quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Misery


The world is treating me bad... Misery

I'm the kind of guy,
Who never used to cry,
The world is treatin' me bad... Misery!

I've lost her now for sure,
I won't see her no more,
It's gonna be a drag... Misery!

I'll remember all the little things we've done
Can't she see she'll always be the only one, only one.

Send her back to me,
'Cause everyone can see
Without her I will be in misery

(The Beatles, 1962)

Uma guinada bolivariana

Entre acertos e desacertos, dimensionados pelos críticos e simpatizantes, o governo Lula introduziu uma nova forma de governar, com ênfase populista, de discursos baratos e frases de efeito, que nem sempre evidenciam o que deveria ser um programa efetivo e claro de governo. Na pregação tosca, permeada de metáforas, os grandes debates nacionais ficam em segundo plano, uma situação sustentada apenas pela momentânea navegação da economia em céu de brigadeiro.

Se o Brasil apresenta mudanças sintomáticas e o presidente alcança altíssimos índices de aprovação, também é verdade que as posições políticas mais controvertidas e que exigem mais atenção não são percebidas totalmente. Em muitos setores, a política lulista deixa transparecer as verdadeiras intenções de seus mentores, que prudentemente jogam nos bastidores as partidas mais elaboradas. Um dos exemplos é a crescente bolivarização da política brasileira, articulada por seus assessores mais diretos e pela eminência parda de José Dirceu, principalmente.

Vários são os sinais da guinada brasileira no sentido de uma integração a um pífio projeto articulado pelo presidente Hugo Chávez, com profundas raízes na ilha de Cuba. A bolivarização da América Latina é um projeto exdrúxulo, por isso mesmo apoiado em retóricas fascistas e populistas, bem ao gosto do tiranete venezuelano. A recorrente discussão sobre a validade de prorrogação de mandatos presdenciais é uma constante que já aportou nos projetos políticos brasileiros. Rechaçada a hipótese, as cartas foram prudentemente recolhidas em favor de uma candidatura imposta pelo próprio presidente Lula ao seu partido.

O perfil das relações exteriores brasileiras mostra o quanto o País caminha no sentido inverso de um alinhamento de interesse econômico consubstanciado em apoios e reconhecimentos políticos. Emblemática a posição de abrir as portas ao governo tirano de Muhamad Ahmadinejad, para o qual as grandes nações viram as costas. O caso de Honduras também mostra um Brasil submisso aos extertores histriônicos chavistas,que rsultou em um impasse altamente inconveniente.

Pagar mais pelo gás boliviano que o consumidor brasileiro não consome é uma alta fatura que deverá ser explicada no futuro, quando se dissiparem as sombras do favoritismo de Lula. A inserção da Venezuela no desfalecido Mercosul foi um golpe de misericórdia no que poderia ser a formação de uma forte união. Permitir a ingerência de um vizinho que nada tem a oferecer como membro com poder de decisão, é um passo que pode colocar uma pá de cal no grupo.

Para arrematar, todas as tentativas de controle da opinião pública, estabelecendo amarras para os veículos que se oponham aos regime, são formas comuns em todos os países da região. E até no Brasil tentou estender os tentáculos de um controle da imprensa através de uma radical conferência, convocada pelo próprio governo para que a sua claque destilasse intenções de manipular e censurar o noticiário.

Mais que intenções, esses movimentos estão perfeitamente articulados e pode-se perceber suas raízes onde germina a semente de uma retrógrada e datada revolução bolivariana.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Essa mulher

De manhã cedo essa senhora se conforma
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Ah. como essa santa não se esquece de pedir pelas mulheres
Pelos filhos, pelo pão

Depois sorri, meio sem graça
E abraça aquele homem, aquele mundo
Que a faz assim, feliz
De tardezinha essas menina se namora
Se enfeita se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista
Isso tudo é muito bom

E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia qualquer dia
Entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quanto os homens enlouquece
Nessa boca, nesse chão

Depois parece que acha graça
E agradece ao destino aquilo tudo
Que a faz tão infeliz

Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em que esbarro toda hora
No espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz
Que acha tudo natural.

(Essa Mulher, Joyce/A.Terra)

O drama das chuvas


No exato instante em que representantes de todos os países se reuniam em Copenhague para discutir os efeitos das alterações climáticas e buscar um consenso que possa representar uma redução na emissão de gases poluentes na atmosfera, o Estado de São Paulo foi atingido por um nível extraordinário de chuvas, que levaram o caos a diversas regiões. Além das mortes trágicas, houve problemas sérios de alagamentos, deslizamentos, bloqueio de vias, interrupção de serviços, paralisação de serviços de transporte e comunicação, mostrando que a natureza consegue responder com vigor a todas as agressões perpetradas pelo ser humano.

O nível de precipitação foi considerado anormal por todos os especialistas, ainda que as mudanças violentas do clima venham sendo registradas com maior frequência. Os fenômenos climáticos incluem variáveis que se apresentam em ritmo diferente, que pode ser percebido por qualquer pessoa, que já não distingue períodos regulares em uma região onde as estações se sucedem sem alterações bruscas.

Não se pode atribuir os efeitos devastadores dos últimos temporais exclusivamente à questão do aquecimento global. A conclusão seria rasteira e pouco científica, pois até mesmo na desgraça há uma razoável sazonalidade que os estudiosos detectam. Pois a quantidade acumulada de chuva que se precipitou sobre a Capital paulista na terça-feira já não acontecera em 2007? Daí não se poder dizer que seria totalmente inesperada. Uma conjunção de fatores desfavoráveis culminou na tragédia registrada, desafiando a capacidade de gerenciamento dos governos, apressados em apresentar desculpas pelas falhas e jogar a culpa sobre a natureza inclemente.

Há que se reconhecer a gravidade da situação diante da imponderabilidade do clima, mas não se pode alegar que muitas providências podem ser antecipadas a partir de programas de prevenção a enchentes, isolamento de áreas de risco, atenção a ocupações irregulares, planejamento urbano que leve em consideração os períodos críticos de chuvas, a manutenção de canais de vazão da chuva - cada vez mais raros com o assoreamento de mananciais, entupimento de galerias e a dominação do concreto e asfalto no desenho das cidades.

O discurso recorrente de monitoramento de áreas com risco de enchentes, deslocamento de famílias, nada alivia o drama das famílias atingidas, que perdem seus bens, sua segurança e entes queridos. A consequência é fruto do desgoverno, da falta de ações objetivas para acabar com as enchentes que ocorrem com previsível regularidade. Para tanto, são necessários investimentos, competência, planejamento e atitude, e não apenas o inadmissível conformismo de apresentar as desculpas de praxe, culpar a natureza e esperar que as cenas trágicas e o drama das pessoas se repitam nos anos seguintes.

(Correio Popular, 11/12)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Amor é o Meu País

Eu queria, eu queria, eu queria
Um segundo lá no fundo de você
Eu queria, me perdera, me perdoa
Por que eu ando à toa
Sem chegar

Tão mais longe se torna o cais
Lindo é voltar
É difícil o meu caminhar
Mas vou tentar

Não importa qual seja a dor
Nem as pedras que eu vou pisar
Não me importo se é pra chegar
Eu sei, eu sei
De você fiz o meu País
Vestindo festa e final feliz
Eu vi, eu vi
O amor é o meu País
E sim, eu vi
O amor é o meu País

(O Amor é o Meu País, Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza)

De novo, e ainda, a corrupção


Os efeitos nefastos da corrupção impregnada no serviço público podem ser medidos na exata proporção da falta de recursos para o cumprimento dos pressupostos constitucionais de governos e administradores, historicamente alheios às necessidades elementares da população enquanto carreiam volumes enormes de verbas públicas para seus bolsos - isso quando usam os bolsos.

O aproveitamento de oportunidades em benefício próprio é inato ao ser humano. Todos, de uma forma ou outra, buscam auferir vantagens que possam representar poder, conforto, segurança, qualidade de vida, benefícios. A diferença está em obter benefícios de forma ética, legal, por mérito, e não apropriar-se do direito dos outros, fraudar situações favoráveis, vender-se ao ilícito, roubar descaradamente, na certeza de um sistema que privilegia a impunidade e ensina que o crime, muitas vezes, compensa.

A política brasileira passa por um momento de preocupante fragilidade em suas instituições. As constantes denúncias têm mostrado governantes e parlamentares envolvidos em sucessivas e cada vez mais descaradas situações de desvio de dinheiro público, em desavergonhada apropriação de recursos que notadamente fazem falta na recomposição de um sistema de saúde adequado, no suporte de uma reformulação da educação em todos os níveis, na geração de riquezas que impliquem em mais empregos e vagas no empreendedorismo, na mitigação das desigualdades sociais.

Para a maioria dos cidadãos, a situação é de desânimo e falta de perspectiva. A solução em grande parte poderia vir pela reformulação das práticas políticas, a partir de uma revisão e aperfeiçoamento do sistema representativo, da administração pública, dos sistemas de controle e fiscalização. O problema é que muitos desses instrumentos devem ser aplicados pelos próprios envolvidos, obviamente desinteressados em alterar o status quo de forma que lhes afete os privilégios.

Mais que isso, já se diagnosticou que os atuais políticos vivem numa aura de excepcionalidade, como se realmente cressem viver em um mundo diferenciado, distante das agruras e preocupações dos cidadãos comuns, investidos de um poder extraordinário que lhes garante segurança, estabilidade e impunidade. A convicção é de que eles não estão fora do alcance da lei, mas muito além das fronteiras da decência, do compromisso, da ética. Muitas já nem raciocinam dentro de parâmetros aceitáveis e nos limites de suas prerrogativas de representação.

O momento é de tomada de decisão por parte da sociedade, que já criou instrumentos para qualificação do voto, do incentivo à responsabilidade eleitoral. Vários sites de organizações não-governamentais oferecem subsídios para a triagem ética de candidatos e há movimentos que pretendem barrar preliminarmente aqueles que apresentarem antecedentes na vida pública e privada que os possam incriminar. A divulgação desses mecanismos e todo esforço de conscientização dos eleitores são um passo fundamental para combater a corrupção. Se não definitivo, ao menos é essencial.

I dreamed a dream

There was a time when men were kind
When their voices were soft
And their words inviting.
There was a time when love was blind
And the world was a song
And the song was exciting.
There was a time ...
then it all went wrong

I dreamed a dream in time gone by
When hopes were high and life worth living,
I dreamed that love would never die
I dreamed that God would be forgiving.

The I was young and unafraid,
When dreams were made and used and wasted.
There was no ransom to be payed,
No song unsung, no wine untasted.

But the tigers come at night,
With their voices soft as thunder,
As they tear your hope apart
As they turn your dreams to shame

He slept a summer by my side.
He filled my days with endless wonder,
He took my childhood in his stride,
But he was gone when autumn came.

And still I dreamed he'd come to me
And we would live the years together,
But there are dreams that cannot be
And there are storms we cannot weather.

I had a dream my life would be
So different from this hell I'm living
So different now from what it seemed
Now life has killed the dream
I dreamed.


Eu Sonhei um Sonho

Houve um tempo em que os homens eram gentis
Quando suas vozes eram suaves
E suas palavras convidativas
Houve um tempo em que o amor era cego
E o mundo era uma música
E a música era excitante
Houve um tempo...
e de repente tudo ficou errado

Eu sonhei um sonho em um tempo passado
Quando as esperanças eram grandes e a vida valia ser vivida
Eu sonhei que o amor nunca acabaria
Eu sonhei que Deus seria misericordioso.

Eu era jovem e não tinha medo
Quando os sonhos eram realizados e usados e jogados fora
Não havia resgate a ser pago
Nenhuma música sem ser cantada, nem vinho não degustado.

Mas os tigres vêm à noite,
Com suas vozes suaves como trovão,
Enquanto eles despedaçam sua esperança
Enquanto eles tornam seus sonhos em vergonha

Ele dormiu um verão ao meu lado.
Ele preencheu meus dias com maravilhas sem fim,
Ele levou minha infância em seu passo
Mas ele se foi quando o outono veio.

E ainda assim eu sonhei que ele voltaria para mim
E que viveríamos os anos juntos,
Mas existem sonhos que não podem ser sonhados
E existem tempestades que não podem passar.

Eu tive um sonho que minha vida seria
Tão diferente deste inferno que eu vivo
Tão diferente agora do que parecia ser
Agora a vida matou o sonho
Que eu sonhei.

(I Dreamed A Dream, de Les Miserables)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Violência que não cabe no esporte

Os últimos finais de semana foram marcantes para o esporte brasileiro. Poucas vezes um torneio das dimensões do Campeonato Brasileiro de futebol conseguiu auferir tanto interesse e entusiasmo de torcedores, atraindo uma audiência extraordinária para as rodadas finais. Foram momentos decisivos para diversos clubes com verdadeiras chances de chegar ao título máximo do país, outros disputando a classificação para outros torneios, ou ainda a luta contra o rebaixamento, em sucessão de jogos que mexeram com a emoção dos torcedores. Mesmo para aqueles pouco afeitos ao esporte, não faltou o interesse ou curiosidade.

As rodadas decisivas suscitaram disputas intensas e acirraram a rivalidade entre as torcidas, normalmente colocadas em situação de confronto. E não faltaram também as lamentáveis cenas de violência que estão se tornando rotineiras em dias de jogos. De uma forma inusitada, o que aconteceu em Curitiba chocou a todas as pessoas pela forma bárbara e insana com que alguns torcedores depredaram o estádio, agrediram árbitros, jogadores, auxiliares, em atos de bandidagem que não encontram o mínimo respaldo na razão. Ao ver concretizado o rebaixamento de seu time para a Série B do próximo ano, cerca de 200 torcedores invadiram o campo para protagonizar cenas de absurda violência, deixando um rastro de destruição, feridos e bagunça, dentro e fora do estádio.

Nem mesmo a comemoração pela conquista do título de campeão foi amena. Cenas brutais de brigas entre torcedores flamenguistas mostram que a intolerância e o descontrole não dependem dos resultados dentro de campo, mas estão nas mãos de torcidas que mais parecem quadrilhas que frequentam os jogos apenas como pretexto para extravasar seu caráter violento.

De todos os esportes que podem ser motivadores, o futebol é certamente o que envolve mais comunidades ao redor de todo o mundo, criando gerações sucessivas de abnegados torcedores e propiciando uma estrutura global que oscila entre a paixão e um mundo de negócios bilionários. O meio esportivo jamais obteve tamanha projeção quanto atualmente, com os clubes empresas, os contratos fabulosos, a venda de equipamentos, publicidade e direitos de transmissão, numa roda financeira acima de muitos empreendimentos. O futebol é simultaneamente a alegria e um grande negócio.

Diante das barbaridades repetidas neste final de semana, nenhum aspecto subsiste inalterado. Não pode haver alegria diante de uma torcida descontrolada, insana, violenta e incapaz de pensar, colocando em risco os árbitros, jogadores, auxiliares, funcionários dos clubes, jornalistas, as torcidas, todos aqueles que buscam o verdadeiro espírito do esporte. Tampouco o caráter profissional e empreendedor resiste a fatos lamentáveis como esses, que devem ser banidos dos estádios com medidas de segurança e controle.

Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Ao lado de um tipo qualquer

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser

Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação

Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, é despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor

(Nervos de aço, Lupicínio Rodrigues)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Os desafios de Copenhague


As atenção de boa parte da humanidade estarão voltadas para os ares de Copenhague, onde a partir de hoje importantes decisões poderão ser tomadas em defesa do futuro da humanidade. A Conferência do Clima, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU) será aberta com intensa expectativa de governantes e ambientalistas, que se digladiarão para buscar alternativas que contemporizem as necessidades de desenvolvimento e o controle da emissão de gases poluentes na atmosfera.
As manifestações antecipadas não são exatamente otimistas. As metas preconizadas são difíceis de serem atingidas sem investimentos que envolvem trilhões de dólares, ao passo em que ninguém abre mão de seu projeto próprio de desenvolvimento. Os países chegam divididos ao evento de onde se pretende extrair um novo compromisso entre as nações que venha substituir o Protocolo de Kyoto, que se extingue em 2012. Aos poucos, com a proximidade da assinatura do documento final, as expectativas vão se concentrando na meta plausível de limitar o aquecimento global ao acréscimo de dois graus centígrados no gradiente térmico global até 2035.
Os sinais não são os melhores. Concomitantemente com a expressão da preocupação ambientalista, o maior entrave está na equação desenvolvimento/desenvolvimento/geração de energia, presente nos países emergentes, em especial Brasil e China, por motivos diversos. O gigante oriental, em franco processo de integração na economia global, deverá responder sozinho pelo aumento de 20% da emissão de dióxido de carbono até 2030. A Índia chega à Conferência com a disposição de não ceder nenhum ponto percentual na emissão de gases poluentes, alegando o desafio de estender a fontes de energia por todo o país.
O Brasil chega a Copenhague com uma meta ambiciosa de redução de 35% da emissão, calcada em projetos de contenção do desmatamento, substituição de fontes de energia por combustíveis renováveis e políticas de monitoramento de áreas protegidas. Um discurso oportuno para uma plateia sedenta de iniciativas ambientalmente sustentáveis. Faz parte do jogo de cena do presidente Lula, recebido com pompa e circunstância em seu périplo global, mas que chega à mesa de negociação com uma revisão profundo das estimativas iniciais.
O momento é crucial para as políticas ambientais em todo o mundo. O Protocolo de Kyoto representou um avanço, mas foi solenemente ignorado pelas grandes potências poluidoras, em primeiro lugar os Estados Unidos. Agora, os países emergentes querem apresentar a conta e exigir mais que a assinatura de um compromisso ou pacto de intenções. O resultado ideal é que todos os signatários saiam do fórum com a obrigação de reagir contra a degradação do planeta e dispostos a financiar e repassar recursos para os países mais pobres adotarem tecnologia que impeça o aumento da poluição, mas permita a pavimentação sustentável de seu crescimento.

Meias verdades em Brasília

Ninguém é inocente a ponto de supor que o problema da corrupção na política brasileira teve início apenas nos últimos anos e se encerrou após o desvendamento do emblemático escândalo do mensalão, que ficou marcado como um episódio que despertou a consciência dos cidadãos brasileiros, raramente afeitos ao debate das questões institucionais. A manipulação de verbas é uma praga profundamente arraigada na vida pública, envergonhando a nação, estarrecida diante de tanta corrupção disseminada.
A interminável sucessão de escândalos na esfera política deixa marcas indeléveis no caráter dos brasileiros. Não é possível tanta safadeza e desonestidade sem que nada resulte em punição exemplar, que os governantes e parlamentares possam permanecer em seus cargos com tamanha desfaçatez, zombando da justiça, do espírito de cidadania de seus representados, fazendo da vida pública um ambiente nauseante e impróprio. A corrupção mina a tolerância dos cidadãos, afeta o caráter das gerações, sedimenta o sentimento de impotência contra os espertos e da inutilidade da honestidade.
É surpreendente a capacidade dos políticos se renovarem. Quando se pensa ter chegado ao fundo do poço, descobre-se novo escândalo e que ainda há muito o que descer. As tramas são infindáveis e as revelações se sucedem acrescentando novos personagens a antigas maracutaias e costumes. Como na mais recente denúncia que tem por palco Brasília, o espelho exemplar da vida política brasileira em todos os níveis. Ali, cristaliza-se o sistema pérfido de assacar contra o erário de todas as formas, beneficiando aqueles que já acumulam benesses imerecidas.
O envolvimento do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda em esquema de pagamento de propinas de empreiteiras joga mais lama sobre a política local. Não apenas o gabinete do governador, mas assessores, membros do secretariado, deputados distritais estão envolvidos em recebimento de dinheiro de forma escandalosamente venal, servido aos maços, escondidos em bolsas, meias e cuecas. O alcance da corrupção coloca em xeque todo o processo sucessório em caso da renúncia ou impeachment de Arruda, por envolver seus sucessores em cascata.
O que mais escandaliza é a reação hipócrita dos acusados. As câmeras revelaram risos marotos, absoluta falta de vergonha, gestos descontraídos, como se tudo não passasse de um ato normal, um encontro de compadres, uma troca de presentes, um pagamento devido. A corrupção é uma chaga imensa corrói a epiderme institucional brasileira, alastrando-se de forma preocupante. Os políticos perderam a noção do que seja moral, já não sabem o que é normal fora do falso universo em que se confinam em valores aéticos. As desculpas esfarrapadas - culminadas pelas declarações contemporizadoras de praxe de Lula - revelam apenas a inaceitável realidade de que a corrupção, queiram ou não, é parte vital do organismo político desmembrado a partir de Brasília.

Wave


Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar...

(Wave: Tom Jobim)

Exageros contra fumantes

Todos os esforços que envolvem a preservação da saúde das pessoas são bem-vindos. A humanidade ainda está longe de ter uma percepção racional da necessidade de promoção do bem estar de cada pessoa como fator essencial e estabelecer políticas públicas consistentes que garantam este direito. Sem condições de bancar um atendimento de saúde adequado, o cidadão comum brasileiro é hoje refém dos serviços públicos que assumidamente não dão conta de atender à demanda e prover um sistema justo, universal e de qualidade a todos, jogando a maioria nas filas dos pronto-socorros, hospitais e postos de saúde à espera de uma simples consulta ou exame.
No setor de prevenção, alguns esforços se mostram mais eficientes e menos onerosos, despertando interesse de governantes e administradores pelos possíveis dividendos eleitorais. Ainda assim, são importantes peças para o resgate do direito inalienável à informação e recursos preventivos. Uma dessas frentes é justamente a cruzada antitabagista, que pretende incutir uma nova mentalidade nas pessoas, relativa aos efeitos nocivos do consumo de cigarros, educando e restringindo as facilidades para fumantes.
Neste teor, tramita pelo Congresso Nacional o projeto de lei que proíbe em todo o país o fumo em ambientes fechados de uso comum, atingindo bares, restaurantes, boates e shoppings. O exemplo vem de vários Estados onde já existe lei regulamentadora. São Paulo foi um dos primeiros e certamente o que adotou a medida mais rigorosa e criticada, banindo radicalmente o uso de cigarros em quaisquer ambientes, negando qualquer possibilidade de se criarem áreas reservadas para fumantes. O projeto de lei nacional prevê essa alternativa.
Alheio ao bom senso, o governador José Serra não discute que possa haver espaços em bares, restaurantes e empresas privadas para fumantes, o que torna sua versão da lei de uma radicalidade absurda. Bastaria criar condições ideais para que os não fumantes não fossem atingidos em seu direito de não serem incomodados com a fumaça indesejada, através de normas e padrões de construção.
Diz-se que quando se eleva uma voz em um ambiente, logo todos estão gritando. Assim tem sido o efeito da draconiana lei paulista; alguns cidadãos sentiram-se no direito de bradar e exigir seus direitos em bares e restaurantes, em atitudes desrespeitosas e acima do que preconiza a lei, portando-se como arautos e fiscais de uma nova moral descabida.
De qualquer maneira, os brasileiros logo se adaptam e até os excessos iniciais vão sendo superados, como o da primeira multa aplicada a casa noturna em Campinas, mesmo que os fumantes estivessem na calçada, ou da PUC de São Paulo, multada duas vezes por conta de estudantes que acenderam cigarros no pátio, e que corria o risco de ser fechada. Espera-se que, com a aprovação da lei federal, prevaleça o bom senso e todos os interesses possam ser atendidos, afastando o caráter fascista de quem se outorga o direito de impor soluções radicais em questões de hábitos e costumes, que costumam de resolver com serenidade.

Teresa da praia


- Lúcio!
Arranjei novo amor no Leblon
Que corpo bonito, que pele morena
Que amor de pequena, amar é tão bom!

- O Dick!
Ela tem um nariz levantado?
Os olhos verdinhos bastante puxados,
Cabelo castanho e uma pinta do lado?

- É a minha Teresa da praia!
- Se ela é tua é minha também
- O verão passou todo comigo
- O inverno pergunta com quem

- Então vamos a Teresa na praia deixar
Aos beijos do sol e abraços do mar
Teresa é da praia, não é de ninguém
- Não pode ser tua,
- Nem tua também

- Teresa é da praia,
Não é de ninguém

(Teresa da Praia: Tom Jobim / Billy Blanco)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Exploração de sonhos

Os chamados movimentos sociais sempre tiveram um papel fundamental na organização da sociedade, agregando grupos com propósitos definidos e estratégias para conseguir os intentos diante do Estado. A reivindicação adquire contornos legais quando feita de forma organizada, dentro dos pressupostos de legitimidade, urgência, segurança institucional e direito constitucional.

A capacidade de organização tem sido um trunfo da sociedade, que ao longo dos anos foi aperfeiçoando e dando forma aos meios reivindicatórios, elencando as necessidades e partindo para a luta atrás de soluções que podem depender da intervenção estatal ou se apoiar em recursos privados ou institucionais. Nos anos do Estado Novo até meados dos anos 60, o movimento sindicalista exerceu papel fundamental na construção da nação, mobilizando e politizando os trabalhadores, deflagrando um movimento que atravessaria décadas até desaguar na frente sindicalista de oposição à ditadura militar. Seu raio de influência na sociedade esmaeceu-se a partir dos anos 90, ainda que tenha alçado sua liderança à Presidência da República e levado à construção de um Estado corporativista.

Nos anos 80 do século passado, os movimentos sociais adquiriram um perfil diferenciado, sendo sua maior expressão os grupos alinhados à chamada Teologia da Libertação, que se desdobrava em trabalhos nas pastorais e infiltrou-se em grande parte das articulações sociais pendentes à esquerda. Foi a época do neosocialismo e a busca de um discurso e uma identidade para a esquerda brasileira, que se transformaria anos depois.

Um dos resquícios do radicalismo foi personificado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), aberto como uma organização voltada à reivindicação de uma ampla reforma agrária, mas que se desfigurou a ponto de perder a sua legitimidade a partir de atos de violência, política rasteira e ilegalidades. Uma das dissidências do MST vem de protagonizar mais uma invasão na região: um grupo de 500 invasores vem peregrinando desde Casa Branca e Mogi Mirim, instalando-se em propriedade particular às margens da Rodovia Adhemar de Barros, em Santo Antonio de Posse, em área preparada para plantio pelo proprietário, que solicitou à Justiça a reintegração de posse.

As condições das famílias são duras. Acampados em tendas improvisadas, com mulheres e crianças, sem condições de higiene, sem água, não podem trabalhar a terra, não têm perspectiva positiva de se instalarem definitivamente, provavelmente aguardam orientação de seus organizadores para saber qual o próximo destino, como títeres nas mãos de grupos que agem politicamente, utilizando a boa-vontade dos sem terra como massa de manobra.
É preciso inverter esta disposição. Grupos antissociais não deveriam utilizar os sonhos e esperanças de famílias inteiras, arrastando-os em promessas inviáveis e desafiando a lei com intenções obscuras que excedem o simples interesse por reforma agrária e uma terra para plantar.

(Correio Popular, 28/11)

The number of the Beast

"Woe to you, Oh Earth and Sea,
for the Devil sends the beast with wrath,
because he knows the time is short...
Let him who hath understanding reckon
the number of the beast for it is a human number,
it's number is Six hundred and sixty six"
I left alone, my mind was blank.
I needed time to think to get the memories from my mind.
What did I see, can I believe,
That what I saw that night was real
and not just fantasy.
Just what I saw, in my old dreams,
Were they reflections of my warped mind staring back at me.
'Cause in my dreams, it's always there,
The evil face that twists my mind and brings me to despair.
Yeah!!!
The night was black, was no use holding back,
'Cause I just had to see, was someone
watching me.
In the mist, dark figures move and twist,
Was all this for real, or just some kind of hell.
Six, six, six the number of the beast.
Hell and fire was spawned to be released.
Torches blazed and sacred chants were praised,
As they start to cry, hands held to the sky.
In the night, the fires burning bright,
The ritual has begun, Satan's work is done.
Six, six, six the number of the beast.
Sacrifice is going on tonight.
This can't go on, I must inform the law.
Can this still be real or just some crazy dream.
But I feel drawn towards the evil chanting hordes,
They seem to mesmerize...can't avoid their eyes,
Six, six, six the number of the beast.
Six, six, six the one for you and me.

Ai de vocês todos sobre a terra e o mar
Pois o demônio enviou a besta com ódio
Porque ele sabe que o tempo é pouco...
Aqueles que tenham o entendimento conheçam
O número da besta
É um número de um homem
Seu número é seiscentos e sessenta e seis.
(Apocalipse Capítulo XIII versículo 18)
Fiquei só, minha mente estava vazia
Eu precisava de tempo
Para tirar as memórias de minha mente
O que eu vi, posso acreditar
Que o que vi naquela noite era real
E não apenas fantasia
O que eu vi, nos meus velhos sonhos
Eram reflexões da minha mente pervertida
Me encarando
Porque em meus sonhos, está sempre lá
A face demoníaca que deforma minha mente
Me leva ao desespero
A noite estava negra, não adiantava impedir
Pois eu só tinha de ver, alguém estava me observando
Na neblina figuras escuras se moviam e rodavam
Seria tudo isso de verdade ou algum tipo de inferno
666 o número da besta
Inferno e fogo são gerados para serem liberados
Tochas brilhavam e cantos secretos eram entoados
Quando eles começavam a gritar
Mãos eram erguidas ao céu
Na noite o fogo queimando brilhante
O ritual tinha começado
O trabalho de Satã estava feito
666 o número da besta
Sacrifício está acontecendo esta noite
Isso não pode continuar, devo informar a lei
Isto pode ser real ou algum sonho maluco?
Mas me sinto atraído
Pelas hordas demoníacas que cantam
Eles parecem me hipnotizar...
Não posso evitar seus olhos
666 o número da besta
666 aquele para você e eu
Eu estou voltando, eu irei retornar
E eu irei possuir seu corpo
E irei fazê-lo queimar
Eu tenho o fogo, eu tenho a força
Eu tenho o poder de fazer
O meu mal seguir seu curso
(Esta letra foi Baseada no filme The Omem II, A Profecia II).


(Number of the Beast, Iron Maiden)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

The Walrus

I am he
As you are he
As you are me
And we are all together
See how they run like pigs from a gun
See how they fly
I'm crying

Sitting on a cornflake
Waiting for the van to come
Corporation tee shirt
Stupid bloody tuesday
Man, you've been a naughty boy
You let your face grow long

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g'joob

Mister city
Policeman sitting
Pretty little policemen in a row
See how they fly like lucy in the sky
See how they run
I'm crying

Yellow matter custard
Dripping from a dead dog's eye
Crab a locker fishwife
Pornographic priestess
Boy, you've been a naughty girl
You let your knickers down
I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g'joob

Sitting in an english garden, waiting for the sun
If the sun don't come you get a tan
From standing in the english rain
Expert texperts choking smokers
Don't you think the joker laughs at you?
See how they smile like pigs in a sty
See how they snide
I'm crying

Semolina pilchard
Climbing up the Eiffel tower
Elementary penguin
Singin' hare krishna
Man, you should have seen them
Kicking Edgar Allan Poe

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g'joob


Eu sou ele
Assim como você é ele
Assim como você sou eu
E nós somos todos juntos
Veja como eles correm como porcos de uma arma
Veja como eles voam
Eu estou chorando

Sentado num floco de cereal
Esperando a van chegar
Camiseta de corporação
Maldita estúpida terça-feira
Cara, você é um menino pervertido
Você deixa seu rosto aumentar

Eu sou o intelectual
Eles são os intelectuais
Eu sou a morsa
bom, bom trabalho.

O Sr. Policial da cidade
está sentado
Belos guardinhas em fila.
Veja como eles voam como Lucy no céu
Veja como eles correm
Estou chorando

Creme de matéria amarelada
Pingando dos olhos de um cachorro morto
Esposa do caçador de caranguejo
Sacerdotisas pornográficas
Menino, você tem sido uma garota pervertida
Você abaixa sua calcinha
Sentado num jardim inglês esperando o sol
Se o sol não vier, você fica bronzeado
De ficar debaixo duma chuva inglesa.

Eu sou o intelectual
Eles são os intelectuais
Eu sou a morsa
bom, bom trabalho.

Escritores especialistas, fumantes sufocando
Você não acha que o bobo da corte sorri para você?
Veja como eles sorriem como porcos num chiqueiro
Veja como eles debocham
Estou chorando

Sardinha de semolina
Escalando a Torre Eiffel
Um pinguim elementar
Cantando Hari Krishna
Cara, você devia ter visto eles
Chutando Edgar Allan Poe

Eu sou o intelectual
Eles são os intelectuais
Eu sou a morsa
Bom bom bom trabalho.
(I'm The Walrus, Lennon-McCartney)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Diplomacia de discursos enviezados


A política externa brasileira passa por um momento singular. A ascensão de Lula da Silva ao poder, cercado por uma intellingetsia de esquerda que trata dos aspectos ideológicos nos bastidores, provocou uma guinada surpreendente na diplomacia, privilegiando um núcleo totalmente diferenciado na política internacional. Mesmo que os técnicos ainda hesitem em definir quais seriam realmente os rumos buscados pelo Itamaraty, é evidente a busca de um rol de contatos externos em vias alternativas, com um viés de autoafirmação no panorama mundial.

O pragmatismo do governo Lula, que deixa suas marcas profundas na forma de governar com todas as correntes, esvaziando ideologias e partidos em detrimento de vantagens momentâneas, mostra-se muito evidente na agenda diplomática, abrindo espaços para líderes de governos de alta rejeição internacional pelo caráter violento, pelas relações temperamentais, pelas fraudes constantes em processos democráticos, quando não por ditaduras que se perpetuam em históricos de sangue, perseguição e traições. Foi assim a surpreendente aproximação do governo Lula com personalidades como Muammar Kadhafi e ditadores africanos, atropelando o bom senso diplomático.

Agora, na contramão das principais potências ocidentais, o Brasil abriu as portas para o chefe do governo do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, envolvido na quizília internacional do enriquecimento de urânio para fins militares, em declarações polêmicas e desprovidas de senso como a negação do Holocausto, do antagonismo visceral contra o Estado israelense e os Estados Unidos, pelas denúncias de fraudes em eleições, além de um exercer um governo autoritário e violento. O interesse é óbvio: o Irã é um país em desenvolvimento, assentado sobre reservas de petróleo e carente de diversos produtos, de alimentos a máquinas, para o que o Brasil se apresenta como um fornecedor qualificado.

A visita de Ahmadinejad tem dois propósitos: fechar um ciclo de influência na América Latina - onde já conta com o suporte de Evo Morales, Fernando Lugo, Rafael Corrêa e, evidentemente, Hugo Chávez - visando apoio político que garanta a suspensão de sanções políticas e incremente o intercâmbio comercial com a região. Por sua vez, Lula inclui a intermediação sobre a questão nuclear, colocando-se como fiel interlocutor que amenize as desconfianças de Estados Unidos, França, Inglaterra, China, Rússia e Alemanha, e arranque um pacto de processamento que assegure o fim pacífico do sistema.

Neste sentido, Lula procura avançar como elemento-chave nas negociações envolvendo a paz no Oriente Médio, ao que a história deverá julgar a conveniência e o cacife que o governo brasileiro tem na diplomacia. O que é dispensável é permitir que esses encontros sirvam de palanque para personagens como Chávez e Ahmadinejad despejem impropérios contra o restante do mundo, em pantomima que oscila entre o trágico, o cômico e o irreal.

(Correio Popular, 24/11)

Strawberry Fields Forever

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever

Living is easy with eyes closed
Misunderstanding all you see
It's getting hard to be someone
But it all works out
It doesn't matter much to me

No one I think is in my tree
I mean it must be high or low
That is you can't you know tune in
But it's all right
That is I think it's not too bad

Always, no, sometimes, think it's me
But you know I know when it's a dream
I think, er, no I mean, er, yes
But it's all so wrong
That is I think I disagree

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever
Strawberry Fields forever

(I buried Paul!)


(Strawberry Fields Forever, Lennon/McCartney)

Geração mal-educada

As variáveis do comportamento humano fazem com que cada cultura dite um determinado padrão que é aceito pela sociedade, cada qual com suas características, hábitos, maneirismos e valores, que, confrontados com os interesses dos cidadãos, promovem a necessária harmonia social. Diferenças climáticas e culturais, hábitos alimentares, nível de educação imprimem formatos de comportamento muito diferenciados, a ponto de estrangeiros sempre serem constrangidos em situações embaraçosas.

Ao longo da história, as regras de convivência vêm se alterando, no compasso dos relacionamentos mais abertos e francos, que se vão moldando em atitudes determinadas pelos espaços conquistados individualmente e pelas opções que se inserem na vida moderna. A tecnologia da informação é, desde o final do século passado, um dos motes da transformação radical, aproximando pessoas, oferecendo alternativas de comunicação, novas linguagens, inaugurando uma era de relacionamentos muito mais amplos e sem fronteiras.

Um eixo comum entre todas as formas de relações é o conceito de civilidade, a capacidade de cada pessoa manter-se original e livre, preservando os valores e respeitando os limites impostos pelos demais. A educação exige que a cordialidade e o respeito sejam notáveis, e qualquer deslize é visto com altas reservas. As pessoas não podem simplesmente passar a agir de acordo com os próprios interesses, revertendo o conceito de comunidade e impondo às pessoas próximas incômodos e aborrecimentos por transgredir a ordem e a harmonia comunitária.

O Brasil vive uma situação peculiar pela forma de agir das pessoas. Tidos como um povo cordial, hospitaleiro e fácil de lidar, os brasileiros carregam também o estigma de ser um povo de formação social precária, de baixa educação formal, de hábitos controversos e de ter arraigado em sua a lei dos mais espertos. A criatividade e empreendedorismo que são a marca do talento nacional também se aplicam em comportamentos que arrepiam culturas mais tradicionais, que não aceitam gestos de incivilidade.

Não raro, as pessoas gostam de furar filas, escamotear valores, tirar proveito de oportunidades, comportar-se egoisticamente, tratando os semelhantes com descaso e desrespeito. O trânsito é bastante emblemático da profunda falta de educação dos brasileiros, que não costumam respeitar limites de velocidade, proibição de estacionamento, respeito aos pedestres e são costumeiramente desleixados em obedecer regras mínimas, como insistir em andar em pistas de ultrapassagem.

É fácil perceber a falta de civilidade das pessoas, flagrados em sua rotina como aproveitadores, deseducados, violentos e prontos para tirar vantagens de situações. Se alguns conseguem ver proveito em se aproveitar da permissividade, também é certo que a grande maioria está pronta para declarar condenáveis essas atitudes e classificar os falsos espertos como os otários da civilização.
(Correio Popular, 22/11)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

If you wanna be a bird

If you want to be a bird
Why don't you try a little flying
There's no denying
It gets you high

Why be shackled to your feet
When you've got wings
You haven't used yet
Don't wait for heaven
Get out and fly

Just glide there
Through the clear air
Making figure eights
Through the pearly gates
Where the soul and the universe meet

If you want to be a bird
It won't take much
To get you up there
But when you come down
Land on your feet

(If you wanna be a bird, The Holy Modal Rounders)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O espaço entre o discurso e o ambiente


O compromisso com o equilíbrio ambiental deve estar presente em todas as atividades, individuais, corporativas ou institucionais, em conjunto de esforços que garanta a sustentabilidade dos sistemas e contribua definitivamente para a recuperação do enorme passivo ambiental que se acumulou por séculos de atraso e ignorância. O mundo sofre hoje os efeitos negativos de ações inescrupulosas do passado, quando não se deu o devido crédito aos apelos conservacionistas em detrimento do crescimento acelerado e predatório.

Os esforços de convencimento dos ambientalistas começaram a reverberar com maior consistência a partir da segunda metade do século 20, de início timidamente, arregimentando a consciência das pessoas e levando ao engajamento de inúmeras organizações não governamentais ao redor do mundo. A II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, foi um marco de transformação, tendo como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e sobre como de reverter o processo de degradação ambiental. Conhecida mundialmente como Rio 92, a conferência foi a maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade tentando buscar soluções para o desenvolvimento sustentável das populações mais carentes do planeta. Foi deste encontro que sairam convenções, acordos e protocolos, como a Agenda 21, que comprometia as nações signatárias a adotar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, criando um Fundo para o Meio Ambiente, para ser o suporte financeiro das metas fixadas.

Agora o mundo se prepara para um novo encontro, em dezembro, com a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague. O objetivo desta feita é estabelecer intenções de redução de emissão de carbono na atmosfera, através de protocolos assinados por todos os países. As reuniões preparatórias já acontecem e o Brasil já tomou posição política para o evento, anunciado a meta de redução das emissões entre 38% e 42%, a partir principalmente de políticas que evitem o desmatamento da Amazônia, a economia agropecuária, sistemas de geração de energia e a substituição de combustíveis poluentes.

Importante no processo é a política de projetar o compromisso de reduzir os danos ambientais. Mesmo que os percentuais anunciados revelem apenas a meta de diminuir impactos futuros - em verdade, a intenção é poluir 40% menos do que se projeta para o período, não necessariamente uma redução dos atuais índices - o Brasil se esforça por se apresentar de maneira coerente e responsável em pauta que assume caráter prioritário na política entre as nações.

Outros países preparam também seus discursos de impacto e preocupação com o meio ambiente. As atenções especiais, no entanto, estarão focadas exatamente na equação do desenvolvimento econômico e a capacidade de dar um caráter de sustentabilidade, esse sim o principal tema de um encontro que visa estabelecer barreiras ambientalistas à sanha de crescimento a qualquer custo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Prelúdio para ninar gente grande

Quando estou nos braços teus

Sinto o mundo bocejar

Quando estás nos braços meus

Sinto a vida descansar.

No calor do teu carinho

Sou menino-passarinho

Com vontade de voar

Sou menino-passarinho

Com vontade de voar

(Prelúdio para ninar gente grande, Luiz Vieira)

sábado, 14 de novembro de 2009

Desaprendendo política em 20 anos


A história política de uma nação se escreve através de seus momentos mais importantes, que se encadeiam em causa e consequência inevitáveis, permitindo que sua análise forneça uma compreensão dos processos históricos determinantes e traga à tona motivações que levaram às alianças e improváveis aproximações que se percebem nos dias atuais.

Há exatos 20 anos, o Brasil colocava o ponto final em um de seus mais controversos períodos, assinalando o fim da ditadura militar e o nascimento de uma democracia que demandaria alguns anos para atingir o nível de consciência de uma geração inteira, desacostumada com o espírito crítico, com a participação ativista, com o direito elementar de se fazer ouvir e ter liberdade de desejar um futuro melhor de acordo com seus próprios padrões.

Ao fim de duas décadas com direitos tolhidos sob o jugo de um período de exceção, os brasileiros rearranjaram a casa e tomaram em suas mãos o destino da nação. Era o grito das Diretas Já!, um movimento de proporções inimaginadas, que levaria ao fim da ditadura pelos caminhos da não violência, da negociação política sem derramamento de sangue, pela retomada do poder pela sociedade livre e dona de seu destino.

As eleições de 15 de novembro de 1989 foram as primeiras diretas depois do golpe de 1964, consequência de um período de abertura que culminou com a eleição de Tancredo Neves e a posse de José Sarney, em circunstâncias que, hoje, explicam muito dos percalços percorridos pelo País nas décadas seguintes. O pleito veio cheio de simbolismos, trazendo uma nova geração, um sonho de mudança, uma oportunidade para reescrever a história com as letras fortes que imprimiram a Constituição Cidadã no ano anterior.

O número de 22 candidatos e a polarização final entre o discurso de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva e o de direita de Fernando Collor de Mello deveriam ser esperados. No rearranjo institucional, todas as tendências desejavam ser representadas e as linhas-mestras da nova política começaram a ser traçadas. Os passos seguintes são conhecidos: Collor inaugurou a sua República de Alagoas no Planalto e os mesmos jovens que pela primeira vez haviam votado viram o primeiro presidente da abertura sair pela porta dos fundos ao admitir a total incapacidade de gerenciar a crise política que se instalou a partir do Congresso.

O espelho da história é o reconhecimento dos fatos atuais. É possível entender o que acontece hoje, embora certas circunstâncias sejam realmente difíceis de explicar. Interessante observar que muitos dos personagens da época - relembrados em reportagem especial nesta edição - são hoje figuras proeminentes na política, aliados improváveis, apoiadores de ocasião, com discursos desconstruídos ao longo do tempo e das conveniências. Ao que a população assiste em indolente letargia, ansiosa por uma mobilização cívica que não se vê há exatos 20 anos.

Russians love their children too


In Europe and America, there's a growing feeling of hysteria
Conditioned to respond to all the threats
In the rhetorical speeches of the Soviets
Mr. Krushchev said we will bury you
I don't subscribe to this point of view
It would be such an ignorant thing to do
If the Russians love their children too

How can I save my little boy from Oppenheimer's deadly toy
There is no monopoly in common sense
On either side of the political fence
We share the same biology
Regardless of ideology
Believe me when I say to you
I hope the Russians love their children too

There is no historical precedent
To put the words in the mouth of the President
There's no such thing as a winnable war
It's a lie that we don't believe anymore
Mr. Reagan says we will protect you
I don't subscribe to this point of view
Believe me when I say to you
I hope the Russians love their children too

We share the same biology
Regardless of ideology
What might save us, me, and you
Is if the Russians love their children too


Russos


Na Europa e nos EUA

Há um crescente sentimento de histeria

Condicionado pela réplica de todas as ameaças

Num retórico discurso dos Soviéticos

O senhor Krushchev citou "Nós iremos acabar com vocês"

Eu não aprovo seu ponto de vista

Será de tal maneira uma coisa ignorante de se fazer

Se os russos amam suas crianças também


Como eu posso salvar meu pequeno garoto

Do assassino brinquedo de Oppenheimer?

Não há monopólio do senso comum

No outro lado do muro

Nós compartilhamos a mesma biologia

Apesar de não compartilhar a ideologia

Eu ecredito quando digo para você

Eu tenho esperança de que os russos amam suas crianças também


Não há exemplo histórico

Colocar palavras na boca do presidente?

Não existe coisa como guerra vitoriosa,

isto é uma mentira e nós não acreditaremos em mais nada

Senhor Reagan disse, "Ele irá proteger vocês"

Eu não confio no seu ponto de vista

Acredito quando digo a vocês

Eu tenho esperança de que os russos também amam suas crianças


Filas na Saúde

O provimento de um sistema de saúde pública de qualidade é a demanda maior do Estado, que acumula a responsabilidade de atender à população em ponto absolutamente sensível e que não dispõe de prazos que permitam postergações. A precariedade do sistema é evidente, a ponto do discurso político sempre pautar soluções que raramente são implementadas, mínimas diante do gigantesco passivo acumulado por todos os governos.

Os brasileiros, incapazes de custear o atendimento médico, ficam em sua maioria na dependência de planos de saúde particulares ou nas intermináveis filas nas portas de hospitais e postos de saúde. O sistema se revela ainda mais perverso se for considerada a contribuição compulsória de todo trabalhador por anos a fio, que lhe deveria garantir atendimento de saúde qualificado e aposentadoria, e que acaba sendo um estelionato institucional.

Sem opção, os pacientes deixam a grita e os protestos nas filas, enquanto aguardam atendimento para a própria vida, amargando prazos absurdos diante da urgência ditada pelas doenças, sofrimentos e humilhação, agravados pela falta de perspectiva de uma solução menos aguardada que uma mera guia de encaminhamento para exames.

Em reportagem na edição de quinta-feira, o Correio Popular mostrou o drama de pacientes de Campinas que não conseguem agendamento para exames oftalmológicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A fila chega a 14 mil pessoas, a espera é de meses e pode até passar de um ano, conforme depoimentos de pessoas que testemunharam a agonia de esperar indefinidamente por um gesto ou atitude de competência ou boa vontade.

Mais do que um problema localizado, a crise na Saúde é geral. A falta de médicos, o atraso de cirurgias, a dificuldade de agendar um simples exame, a luta para conseguir uma mera consulta são a rotina para milhões de pessoas, tratadas como peças de descarte de um processo que costuma apontar alternativas para o problema em vésperas de eleições. Ainda mais grave é que outros setores essenciais como transportes, educação e segurança sofrem da mesma carência e semelhante descaso.

Um País que se ufana de todas as conquistas recentes, alardeia aos quatro ventos o empréstimo de dinheiro a fundos internacionais como um sinal de independência, deveria se envergonhar de não ter capacidade e competência para suprir suas necessidades mais elementares.