, nem vinho não degustado.

Mas os tigres vêm à noite,
Com suas vozes suaves como trovão,
Enquanto eles despedaçam sua esperança
Enquanto eles tornam seus sonhos em vergonha

Ele dormiu um verão ao meu lado.
Ele preencheu meus dias com maravilhas sem fim,
Ele levou minha infância em seu passo
Mas ele se foi quando o outono veio.

E ainda assim eu sonhei que ele voltaria para mim
E que viveríamos os anos juntos,
Mas existem sonhos que não podem ser sonhados
E existem tempestades que não podem passar.

Eu tive um sonho que minha vida seria
Tão diferente deste inferno que eu vivo
Tão diferente agora do que parecia ser
Agora a vida matou o sonho
Que eu sonhei.

(I Dreamed A Dream, de Les Miserables)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Violência que não cabe no esporte

Os últimos finais de semana foram marcantes para o esporte brasileiro. Poucas vezes um torneio das dimensões do Campeonato Brasileiro de futebol conseguiu auferir tanto interesse e entusiasmo de torcedores, atraindo uma audiência extraordinária para as rodadas finais. Foram momentos decisivos para diversos clubes com verdadeiras chances de chegar ao título máximo do país, outros disputando a classificação para outros torneios, ou ainda a luta contra o rebaixamento, em sucessão de jogos que mexeram com a emoção dos torcedores. Mesmo para aqueles pouco afeitos ao esporte, não faltou o interesse ou curiosidade.

As rodadas decisivas suscitaram disputas intensas e acirraram a rivalidade entre as torcidas, normalmente colocadas em situação de confronto. E não faltaram também as lamentáveis cenas de violência que estão se tornando rotineiras em dias de jogos. De uma forma inusitada, o que aconteceu em Curitiba chocou a todas as pessoas pela forma bárbara e insana com que alguns torcedores depredaram o estádio, agrediram árbitros, jogadores, auxiliares, em atos de bandidagem que não encontram o mínimo respaldo na razão. Ao ver concretizado o rebaixamento de seu time para a Série B do próximo ano, cerca de 200 torcedores invadiram o campo para protagonizar cenas de absurda violência, deixando um rastro de destruição, feridos e bagunça, dentro e fora do estádio.

Nem mesmo a comemoração pela conquista do título de campeão foi amena. Cenas brutais de brigas entre torcedores flamenguistas mostram que a intolerância e o descontrole não dependem dos resultados dentro de campo, mas estão nas mãos de torcidas que mais parecem quadrilhas que frequentam os jogos apenas como pretexto para extravasar seu caráter violento.

De todos os esportes que podem ser motivadores, o futebol é certamente o que envolve mais comunidades ao redor de todo o mundo, criando gerações sucessivas de abnegados torcedores e propiciando uma estrutura global que oscila entre a paixão e um mundo de negócios bilionários. O meio esportivo jamais obteve tamanha projeção quanto atualmente, com os clubes empresas, os contratos fabulosos, a venda de equipamentos, publicidade e direitos de transmissão, numa roda financeira acima de muitos empreendimentos. O futebol é simultaneamente a alegria e um grande negócio.

Diante das barbaridades repetidas neste final de semana, nenhum aspecto subsiste inalterado. Não pode haver alegria diante de uma torcida descontrolada, insana, violenta e incapaz de pensar, colocando em risco os árbitros, jogadores, auxiliares, funcionários dos clubes, jornalistas, as torcidas, todos aqueles que buscam o verdadeiro espírito do esporte. Tampouco o caráter profissional e empreendedor resiste a fatos lamentáveis como esses, que devem ser banidos dos estádios com medidas de segurança e controle.

Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Ao lado de um tipo qualquer

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser

Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação

Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, é despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor

(Nervos de aço, Lupicínio Rodrigues)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Os desafios de Copenhague


As atenção de boa parte da humanidade estarão voltadas para os ares de Copenhague, onde a partir de hoje importantes decisões poderão ser tomadas em defesa do futuro da humanidade. A Conferência do Clima, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU) será aberta com intensa expectativa de governantes e ambientalistas, que se digladiarão para buscar alternativas que contemporizem as necessidades de desenvolvimento e o controle da emissão de gases poluentes na atmosfera.
As manifestações antecipadas não são exatamente otimistas. As metas preconizadas são difíceis de serem atingidas sem investimentos que envolvem trilhões de dólares, ao passo em que ninguém abre mão de seu projeto próprio de desenvolvimento. Os países chegam divididos ao evento de onde se pretende extrair um novo compromisso entre as nações que venha substituir o Protocolo de Kyoto, que se extingue em 2012. Aos poucos, com a proximidade da assinatura do documento final, as expectativas vão se concentrando na meta plausível de limitar o aquecimento global ao acréscimo de dois graus centígrados no gradiente térmico global até 2035.
Os sinais não são os melhores. Concomitantemente com a expressão da preocupação ambientalista, o maior entrave está na equação desenvolvimento/desenvolvimento/geração de energia, presente nos países emergentes, em especial Brasil e China, por motivos diversos. O gigante oriental, em franco processo de integração na economia global, deverá responder sozinho pelo aumento de 20% da emissão de dióxido de carbono até 2030. A Índia chega à Conferência com a disposição de não ceder nenhum ponto percentual na emissão de gases poluentes, alegando o desafio de estender a fontes de energia por todo o país.
O Brasil chega a Copenhague com uma meta ambiciosa de redução de 35% da emissão, calcada em projetos de contenção do desmatamento, substituição de fontes de energia por combustíveis renováveis e políticas de monitoramento de áreas protegidas. Um discurso oportuno para uma plateia sedenta de iniciativas ambientalmente sustentáveis. Faz parte do jogo de cena do presidente Lula, recebido com pompa e circunstância em seu périplo global, mas que chega à mesa de negociação com uma revisão profundo das estimativas iniciais.
O momento é crucial para as políticas ambientais em todo o mundo. O Protocolo de Kyoto representou um avanço, mas foi solenemente ignorado pelas grandes potências poluidoras, em primeiro lugar os Estados Unidos. Agora, os países emergentes querem apresentar a conta e exigir mais que a assinatura de um compromisso ou pacto de intenções. O resultado ideal é que todos os signatários saiam do fórum com a obrigação de reagir contra a degradação do planeta e dispostos a financiar e repassar recursos para os países mais pobres adotarem tecnologia que impeça o aumento da poluição, mas permita a pavimentação sustentável de seu crescimento.

Meias verdades em Brasília

Ninguém é inocente a ponto de supor que o problema da corrupção na política brasileira teve início apenas nos últimos anos e se encerrou após o desvendamento do emblemático escândalo do mensalão, que ficou marcado como um episódio que despertou a consciência dos cidadãos brasileiros, raramente afeitos ao debate das questões institucionais. A manipulação de verbas é uma praga profundamente arraigada na vida pública, envergonhando a nação, estarrecida diante de tanta corrupção disseminada.
A interminável sucessão de escândalos na esfera política deixa marcas indeléveis no caráter dos brasileiros. Não é possível tanta safadeza e desonestidade sem que nada resulte em punição exemplar, que os governantes e parlamentares possam permanecer em seus cargos com tamanha desfaçatez, zombando da justiça, do espírito de cidadania de seus representados, fazendo da vida pública um ambiente nauseante e impróprio. A corrupção mina a tolerância dos cidadãos, afeta o caráter das gerações, sedimenta o sentimento de impotência contra os espertos e da inutilidade da honestidade.
É surpreendente a capacidade dos políticos se renovarem. Quando se pensa ter chegado ao fundo do poço, descobre-se novo escândalo e que ainda há muito o que descer. As tramas são infindáveis e as revelações se sucedem acrescentando novos personagens a antigas maracutaias e costumes. Como na mais recente denúncia que tem por palco Brasília, o espelho exemplar da vida política brasileira em todos os níveis. Ali, cristaliza-se o sistema pérfido de assacar contra o erário de todas as formas, beneficiando aqueles que já acumulam benesses imerecidas.
O envolvimento do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda em esquema de pagamento de propinas de empreiteiras joga mais lama sobre a política local. Não apenas o gabinete do governador, mas assessores, membros do secretariado, deputados distritais estão envolvidos em recebimento de dinheiro de forma escandalosamente venal, servido aos maços, escondidos em bolsas, meias e cuecas. O alcance da corrupção coloca em xeque todo o processo sucessório em caso da renúncia ou impeachment de Arruda, por envolver seus sucessores em cascata.
O que mais escandaliza é a reação hipócrita dos acusados. As câmeras revelaram risos marotos, absoluta falta de vergonha, gestos descontraídos, como se tudo não passasse de um ato normal, um encontro de compadres, uma troca de presentes, um pagamento devido. A corrupção é uma chaga imensa corrói a epiderme institucional brasileira, alastrando-se de forma preocupante. Os políticos perderam a noção do que seja moral, já não sabem o que é normal fora do falso universo em que se confinam em valores aéticos. As desculpas esfarrapadas - culminadas pelas declarações contemporizadoras de praxe de Lula - revelam apenas a inaceitável realidade de que a corrupção, queiram ou não, é parte vital do organismo político desmembrado a partir de Brasília.

Wave


Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar...

(Wave: Tom Jobim)

Exageros contra fumantes

Todos os esforços que envolvem a preservação da saúde das pessoas são bem-vindos. A humanidade ainda está longe de ter uma percepção racional da necessidade de promoção do bem estar de cada pessoa como fator essencial e estabelecer políticas públicas consistentes que garantam este direito. Sem condições de bancar um atendimento de saúde adequado, o cidadão comum brasileiro é hoje refém dos serviços públicos que assumidamente não dão conta de atender à demanda e prover um sistema justo, universal e de qualidade a todos, jogando a maioria nas filas dos pronto-socorros, hospitais e postos de saúde à espera de uma simples consulta ou exame.
No setor de prevenção, alguns esforços se mostram mais eficientes e menos onerosos, despertando interesse de governantes e administradores pelos possíveis dividendos eleitorais. Ainda assim, são importantes peças para o resgate do direito inalienável à informação e recursos preventivos. Uma dessas frentes é justamente a cruzada antitabagista, que pretende incutir uma nova mentalidade nas pessoas, relativa aos efeitos nocivos do consumo de cigarros, educando e restringindo as facilidades para fumantes.
Neste teor, tramita pelo Congresso Nacional o projeto de lei que proíbe em todo o país o fumo em ambientes fechados de uso comum, atingindo bares, restaurantes, boates e shoppings. O exemplo vem de vários Estados onde já existe lei regulamentadora. São Paulo foi um dos primeiros e certamente o que adotou a medida mais rigorosa e criticada, banindo radicalmente o uso de cigarros em quaisquer ambientes, negando qualquer possibilidade de se criarem áreas reservadas para fumantes. O projeto de lei nacional prevê essa alternativa.
Alheio ao bom senso, o governador José Serra não discute que possa haver espaços em bares, restaurantes e empresas privadas para fumantes, o que torna sua versão da lei de uma radicalidade absurda. Bastaria criar condições ideais para que os não fumantes não fossem atingidos em seu direito de não serem incomodados com a fumaça indesejada, através de normas e padrões de construção.
Diz-se que quando se eleva uma voz em um ambiente, logo todos estão gritando. Assim tem sido o efeito da draconiana lei paulista; alguns cidadãos sentiram-se no direito de bradar e exigir seus direitos em bares e restaurantes, em atitudes desrespeitosas e acima do que preconiza a lei, portando-se como arautos e fiscais de uma nova moral descabida.
De qualquer maneira, os brasileiros logo se adaptam e até os excessos iniciais vão sendo superados, como o da primeira multa aplicada a casa noturna em Campinas, mesmo que os fumantes estivessem na calçada, ou da PUC de São Paulo, multada duas vezes por conta de estudantes que acenderam cigarros no pátio, e que corria o risco de ser fechada. Espera-se que, com a aprovação da lei federal, prevaleça o bom senso e todos os interesses possam ser atendidos, afastando o caráter fascista de quem se outorga o direito de impor soluções radicais em questões de hábitos e costumes, que costumam de resolver com serenidade.

Teresa da praia


- Lúcio!
Arranjei novo amor no Leblon
Que corpo bonito, que pele morena
Que amor de pequena, amar é tão bom!

- O Dick!
Ela tem um nariz levantado?
Os olhos verdinhos bastante puxados,
Cabelo castanho e uma pinta do lado?

- É a minha Teresa da praia!
- Se ela é tua é minha também
- O verão passou todo comigo
- O inverno pergunta com quem

- Então vamos a Teresa na praia deixar
Aos beijos do sol e abraços do mar
Teresa é da praia, não é de ninguém
- Não pode ser tua,
- Nem tua também

- Teresa é da praia,
Não é de ninguém

(Teresa da Praia: Tom Jobim / Billy Blanco)