domingo, 6 de dezembro de 2009

Exageros contra fumantes

Todos os esforços que envolvem a preservação da saúde das pessoas são bem-vindos. A humanidade ainda está longe de ter uma percepção racional da necessidade de promoção do bem estar de cada pessoa como fator essencial e estabelecer políticas públicas consistentes que garantam este direito. Sem condições de bancar um atendimento de saúde adequado, o cidadão comum brasileiro é hoje refém dos serviços públicos que assumidamente não dão conta de atender à demanda e prover um sistema justo, universal e de qualidade a todos, jogando a maioria nas filas dos pronto-socorros, hospitais e postos de saúde à espera de uma simples consulta ou exame.
No setor de prevenção, alguns esforços se mostram mais eficientes e menos onerosos, despertando interesse de governantes e administradores pelos possíveis dividendos eleitorais. Ainda assim, são importantes peças para o resgate do direito inalienável à informação e recursos preventivos. Uma dessas frentes é justamente a cruzada antitabagista, que pretende incutir uma nova mentalidade nas pessoas, relativa aos efeitos nocivos do consumo de cigarros, educando e restringindo as facilidades para fumantes.
Neste teor, tramita pelo Congresso Nacional o projeto de lei que proíbe em todo o país o fumo em ambientes fechados de uso comum, atingindo bares, restaurantes, boates e shoppings. O exemplo vem de vários Estados onde já existe lei regulamentadora. São Paulo foi um dos primeiros e certamente o que adotou a medida mais rigorosa e criticada, banindo radicalmente o uso de cigarros em quaisquer ambientes, negando qualquer possibilidade de se criarem áreas reservadas para fumantes. O projeto de lei nacional prevê essa alternativa.
Alheio ao bom senso, o governador José Serra não discute que possa haver espaços em bares, restaurantes e empresas privadas para fumantes, o que torna sua versão da lei de uma radicalidade absurda. Bastaria criar condições ideais para que os não fumantes não fossem atingidos em seu direito de não serem incomodados com a fumaça indesejada, através de normas e padrões de construção.
Diz-se que quando se eleva uma voz em um ambiente, logo todos estão gritando. Assim tem sido o efeito da draconiana lei paulista; alguns cidadãos sentiram-se no direito de bradar e exigir seus direitos em bares e restaurantes, em atitudes desrespeitosas e acima do que preconiza a lei, portando-se como arautos e fiscais de uma nova moral descabida.
De qualquer maneira, os brasileiros logo se adaptam e até os excessos iniciais vão sendo superados, como o da primeira multa aplicada a casa noturna em Campinas, mesmo que os fumantes estivessem na calçada, ou da PUC de São Paulo, multada duas vezes por conta de estudantes que acenderam cigarros no pátio, e que corria o risco de ser fechada. Espera-se que, com a aprovação da lei federal, prevaleça o bom senso e todos os interesses possam ser atendidos, afastando o caráter fascista de quem se outorga o direito de impor soluções radicais em questões de hábitos e costumes, que costumam de resolver com serenidade.

Nenhum comentário: