quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O drama das chuvas


No exato instante em que representantes de todos os países se reuniam em Copenhague para discutir os efeitos das alterações climáticas e buscar um consenso que possa representar uma redução na emissão de gases poluentes na atmosfera, o Estado de São Paulo foi atingido por um nível extraordinário de chuvas, que levaram o caos a diversas regiões. Além das mortes trágicas, houve problemas sérios de alagamentos, deslizamentos, bloqueio de vias, interrupção de serviços, paralisação de serviços de transporte e comunicação, mostrando que a natureza consegue responder com vigor a todas as agressões perpetradas pelo ser humano.

O nível de precipitação foi considerado anormal por todos os especialistas, ainda que as mudanças violentas do clima venham sendo registradas com maior frequência. Os fenômenos climáticos incluem variáveis que se apresentam em ritmo diferente, que pode ser percebido por qualquer pessoa, que já não distingue períodos regulares em uma região onde as estações se sucedem sem alterações bruscas.

Não se pode atribuir os efeitos devastadores dos últimos temporais exclusivamente à questão do aquecimento global. A conclusão seria rasteira e pouco científica, pois até mesmo na desgraça há uma razoável sazonalidade que os estudiosos detectam. Pois a quantidade acumulada de chuva que se precipitou sobre a Capital paulista na terça-feira já não acontecera em 2007? Daí não se poder dizer que seria totalmente inesperada. Uma conjunção de fatores desfavoráveis culminou na tragédia registrada, desafiando a capacidade de gerenciamento dos governos, apressados em apresentar desculpas pelas falhas e jogar a culpa sobre a natureza inclemente.

Há que se reconhecer a gravidade da situação diante da imponderabilidade do clima, mas não se pode alegar que muitas providências podem ser antecipadas a partir de programas de prevenção a enchentes, isolamento de áreas de risco, atenção a ocupações irregulares, planejamento urbano que leve em consideração os períodos críticos de chuvas, a manutenção de canais de vazão da chuva - cada vez mais raros com o assoreamento de mananciais, entupimento de galerias e a dominação do concreto e asfalto no desenho das cidades.

O discurso recorrente de monitoramento de áreas com risco de enchentes, deslocamento de famílias, nada alivia o drama das famílias atingidas, que perdem seus bens, sua segurança e entes queridos. A consequência é fruto do desgoverno, da falta de ações objetivas para acabar com as enchentes que ocorrem com previsível regularidade. Para tanto, são necessários investimentos, competência, planejamento e atitude, e não apenas o inadmissível conformismo de apresentar as desculpas de praxe, culpar a natureza e esperar que as cenas trágicas e o drama das pessoas se repitam nos anos seguintes.

(Correio Popular, 11/12)

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