segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Beatles em versão remasterizada


Certa vez um repórter perguntou a George Harrison se ele acreditava que uma banda de sucesso na época poderia ser considerada como "os novos Beatles". O guitarrista disse que, se depois de 30 anos, ainda estivessem falando deles, talvez fosse possível uma comparação. A verdade é que os rapazes de Liverpool, mesmo depois de 40 anos do último acorde que tocaram juntos, conseguem ser uma unanimidade. Sua obra é única e poucos artistas modernos alcançaram o panteão de reconhecimento dos quatro.

O lançamento de mais material sobre a banda joga uma sombra de golpe de marketing sobre o mitológico grupo. Mas ainda é mais do que isto. Para os órfãos da beatlemania, qualquer material, qualquer som ou informação sobre o inesquecível trabalho desenvolvido naqueles poucos anos é um presente, uma compensação por tantos desejos sublimados e tantas canções que deixaram de ser feitas e tocadas.

Para os novos, oportunidade excepcional para descobrir a fundo por que tanta gente ainda fala dos Beatles até hoje. Para os contemporâneos daquela época maluca, a possibilidade de rever os trabalhos dos rapazes de Liverpool em edições remasterizadas – e, o mais importante, nas gravações originais em mono – é uma viagem ao passado, a nostalgia de viver um tempo distante e paradoxalmente tão atual. Enquanto a novidade não chega, é hora de baixar aqueles velhos vinis da prateleira, ligar o toca-discos, preparar um cuba libre e enrolar o tapete da sala.

Sobe a estrela do oportunismo peemedebista


Existem vários efeitos nefastos que são provocados por decisões políticas equivocadas e que somente podem ser percebidos ao longo dos processos subsequentes, mostrando o quanto o desacerto de medidas pode se transformar em pesados ônus para a sociedade, demandando longos períodos para a retomada da normalidade. Muitas vezes, os efeitos notados de políticas são negativos, mas a consequência futura acaba por justificar os passos dados. No sentido inverso, a aparente bonança pode reverter em graves problemas à frente.

O Brasil vive um momento de contrastes, auferindo os louros de um período de relativa tranquilidade e estabilidade econômica, ao tempo em que inaugura um novo tempo de relações institucionais fragilizadas, graves desacertos dos governos, um Congresso desmoralizado e um poder Judiciário interferente e pouco objetivo, envolvido em trama que vem desconstruindo os processos democráticos. Uma tremenda confusão, arquitetada e executada com maestria pelo presidente Lula.

Em nome de um mau definido pacto de governabilidade, o balcão de negócios em que se tornou o Congresso Nacional foi tomado de assalto pela tropa de choque petista, na sanha de obter apoios e sustentação política ao projeto único de manter-se no poder, a qualquer custo, sob condições fora de discussão de fundo ético. Ao que ficou cabalmente demonstrado foi a pretensão absoluta de assegurar o projeto de poder, que carece de um verdadeiro programa de governo que lhe dê sustentação.

De há muito, o PMDB é um partido de notável habilidade de colocar-se como principal coadjuvante de qualquer governo, transformando-se mesmo em grande aglomerado de interesses que podem variar ao sabor dos apoios e das necessidades. Podem assegurar sustentação de Collor a Lula com a mesma facilidade com que colocam na mesa de negociações a sua estrutura que se fortalece quanto maior for a fragilidade dos governos.

Como o projeto de Lula não se extingue no segundo mandato, tendo em vista os anunciados 25 anos no poder, diante da dificuldade de construir uma base forte, chegou a hora do PMDB tomar o poder de fato. Somente os mais recentes episódios das eleições das presidências do Congresso mostram o poder de fogo da legenda, que conseguiu o feito de constranger toda a bancada petista para arquivar as denúncias contra José Sarney, agora aliado sentado à direita do presidente da República.

As recentes e importantes defecções nos quadros do Partido dos Trabalhadores, em especial da senadora Marina Silva, mostram o quanto o PT se presta a mero coadjuvante de um projeto de manutenção no poder, sem discurso, programa ou ideologia. Em seu lugar, cresce a estrela da sorte do PMDB, oportunista e conveniente, sedimentando uma sólida base eleitoral para o próximo ano e acumulando cacife para intervir decisivamente em questões políticas e até estratégicas como a exploração do pré-sal.

While My Guitar Gently Weeps

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at the floor and I see it need sweeping
Still my guitar gently weeps

I don't know why nobody told you
how to unfold you love
I don't know how someone controlled you
they bought and sold you

I look at the world and I notice it's turning
While my guitar gently weeps
With every mistake we must surely be learning
Still my guitar gently weeps

I don't know how you were diverted
you were perverted too
I don't know how you were inverted
no one alerted you

I look at you
all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at you all
Still my guitar gently weeps

(While My Guitar Gently Weeps, George Harrison)



domingo, 30 de agosto de 2009

Mea maxima culpa

Ao comentar sobre a lei antifumo, cometi o deslize de supervalorizar o prejuízo ao consumo de cigarros em bares. Compreensível, para quem me conhece.

Mas há um efeito da maior gravidade que desconsiderei em minha opinião expressa, que é o fumo no ambiente de trabalho. Aí, sim, as pessoas não têm a escolha e os fumódromos deveriam ser regulamentados.

sábado, 29 de agosto de 2009

If tomorrow never comes

Sometimes late at night
I lie awake and watch her sleeping
She's lost in peaceful dreams
So I turn out the lights and lay there in the dark
And the thought crosses my mind
If I never wake up in the morning
Would she ever doubt the way I feel
About her in my heart

If tomorrow never comes
Will she know how much I loved her
Did I try in every way
To show her every day
That she's my only one
If my time on earth were through
And she must face the world without me
Is the love I gave her in the past
Gonna be enough to last
If tomorrow never comes
'Cause I've lost loved ones in my life
Who never knew how much I loved them
Now I live with the regret
That my true feelings for them never were revealed
So I made a promise to myself
To say each day how much she means to me

And avoid that circumstance
Where there's no second chance
To tell her how I feel
If tomorrow never comes
Will she know how much
I loved her
Did I try in every way
To show her every day
That she's my only one
If my time on earth were through
And she must face the world without me

Is the love I gave her in the past
Gonna be enough to last
If tomorrow never comes
So tell that someone that you love
Just what you're thinking of
If tomorrow never comes

( If tomorrow never comes, Garth Brooks)

Se o amanhã não chegar (tradução livre)

Às vezes, tarde da noite

Eu me deito e assisto ela dormindo
Ela está perdida em sonhos de paz
Então eu desligo as luzes e me aquieto na escuridão
E os pensamentos atravessam minha mente

Se eu nunca mais acordar pela manhã
Será que ela terá dúvidas do que eu sinto
Sobre ela no meu coração
Se o amanhã nunca chegar
Ela saberá o quando eu a amei
Que eu tentei de todos os jeitos mostrar para ela, todos os dias
Que ela era especial para mim

E se o meu tempo através da terra
E ela tiver que tiver que encarar esse mundo sem mim
Será o amor que eu dei a ela no passado
Suficiente para durar
Se o amanhã não chegar
Porque eu amei perdidamente uma vez em minha vida
Quem nunca soube o quando eu a amei
Agora eu vivo com o pesar
Que meus sentimentos verdadeiros por ela nunca serão revelados
Então eu fiz uma promessa a mim mesmo
De dizer cada dia o quanto ela significa pra mim
E prevenindo aquela circunstância
Onde pode não haver segunda chance de dizer a ela como eu me sinto

Se o amanhã não chegar
Então diga a aquele alguem que você ama
Apenas aquilo que você está pensando
Se o amanhã não chegar

Lei antifumo extrapola o consenso

Todo esforço da sociedade de se organizar na defesa dos interesses de cada grupo e da maioria é bem-vindo, transformando-se em instrumento de constante renovação para fazer frente aos novos conceitos, hábitos e valores que se amoldam ao decorrer do tempo. A tendência é o aperfeiçoamento constante e a eleição de verdadeiras prioridades que visem o bem estar e a harmonia.

A lei antifumo implantada no Estado de São Paulo trouxe à reflexão uma questão importante da saúde pública, que é o consumo de cigarros, hábito profundamente arraigado entre as pessoas, contra o qual se desenvolvem aguerridas campanhas para que as pessoas larguem o vício em benefício próprio. De algum tempo, a preocupação estendeu-se ao direito de não fumantes poderem compartilhar os mesmos espaços sem serem submetidos aos inconvenientes do mau cheiro e prejuízos da inalação involuntária da fumaça. Esta percepção desencadeou estudos e discussões sobre a conveniência dos espaços livres para fumantes, desaguando em leis que buscam disciplinar a questão.

Passado o impacto negativo da medida do governador José Serra, infeliz em alguns aspectos, a lei passou pelo teste de aprovação das pessoas. Em reportagens mostradas pelo Correio Popular, na maioria dos lugares onde foi instituída a proibição, a população acatou a regulamentação, até com o bom humor característico. Foram poucas as autuações e os fumantes aos poucos vão se conformando com a limitação do consumo de tabaco.

Não são muitos os lugares onde os fumantes podem consumir seus cigarros. A transformação dos costumes foi naturalmente criando as proibições. Já não se podia fumar em locais onde o consumo era absolutamente comum, como restaurantes, ônibus, aviões, repartições públicas, teatros e cinemas, bancos, shoppings, enfim, onde, em princípio, os incomodados não têm a alternativa de não compartilhar a fumaça nociva. A lei antifumo não trouxe muita novidade. A rigor, a discussão se concentra em sua maior parte sobre o uso do cigarros em bares e cafés, pedindo uma regulamentação que pudesse satisfazer todas as partes.

Se a lei antifumo deve ser aplaudida por trazer uma regulamentação em setor que merecia um debate mais aprofundado, pecou pelo exagero, pela mão pesada do legislador que não teve sensibilidade racional e política de considerar a possibilidade de simplesmente regular o consumo de cigarros em estabelecimentos fechados, dispondo condições ideais para a criação de fumódromos, a exemplo da lei adotada em Minas Gerais, mais flexível neste aspecto e mais rigorosa no que diz respeito às penalidades. Um detalhe, uma disposição menor em todo o contexto de manter o ar puro para os interessados, que tomou proporção de dispensável discussão, em questão que já deu mostras de se resolver pelas vias naturais, sem necessidade de uma legislação impostadamente autoritária.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Caça às bruxas na Receita


Uma das mais presentes reivindicações da sociedade brasileira é o estudo de uma ampla reforma tributária que possa desonerar os setores produtivos e os ganhos de salários de trabalhadores, concentrando o foco em um quadro de baixa sonegação e na promoção da justiça fiscal. O País tem uma das maiores cargas de impostos e taxas do mundo, estando muito distante da realidade de arrecadar com equanimidade e exercer um trabalho eficaz de fiscalização. Esse quadro penaliza justamente os setores mais corretos e os trabalhadores, que arcam com o peso da sanha arrecadatória dos governos.

Sem qualquer sinal de que os políticos poderiam promover a esperada reforma, resta à sociedade alimentar esperanças através do trabalho conjunto que Receita Federal e Polícia Federal vêm realizando, desmascarando os grandes esquemas de sonegação e desvio de verbas públicas, implicando no enquadramento de empresas e nomes de projeção envolvidos em fraudes espetaculares como as ações desenvolvidas.

Uma sombra começou a ser jogada sobre as intenções destes órgãos públicos quando, em julho, a secretária da Receita Federal Lina Vieira foi afastada do cargo que havia assumido havia menos de um ano. Duas hipóteses foram colocadas como motivo para a saída: uma mudança contábil executada pela Petrobras, que permitiu a redução de R$ 4 bilhões no recolhimento de impostos, ou a queda de arrecadação que se verificou no período, que o governo atribuiu à desaceleração da economia.

A sombra escura se transformou em temporal quando Lina Vieira afirmou, em agosto, ter tido um encontro às escondidas com a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que lhe teria pedido para concluir rapidamente uma investigação realizada pelo órgão nas empresas da família do presidente do Senado, José Sarney. A crise política se instalou, inclusive com a providencial intervenção do presidente Lula, desencadeando uma sucessão de desmentidos e desafios que colocaram a virtual candidata situacionista em condição de suspeita.

Ainda mais surpreendente foi a verdadeira caça às bruxas perpetrada dentro da Receita Federal, com a demissão nesta semana de dois assessores diretamente ligados à ex-secretária, que desencadeou o efeito de pedido de demissão de funcionários do alto escalão em protesto às exonerações. Entre os funcionários, cinco superintendentes regionais, além do subsecretário de Fiscalização e de 40 auditores. Na carta de demissão, os solidários protestam contra a forma como ocorreu a exoneração de Lina Maria Vieira, os depoimentos realizados no Congresso Nacional, as notícias veiculadas sobre a intenção do Ministério da Fazenda de afastar outros administradores. Alegam os demissionários que as medidas revelam “uma clara ruptura com a orientação e as diretrizes que pautavam a gestão anterior”.

A crise escancara a forma com que o poder político interveio em órgão imprescindível para manter o desenvolvimento do País, afastando-se dos princípios republicanos e mostrando uma nefasta tentativa de aparelhar os órgãos e dispô-los a serviço de intenções políticas. Típico da forma de governar dos companheiros do presidente.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Palo Seco


Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:

Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.

Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.

(A palo seco, Belchior)

Apenas um rapaz latino-americano

Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes e vindo do interior
Mas trago, de cabeça, uma canção do rádio
Em que um antigo compositor baiano me dizia
Tudo é divino, tudo é maravilhoso

Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas, caminhado meu caminho
Papo, som dentro da noite e não tenho um amigo sequer
E não acredite nisso, não, tudo muda e com toda razão

Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes e vindo do interior
Mas sei que tudo é proibido aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido até beijar você no escuro do cinema
Quando ninguém nos vê

Não me peça que lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém

Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção, a vida, a vida realmente é diferente
Quer dizer, a vida é muito pior

Eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco
Por favor não saque a arma no "saloon" eu sou apenas um cantor
Mas se depois de cantar você ainda quiser me atirar
Mate-me logo, à tarde, às três, que à noite tenho um compromisso
E não posso faltar por causa de você

Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes e vindo do interior
Mas sei que nada é divino, nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é sagrado, nada, nada é misterioso, não

(Apenas um Rapaz Latino-americano, de Belchior)

Os espaços para a gripe ganhar força

A força com que a gripe suína assolou o mundo, surpreendendo as pessoas pela sua gravidade e alto índice de mortandade, fez com que as pessoas passassem a avaliar comportamentos e rotinas com atenção, dedicando-se a cuidados essenciais para se manterem longe dos focos de risco de contaminação. Como toda doença que se alastra em larga escala, a pandemia despertou em todo o globo ações educativas e preventivas, além de colocar em estado de alerta todos os serviços públicos de saúde.

Os primeiros efeitos da gripe foram devastadoramente pessimistas, disseminando pânico e correria às compras de material de higiene. Em todo o País, foram contabilizadas 488 mortes, o segundo maior número de vítimas fatais em todo o mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que registraram 522 mortes. Em Campinas, até o início desta semana, já havia 173 ocorrências, com 12 mortes decorrentes confirmadas, além dos casos em investigação. São número mais que eloquentes para que todas as pessoas fiquem alertas e procurem todos os meios disponíveis de proteção.

Como toda pandemia, os cuidados maiores devem se concentrar na prevenção, espalhando informações elementares sobre as formas de contágio, os meios de isolamento, o tratamento possível e os canais de consulta e diagnóstico, criando barreiras que evitem a proliferação descontrolada do vírus mortal. Surpreende que muitas das providências básicas sejam justamente procedimentos simples de higiene pessoal e do ambiente. Manter o espaço de trabalho, os cômodos de casa e áreas de uso coletivo em absoluta limpeza é o primeiro e eficiente passo para descartar alta porcentagem de contágio.

Reportagem do Correio Popular de ontem mostra que nem sempre a agilidade esperada em situações emergenciais pode ser conferida em algumas repartições públicas, onde não foram encontrados materiais de divulgação, cartazes, material de higiene pessoal ou trabalho de orientação. A amostragem comprovou o quanto a máquina administrativa e burocrática do Estado pode se mostrar lenta demais, deixando a população à mercê de informações escassas. Na agência central do INSS de Campinas, uma situação emblemática: não havia cartazes explicativos, os dispensers com álcool gel e máscaras cirúrgicas foram adquiridos mas não chegaram, o material de limpeza e higiene dos banheiros é reposto, mas a gerência informa que as frequentes depredações e roubos levam a faltar sabão e toalhas de papel.

A situação mostra o quanto o Estado é inadimplente em questões simples de saúde, corroborado pelo comportamento condenável de parcela da população que não se dá conta de que, apenas com cidadania e higiene, poderia varrer as ameaças de doenças tão facilmente controláveis.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Um partido esquecido no passado


O espectro político brasileiro pode ser analisado em grande parte pela história da constituição dos partidos, que assumiram formas tão variáveis quanto foram os regimes e as situações de instabilidade institucional. Longe de ser apenas um efeito decorrente dos longos anos de ditadura militar iniciada nos anos 60 do século passado, os partidos foram moldados pelas conveniências desde os tempos do Império, onde os interesses dos nacionalistas e dos portugueses se confrontavam.

O que mais caracterizou a história política brasileira foram os regimes de exceção, que determinaram a manutenção do poder oligárquico através dos anos, em interminável sucessão de efeitos que sempre resultaram na manutenção do poder das classes dominantes, desde as oligarquias fundiárias ao modelo mais recente do neoliberalismo. Diferentemente do padrão de outros países, onde os partidos políticos têm representatividade e história — nos Estados Unidos, os democratas existem desde 1790 e os republicanos desde 1837 — os partidos brasileiros sempre foram coletâneas de movimentos ideologicamente alinhados, mas de vida curta. A estrutura partidária não resistiu à República, às insurreições militares do começo do século passado, à proibição dos partidos durante a ditadura getulista e o ato institucional de 1965 que criou o bipartidarismo de Arena e MDB que desaguaria no multipartidarismo da Nova República.

No berço da abertura democrática, em 1984, surgiram os partidos que foram a base da transição, o PSDB, o PMDB, o PTB, o PDT e, especialmente, o Partido dos Trabalhadores, que se destacou por montar um bem aparelhado sistema de diretórios por todo o País e aglutinado uma militância fielmente articulada. Por muitos anos, o PT manteve o discurso da ideologia, da ética e da convicção de uma real mudança do quadro político, parecendo aos olhos de grande parte dos brasileiros que o partido representaria a redenção nacional. Do discurso à prática, revelou-se uma distância intransponível.

O projeto de poder do PT materializou-se na figura emblemática do metalúrgico Lula, que representou a chegada da classe operária ao paraíso. O Luiz Inácio presidente é hoje uma figura descaracterizada, desvinculada de seu partido de origem e de suas próprias convicções, deixando à deriva uma estrutura que hoje sobrevive de uma militância extensiva e desmotivada. O operário deu as costas ao seu passado e dedica-se apenas a um plano maior de manter-se no poder a qualquer custo. E a fatura é alta. As defecções de nomes ilustres como Marina Silva, a desarticulação nas bases, o explícito apoio de Lula a candidatos de outros partidos — exemplo do desprestígio da sigla em Campinas—, e o constrangimento submetido ao senador Mercadante na semana passada são apenas sinais exteriores de uma grave crise interna que começa a tomar forma, dando a entender que as eleições do próximo ano poderão representar um verdadeiro divisor de águas na história política brasileira.

Try a little tenderness


Oh she may be weary
Those young girls they do get weary
Wearing that same old shaggy dress
But when she gets weary
You try a little tenderness

I know she's waiting
Just anticipating
The thing that you'll never never possess
No no no but while she's there waiting
Try just a little bit of tenderness

That's all you got to do
Now it's not just sentimental no
But she has her griefs and cares
But the soft words they are spoke so gentle
Ad it makes it easier to bear
Oh she won't regret it, no noT
Them young girls they don't forget it
Love is their whole happiness
But its all so easy
All you got to do is try
Try a little tenderness

You've got to
Hold her
Squeeze her
Never leave her
Now get to her
Got got got to
try a little tenderness
You've got to hold her
Don't squeeze her
Never leave her
You've got to

(Try a Little Tenderness, Harry Woods, Jimmy Campbell & Reg Connelly)


Tente um pouco de ternura (Tradução livre)

As mulheres se preocupam
Usando o mesmo vestido de sempre
E quando ela se preocupar
Trate-a com carinho

Ela pode estar esperando
Apenas antecipando
Todas as coisas
Que nunca venha a possuir
Mas enquanto ela estiver sem estas coisas
Trate-a com carinho

Não é apenas o sentimento
Mas suas amarguras, e os seus cuidados
E, apenas uma palavra doce e delicada
E tudo fica tudo mais fácil de aturar
Você não vai se arrepender
As mulheres nunca esquecem isso
Amor é a felicidade para elas
Uma felicidade completa
Fica tudo mais fácil de aturar
Trate-a com carinho

Apenas uma palavra doce e delicada
E tudo fica tudo mais facil de aturar
Você não vai se arrepender
As mulheres nunca esquecem isso
Amor é a felicidade para elas
(Uma felicidade completa)
E isso torna tudo mais fácil
Trate-a com carinho
Você precisa tentar
Você precisa segurá-la
Você precisa abraçá-la
Você precisa tentar
Você vai precisar tentar
E sempre fazê-la feliz
Você não irá se arrepender

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A ingerência do Planalto nas crises



A crise política brasileira parece interminável, a cada dia se somando um fato novo que contribui para emporcalhar ainda mais os ares de Brasília, mostrando práticas que deturpam o verdadeiro sentido da vida pública e que se encontram presentes em todas as ramificações possíveis, desde as Câmaras Municipais até o Palácio do Planalto, denunciando um perfil político nada lisonjeiro.

Os episódios de denúncias não podem ser analisados sem se estabelecer uma relação de causa e consequência. Seria ingenuidade total imaginar que o caso do mensalão se restringia aos fatos narrados à época e nada têm a ver com os acontecimentos de hoje. Também não se pode colocar um abismo separando os palcos onde os atores envolvidos são denunciados. A crise do Senado tem raízes na eleição da Câmara Federal, tem laços com a candidatura de Dilma Rousseff à presidência, se originou nas disputas internas nos partidos, e pode ser encontrada no troco das alianças espúrias realizadas em nome da governabilidade pragmática do governo Lula.

Em nome da manutenção do poder, tudo é válido, no pensamento que rege hoje as relações político institucionais da República, tendo como consequência a anulação do caráter ideológico dos partidos, hoje meras agremiações para a consolidação burocrática de candidaturas. Neste sentido, o presidente Lula usa e abusa de seu prestígio supreendente em alta, ele próprio um poço infindável de contradições e meias-verdades, mudando de posição e ideias com mais frequência com que troca o terno que substituiu a roupa de operário. Defensor das alianças políticas pragmáticas, o presidente já foi surpreendido nos dois lados da moeda, ao defender qualquer acordo para atingir objetivos, e posar de político sério realçando a coerência ideológica como padrão de governabilidade.

Ao empenhar apoio irrestrito ao presidente do Senado José Sarney, Lula patinou entre a arrogância e a autopreservação, cuidando habilmente de manter os vínculos com o colega de negócios e manter-se prudentemente afastado da crise, ao sabor das conveniências. Chegou a afirmar não ter votado em Sarney para a presidência do Senado, tampouco para senador do Maranhão (sic). Assim tem sido também no episódio da denúncia da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, que acusa a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de tentar interferir inconvenientemente em fiscalização de empresas do clã Sarney. Lula foi ágil em colocar a palavra da ex-funcionária em dúvida, em rápida defesa de sua apadrinhada, não surpreendendo que daqui a pouco venha afirmar não ter qualquer vínculo com o assunto.

O episódio, menor entre tantos escândalos recentes, expõe aos mais atentos o grau de ingerência do Planalto na história recente, ainda que habilmente blindado contra os respingos de responsabilidade sobre o caos que se instala. É de ser ver até onde esta resistente popularidade poderá levar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Give me love (Give me peace on earth)

Give me love
Give me love
Give me peace on earth

Give me light
Give me life
Keep me free from birth
Give me hope
Help me cope, with this heavy load
Trying to, touch and reach you
with heart and soul

My Lord . . .
take hold of my hand, that
I might understand you
Won't you please
Oh won't you

(Give me love (Give me peace on earth), /George Harrison)

Tradução livre

Me dê amor, me dê amor
Me dê paz na Terra
Me dê luz, me dê vida
Me mantenha livre desde o nascer
Me dê esperança
Me ajude a lutar, com esta carga pesada
Tentando te encontrar,
e tocar com coração e alma
Oh, meu Senhor . . .

Por favor, agarre minha mão, que
Eu teria o poder para te entender
Por favor não se vá.
Oh, não se vá…
Oh, meu Senhor . . .

domingo, 16 de agosto de 2009

Fora com baderneiros dos estádios

O futebol é considerado o esporte mais popular em todo o mundo, congregando comunidades acima de crenças, religião, convicções ou regimes políticos. A bola rolando nos gramados é um dos fenômenos do entretenimento, levando torcidas e simpatizantes a momentos de alegria e frustração esportiva, alimentando uma gigantesca engrenagem de empresas, clubes e associações que movimentam cifras nunca sequer imaginadas.
A paixão pelo esporte se justifica pela caráter lúdico do jogo, que contrapõe duas equipes que carregam os símbolos, as cores e as tradições de cada time, numa efervescente disputa pelos prêmios que, antes, eram troféus e faixas que causavam orgulho de seus ganhadores, substituídos pelo pragmatismo dos contratos milionários e da projeção de celebridades. Os clubes são hoje a ponta de grandes conglomerados que envolvem interesses em mídia, empresas fabricantes de material esportivo, até uma rede de administração do fluxo de atletas de um clube a outro, em transações de milhões de euros.

O envolvimento da torcida também passou por mutações, mas ainda mantém sua origem de identificação com a história do seu time, a paixão que é manifesta nas arquibancadas ou mesmo em frente a aparelhos de televisão ou rádio, no uniforme com o escudo tradicional, num amálgama de prazer e sensação de pertencimento a um grupo maior, unido pelos mesmos gritos de estímulo e prazer pelas conquistas.

Quando o papel do torcedor extrapola os limites da platéia e da conversa com colegas, a torcida passa a ser uma questão doentia, um problema de segurança que precisa ter encaminhamento nos distritos policiais, aplicadas as sanções legais àqueles que não conseguem se comportar com o mínimo de civilidade. O episódio do confronto entre torcedores da Ponte Preta e policiais ao final do jogo de sábado não é, infelizmente, um fato isolado. Não marca a trajetória de um clube, tampouco pode ser estendido a toda uma torcida.

O vandalismo e a agressividade não tem bandeira nem cores. Acontece na vitória e na derrota, atendendo ao instinto selvagem de grupos que se infiltram entre os verdadeiros torcedores, transformando os jogos em situações de risco.

É preciso dar um basta a este tipo de atitude. Os próprios clubes têm parcela de responsabilidade ao darem espaço para os líderes destes grupos, que, via de regra, são facilmente identificados. O melhor lugar para os policiais é cuidando dos interesses maiores de segurança da sociedade, não se submetendo ao capricho delinquente de pequenos grupos que fazem do esporte o pretexto para se mostrarem animais. O lugar dos torcedores é na arquibancada, incentivando ou criticando seu time, mas nunca arremetendo violentamente contra atletas ou dirigentes. E o lugar dos baderneiros é na cadeia e bem longe dos estádios.

Um pouco da Idade da Pedra


Holding hands
Skipping like a stone
On our way
To see what we have done
The first to speak
is the first to lie
The children cross
Their hearts & hope to die
Bite your tongue
Swear to keep your mouth shut
Ask yourself
Will i burn in Hell?
Then write it down
& cast it in the well
There they are
The mob it cries for blood
To twist the tale
Into fore wood
Fan the flames
With a little lie
Then turn your cheek
Until the fire dies
The skin it peels
Like the truth, away
What it was
I will never say...
Bite your tongue, swear to keep
Keep your mouth shut
Make up something
Make up something good...
Holding hands
Skipping like a stone
Burn the witch
Burn to ash & bone

(Burn the witch, Queens of the Stone Age)


(Tradução livre)

Prendendo as mãos
Pulando como uma pedra
Na nossa maneira
Pra ver o que nós fizemos
O primeiro a falar
É o primeiro a mentir
A cruz das crianças
Seus corações e esperança morreram
Morda sua língua
Jure manter sua boca fechada
Pergunte a si mesmo
Eu irei queimar no inferno?
Então escreva ele para baixo
E molde-o no poço
Lá estão eles
O mob grita por sangue
Para distorcer a história
Na frente da floresta
Ventile as chamas
Com uma pequena mentira
Vire então sua cara
Até o fogo morrer
A pele que descasca
Como a verdade, afastado
O que era
Eu nunca irei saber...
Morda a sua língua, jure manter
Manter sua boca fechada
Faça alguma coisa
Faça alguma coisa boa
Prendendo as mãos
Pulando como uma pedra
Queime a bruxa
Queime as cinzas e os ossos

O efeito nocivo do denuncismo


Os hábitos da sociedade começam a ser definidos pelos costumes, que se alteram com o passar do tempo e passam a ser controlados pelo bom senso, prevalecendo sempre a liberdade e o interesse do grupo que a compõe. Em casos mais sérios, o proibido é enunciado em leis que são aplicadas com poder de polícia, restabelecendo a ordem e preservando o direito individual.

A chamada lei antifumo em vigor no Estado de São Paulo veio com a melhor das intenções, limitar o consumo de cigarros em ambientes públicos, dando aos não fumantes o direito legal de exigir respeito em ambientes fechados. Com o apoio da lei, estão agora os antitabagistas com o ferramental de fazer prevalecer a preservação de sua própria saúde, segundo o próprio entendimento.

A polêmica estabelecida com a nova lei não se prende a essas intenções, mas no que o governador José Serra imprimiu em tons de inaceitável absolutismo, de rasgos de autoritarismo, ao invadir o espaço privado para impor condições do uso de cigarros. Ao pretender legislar sobre o consumo dentro de empresas, tirando dos proprietários o legítimo direito de decidir a conveniência ou não, o governador escancara uma atitude condenável de se impor pela força.

Quando se trata de lidar com um hábito fortemente arraigado na sociedade como é o consumo de cigarros, é preciso impor as condições com prudência e tato, sem ultrapassar a barreira do que seja sensato. Há tempos que os fumantes veem limitados seus espaços para fumar, numa clara acomodação de interesses e preservação do direito dos não fumantes. Os danos à saúde são argumento irrefutável para a adoção de medidas cerceadoras e, aos poucos, mais e mais ambientes livres do tabaco são convencionados, como restaurantes, aeroportos, veículos de transporte coletivo, prédios públicos e ambientes de trabalho, onde cada um procura conciliar o direito de fumar e o de não se submeter ao inconveniente do tabaco. Seria uma questão de tempo que o fumo ficasse restrito a locais previamente autorizados e nos fumódromos, já institucionalizados como espaço adequado e convenientemente isolado.

Não bastasse a arrogância legal, Serra instituiu a figura do denuncismo, repassando para a sociedade o ônus de fiscalizar e punir infratores, criando antagonismos onde não existiam, incitando atitudes agressivas de pessoas recalcadas que se apoiam numa lei excessiva para destilar o seu ódio antissocial contra os fumantes. O resultado é constrangedor. E, não bastasse o caráter fascista da lei, há ainda os que a apoiam na totalidade, como o vereador de Campinas que propõe a criação de uma linha especial de comunicação para que as denúncias sejam feitas.

Se há um lado perfeitamente lógico e aceitável na tentativa de isolar fumantes, em locais privados e sinalizados, a lei estadual se perde pelos efeitos colaterais e pelo exagero.

sábado, 15 de agosto de 2009

O sonho de Joe Hill


I dreamed I saw Joe Hill last night alive as you and me.

Said I, "But Joe, you're ten years dead",
"I never died", said he.
"I never died", said he.

"In Salt Lake, Joe", I said to him standing by my bed,
"they framed you on a murder charge". Says Joe: "But I ain't dead!"
"The Cooper Bosses shot you, Joe, they killed you, Joe", says I.
"Takes more than guns to kill a man", says Joe, "I didn't die!"

And standing there as big as life and smiling with his eyes,
Joe says: "What they could never kill went on to organize."
"Joe Hill ain't dead", he says to me, "Joe Hill ain't never died,
when workers strike and organize Joe Hill is by their side.

"From San Diego up to Maine in every mine and mill,
where workers stand up for their rights,
it's there you'll find Joe Hill."

I dreamed I saw Joe Hill last night alive as you and me.
Said I, "But Joe, you're ten years dead",
"I never died", said he.

Sonhei que vi Joe Hill na noite passada, como vejo você e a mim
Eu disse: Mas Joe, você já morreu há dez anos
Nunca morri, ele disse


Em Salt Lake, Joe, eu lhe disse, ao pé da minha cama

Eles enterraram você numa cova
E Joe disse, mas eu nâo morri

O chefe dos Tanoeiros atirou em você, Joe, eles o assassinaram, Joe,
e ele me disse: Precisa de muito mais do que armas para matar um homem, disse Joe
Mas eu nao morri

E lá de pé e vivo ele sorriu pra mim
Com um sorriso em seus olhos
Joe disse: o que eles puderam matar foi o ideal que eu tinha
Joe Hill nao morreu, ele me disse, Joe Hill nunca morre


Quando os trabalhadores em greve se organizam,
Joe Hill está no meio deles
de San Diego ao Maine, em cada mina ou fábrica ou oficina
onde os trabalhadores se preparam a reivindicar seus direitos

Lá você pode encontrar Joe Hill

Sonhei com Joe Hill na noite passada, vivo como eu e você
E disse: Mas, Joe, você está morto há dez anos.
E ele me disse: Eu nunca morri.

(Joe Hill, de Heyes/Robinson, imortalizada na voz de Joan Baez)




Senado no fundo do poço

Se a política é a arte de argumentar em defesa de ideias, propostas, projetos e intenções, decidindo no jogo de interesses as prioridades da sociedade, o que acontece em Brasília deixa de ser próximo de qualquer forma de arte, menos ainda de política. A capital da República está mais para vergonha nacional que para o centro das grandes discussões, com tantos assuntos urgentes e imperiosos jogados na vala das negociações espúrias e na disputa do butim dos interesses.

A crise que envolve o Senado federal também não é a de maior gravidade que se registrou na história recente. Não foram poucos os escândalos que seriam suficientes para aplicação de sanções sérias contra os envolvidos, numa torrente de denúncias de corrupção, tráfico de influência e desvio de verbas. Mas os fatos se sucedem e as punições ficam para as calendas gregas, dando lugar a novos episódios que têm o dom de mascarar todos os anteriores.

Embora o Senado seja o palco da mais recente onda crítica, o efeito negativo se aplica a toda a classe política, em todos os níveis, não desfazendo de qualquer cargo ou atribuição pública, onde o oportunismo se instala e a impunidade é a palavra de ordem. Os personagens se alternam sob o foco das denúncias, cada qual com maior desfaçatez que o anterior, respaldado pela certeza de que nada lhes poderá ser imposto. Basta ver no cenário político tantos personagens que, ainda ontem, foram protagonistas de processos escandalosos.

A indignação das pessoas toma forma em frequentes manifestações de protesto, em comentários raivosos, em justa ironia que se perde na ineficácia das medidas moralizadoras, desmontadas habilmente pelas articulações eleitorais que se sustentam em si próprias. As crises não acontecem por acaso, sempre se pode identificar o eixo que conecta os fatos, em nefasta interdependência que aumenta a percepção de que o mal está espraiado.

Não bastassem a vergonha e constrangimento que deveriam causar as denúncias de uso de atos secretos para nomeações, os senadores transmitem a todos os brasileiros que a crise ainda pode ser pior. A forma como os coronéis e cangaceiros se trataram em plenário na quinta-feira, trocando ofensas e palavrões, desfez o pouco da aura de respeito que poderia haver no solo sagrado do parlamento brasileiro. Ali, os interesses mesquinhos e as diferenças pessoais se sobrepuseram às questões nacionais, mostrando que o fundo do poço sempre pode surpreender até mesmo os mais otimistas.

O episódio que se abate sobre o Senado assume contornos de circo, com os personagens alternando a gaiatice do palhaço, a habilidade do contorcionista para desviar atenções, a singeleza das bailarinas, a arrogância dos trapezistas que desfiam o perigo contando com a rede que lhes ampara, a fineza do apresentador em traje de gala que mal disfarça o caráter mambembe da trupe. Pelo andar da carruagem, a única coisa ainda respeitável é o público que assiste incrédulo a tudo.

With a Little Help from My Friends

What would you do if I sang out of tune
Would you stand up and walk out on me
Lend me your ears and I'll sing you a song
I will try not to sing out of key

O que você pensaria se eu cantasse fora do tom?
Você levantaria e me abandonaria?
Empreste-me seus ouvidos
E cantarei uma canção pra você
E tentarei não cantar fora dos ajustes

ohh baby I get by,
(by with a little help from my friends)
All i need is my buddies
(try with a little help from my friends)
I said I want to get high I will
(High with a little help from my friends)
Who-Ho-Hoo-yeah

Oh, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos
Eu fico bem com uma ajudinha de meus amigos
Tentarei com uma ajudinha de meus amigos

What do I do when my love is away,
(Does it worry for you to be alone?)
no no
How do I feel by the End of the day
(Are you said because your on your own)
I hope you Don't say it no more

O que fazer quando meu amor está distante?
(Ficar só te preocupa?)
Como eu me sentirei até o fim do dia?
(Você está triste porque só?)

(by with a little help of my friends)
Gonna get by with my friends
(try With a little help from my friends)
Heel-heel-heel I'll will try
(High with a little help from my friends)
Keeping it high I will

Não, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos
Eu fico bem com uma ajudinha de meus amigos
Tentarei com uma ajudinha de meus amigos amigos.

(Do you need anybody)
I need someone to love
(Could it be anybody)
All I need is someone, who knows just where I'm going yeah
Somebody who knows quiet sure, baby

Você precisa de alguém?
Eu preciso de alguém para amar
Poderia ser qualquer um?
Eu quero alguém para amar

(by with a little help from my friends)
Said I'm gonna make it with my friends, i will
(try with a little help from my friends)
Who-hoo-I wonna keep on trying
(high with a little help from my friends)
I'm gonna keep on trying

Você acreditaria num amor à primeira vista?
Sim, estou certo que isto acontece toda hora.
O que você vê quando apaga a luz?
Eu não posso te contar, mas eu sei que isto é meu,

(Would you believe in a love at first sight?)
I'm certain it happens all the time yeah
(What do you see when you turn off the lights?)
I can't tell ya, but it sure feel like mine

Oh, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos
Eu fico bem com uma ajudinha de meus amigos
Tentarei com uma ajudinha de meus amigos amigos.

(by with a little help of my friends)
Don't you know I'm gonna make it with my friends
(Try with a little help of my friends)
I promised my self I get by
(high with a little help of my friends)
Said I'm gonna try it a little to hard

Você precisa de alguém?
Eu preciso de alguém para amar
Poderia ser qualquer um?
Eu quero alguém para amar

(Do you need anybody)
ohaaa- yeah yeah yeah
(Could it be anybody)
Oh there's gonna be somebody
Ohh yeah yeah

Oh, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos
Com uma ajudinha de meus amigos

With a Little Help from My Friends, Lennon-McCartney)





Cuidado com as pandemias

De tempos em tempos, as pessoas são surpreendidas com notícias de novos surtos de doenças até então ignoradas, expondo a fragilidade dos sistemas de saúde e a absoluta vulnerabilidade da sociedade, colocada diante da fria realidade da falta de medicamentos específicos, a ignorância a respeito dos métodos preventivos mais elementares, além de condições de segurança sanitária abaixo da crítica. Em tempos em que a medicina atinge níveis extraordinários de excelência e evolução, enfrentando com ciência os desafios da sobrevivência humana, grande parte da população ainda vive sob ameaça de doenças como a dengue, diarréia, gripes, muitas vezes desenvolvidas por falta de cuidados elementares de higiene.

A gripe suína chegou ao mundo disseminando uma grande preocupação entre as pessoas, assustadas com os relatos das mortes, instalando um clima de pânico e levando a algumas ações precipitadas que mostram evidentes exageros decorrentes da falta de informação ou de preparo das pessoas envolvidas. A contaminação pelo vírus influenza A (H1N1) ocupa todos os noticiários e as conversas, tornando-se o grande assunto da temporada. O aumento do número de casos em progressão geométrica coloca a população sobressaltada e interessada em aplicar, com a maior urgência, todas as recomendações preventivas.

É preciso que a informação seja disseminada maciçamente, além do poder de propagação da mídia, através de ações concretas dos serviços de saúde. É temerário imaginar que o controle da gripe suína dependa muito de precauções relativamente simples, mas que a maior parte da população não atinou para o grau de importância. Como no caso da dengue, em que a simples e corriqueira eliminação dos criadouros do mosquito transmissor seria suficiente para evitar a propagação da doença, a gripe suína também pode ser minimizada a partir do aumento dos cuidados com higiene pessoal e evitar situações de risco.

A abordagem maciça e tensa do assunto tem provocado algumas reações exacerbadas por parte de alguns, em atitudes que beiram a paranoia coletiva. As reações agressivas contra que tosse ou espirra em ambiente público quase criminalizam quem se mostra afetado, ainda que por um simples resfriado ou alergia. O uso de protetores como álcool para limpar as mãos é recomendado em muitas situações – especialmente quem vive em ambientes públicos – mas não deve ser aplicado obsessivamente. E certamente o uso de máscaras durante jogo de futebol em estádio aberto pode ser considerado um exagero.

O importante para combater a gripe suína é que seja intensificado o trabalho de informação da população, que o sistema público de saúde esteja apto para receber e diagnosticar os casos existentes e que os medicamentos e tratamentos estejam acessíveis a todos. Evitando aglomerações desnecessárias ainda é a melhor forma de prevenção que se pode adotar diante de um momento de risco como este.

Cajuína

Existirmos
A que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo
E que se acaso a sina
Do menino infeliz
Não se nos ilumina
Tão pouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

(Cajuína, Caetano Veloso)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Imbecis e programas assistencialistas

Quando as disparidades sociais se agravam profundamente, há a necessidade da intervenção assistencialista da sociedade, através de seus mecanismos oficiais e informais, despertando nas pessoas o senso de benemerência, as ações de voluntariado e o desenvolvimento de programas que atendam à clientela em situação de risco. É correto o provérbio da necessidade de se ensinar a pescar e não dar o peixe, mas não se pode negar o caráter de urgência que certas situações encetam, providenciando o suprimento da fome até que as pessoas possam dominar a técnica da pescaria.

O Brasil vive um momento especial de segurança econômica, equilíbrio financeiro, decorrente de políticas que têm garantido um patamar firme para o crescimento e acumulado algumas reservas que podem ser revertidas em projetos de desenvolvimento. Em contrapartida, sustenta ainda desconfortáveis índices de indigência social, de grande parte da população em situação de fome, alijada de quaisquer benefícios ou assistência mínima de saúde, educação, trabalho e moradia.

Surgiram no País programas oficiais de promoção social, através da distribuição de bolsas que foram incorporadas pelo governo Lula com o nome único de Bolsa Família, providencialmente surgido no contexto político para substituir o impulsivo e demagógico Programa Fome Zero. Desde então, o uso eleitoreiro do programa tem sido uma constante, rendendo frutos mensuráveis ao presidente. Também não faltam as críticas de especialistas, que entendem ser um mecanismo assistencialista e demagógico, com sérias consequências no futuro.

Na semana passada, mal contendo o seu destempero verbal, o presidente Lula anunciou o reajuste das verbas pagas pelo programa, ao tempo em que agrediu os críticos, chamando de imbecis e ignorantes os que apontam que a distribuição de verbas sem cuidados pode levar os beneficiados à indolência. Não surpreende que o iletrado presidente se manifeste de maneira inconsequente, o que, por sinal, não cabe a um chefe de Estado. Também tem sido corriqueira a mania de fazer análises simplistas de problemas e questões sérias, algumas vezes com metáforas que ultrajam a mínima inteligência de seus interlocutores mais críticos. O que vale, para Lula, é ter um canal populista aberto com a população mais humilde, que aceita seus argumentos superficiais passivamente.

O programa Bolsa Família tem seus méritos. Atende, em grande parte, a uma população que por muito tempo não teve a oportunidade de firmar-se e que depende visceralmente de dinheiro para garantir alguma refeição diária. Voltado às comunidades extremamente carentes, cumpre sensível função social de prover sustento até que possa realmente viver por conta própria. O que se critica, fundamentalmente, é a falta de alicerces mais seguros de ascensão social, que excedam o mero gesto de esmola.

Mas não se espera que Lula compreenda a extensão e consequência de suas ideias, mais voltadas a encontrar justificativas para os escândalos que o cercam e proteger seus pares, do que definir um perfil realmente digno para o País.

Eu tô voltando

Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando
Põe meia dúzia de Brahma pra gelar, muda a roupa de cama
Eu tô voltando
Leva o chinelo pra sala de jantar...
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar

Quero te abraçar, pode se perfumar porque eu tô voltando

Dá uma geral, faz um bom defumador, enche a casa de flor
Que eu tô voltando
Pega uma praia, aproveita, ta calor, vai pegando uma cor
Que eu tô voltando
Faz um cabelo bonito pra eu notar que eu só quero mesmo é
Despentear
Quero te agarrar... pode se preparar porque eu tô voltando

Põe pra tocar na vitrola aquele som, estreia uma camisola
Eu tô voltando
Dá folga pra empregada, manda a criançada pra casa da avó
Que eu tô voltando
Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar...
Quero lá.. lá.. lá.. ia.....porque eu tô voltando!


(Tô voltando, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)