quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De novo, e ainda, a corrupção


Os efeitos nefastos da corrupção impregnada no serviço público podem ser medidos na exata proporção da falta de recursos para o cumprimento dos pressupostos constitucionais de governos e administradores, historicamente alheios às necessidades elementares da população enquanto carreiam volumes enormes de verbas públicas para seus bolsos - isso quando usam os bolsos.

O aproveitamento de oportunidades em benefício próprio é inato ao ser humano. Todos, de uma forma ou outra, buscam auferir vantagens que possam representar poder, conforto, segurança, qualidade de vida, benefícios. A diferença está em obter benefícios de forma ética, legal, por mérito, e não apropriar-se do direito dos outros, fraudar situações favoráveis, vender-se ao ilícito, roubar descaradamente, na certeza de um sistema que privilegia a impunidade e ensina que o crime, muitas vezes, compensa.

A política brasileira passa por um momento de preocupante fragilidade em suas instituições. As constantes denúncias têm mostrado governantes e parlamentares envolvidos em sucessivas e cada vez mais descaradas situações de desvio de dinheiro público, em desavergonhada apropriação de recursos que notadamente fazem falta na recomposição de um sistema de saúde adequado, no suporte de uma reformulação da educação em todos os níveis, na geração de riquezas que impliquem em mais empregos e vagas no empreendedorismo, na mitigação das desigualdades sociais.

Para a maioria dos cidadãos, a situação é de desânimo e falta de perspectiva. A solução em grande parte poderia vir pela reformulação das práticas políticas, a partir de uma revisão e aperfeiçoamento do sistema representativo, da administração pública, dos sistemas de controle e fiscalização. O problema é que muitos desses instrumentos devem ser aplicados pelos próprios envolvidos, obviamente desinteressados em alterar o status quo de forma que lhes afete os privilégios.

Mais que isso, já se diagnosticou que os atuais políticos vivem numa aura de excepcionalidade, como se realmente cressem viver em um mundo diferenciado, distante das agruras e preocupações dos cidadãos comuns, investidos de um poder extraordinário que lhes garante segurança, estabilidade e impunidade. A convicção é de que eles não estão fora do alcance da lei, mas muito além das fronteiras da decência, do compromisso, da ética. Muitas já nem raciocinam dentro de parâmetros aceitáveis e nos limites de suas prerrogativas de representação.

O momento é de tomada de decisão por parte da sociedade, que já criou instrumentos para qualificação do voto, do incentivo à responsabilidade eleitoral. Vários sites de organizações não-governamentais oferecem subsídios para a triagem ética de candidatos e há movimentos que pretendem barrar preliminarmente aqueles que apresentarem antecedentes na vida pública e privada que os possam incriminar. A divulgação desses mecanismos e todo esforço de conscientização dos eleitores são um passo fundamental para combater a corrupção. Se não definitivo, ao menos é essencial.

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