segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Exploração de sonhos

Os chamados movimentos sociais sempre tiveram um papel fundamental na organização da sociedade, agregando grupos com propósitos definidos e estratégias para conseguir os intentos diante do Estado. A reivindicação adquire contornos legais quando feita de forma organizada, dentro dos pressupostos de legitimidade, urgência, segurança institucional e direito constitucional.

A capacidade de organização tem sido um trunfo da sociedade, que ao longo dos anos foi aperfeiçoando e dando forma aos meios reivindicatórios, elencando as necessidades e partindo para a luta atrás de soluções que podem depender da intervenção estatal ou se apoiar em recursos privados ou institucionais. Nos anos do Estado Novo até meados dos anos 60, o movimento sindicalista exerceu papel fundamental na construção da nação, mobilizando e politizando os trabalhadores, deflagrando um movimento que atravessaria décadas até desaguar na frente sindicalista de oposição à ditadura militar. Seu raio de influência na sociedade esmaeceu-se a partir dos anos 90, ainda que tenha alçado sua liderança à Presidência da República e levado à construção de um Estado corporativista.

Nos anos 80 do século passado, os movimentos sociais adquiriram um perfil diferenciado, sendo sua maior expressão os grupos alinhados à chamada Teologia da Libertação, que se desdobrava em trabalhos nas pastorais e infiltrou-se em grande parte das articulações sociais pendentes à esquerda. Foi a época do neosocialismo e a busca de um discurso e uma identidade para a esquerda brasileira, que se transformaria anos depois.

Um dos resquícios do radicalismo foi personificado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), aberto como uma organização voltada à reivindicação de uma ampla reforma agrária, mas que se desfigurou a ponto de perder a sua legitimidade a partir de atos de violência, política rasteira e ilegalidades. Uma das dissidências do MST vem de protagonizar mais uma invasão na região: um grupo de 500 invasores vem peregrinando desde Casa Branca e Mogi Mirim, instalando-se em propriedade particular às margens da Rodovia Adhemar de Barros, em Santo Antonio de Posse, em área preparada para plantio pelo proprietário, que solicitou à Justiça a reintegração de posse.

As condições das famílias são duras. Acampados em tendas improvisadas, com mulheres e crianças, sem condições de higiene, sem água, não podem trabalhar a terra, não têm perspectiva positiva de se instalarem definitivamente, provavelmente aguardam orientação de seus organizadores para saber qual o próximo destino, como títeres nas mãos de grupos que agem politicamente, utilizando a boa-vontade dos sem terra como massa de manobra.
É preciso inverter esta disposição. Grupos antissociais não deveriam utilizar os sonhos e esperanças de famílias inteiras, arrastando-os em promessas inviáveis e desafiando a lei com intenções obscuras que excedem o simples interesse por reforma agrária e uma terra para plantar.

(Correio Popular, 28/11)

The number of the Beast

"Woe to you, Oh Earth and Sea,
for the Devil sends the beast with wrath,
because he knows the time is short...
Let him who hath understanding reckon
the number of the beast for it is a human number,
it's number is Six hundred and sixty six"
I left alone, my mind was blank.
I needed time to think to get the memories from my mind.
What did I see, can I believe,
That what I saw that night was real
and not just fantasy.
Just what I saw, in my old dreams,
Were they reflections of my warped mind staring back at me.
'Cause in my dreams, it's always there,
The evil face that twists my mind and brings me to despair.
Yeah!!!
The night was black, was no use holding back,
'Cause I just had to see, was someone
watching me.
In the mist, dark figures move and twist,
Was all this for real, or just some kind of hell.
Six, six, six the number of the beast.
Hell and fire was spawned to be released.
Torches blazed and sacred chants were praised,
As they start to cry, hands held to the sky.
In the night, the fires burning bright,
The ritual has begun, Satan's work is done.
Six, six, six the number of the beast.
Sacrifice is going on tonight.
This can't go on, I must inform the law.
Can this still be real or just some crazy dream.
But I feel drawn towards the evil chanting hordes,
They seem to mesmerize...can't avoid their eyes,
Six, six, six the number of the beast.
Six, six, six the one for you and me.

Ai de vocês todos sobre a terra e o mar
Pois o demônio enviou a besta com ódio
Porque ele sabe que o tempo é pouco...
Aqueles que tenham o entendimento conheçam
O número da besta
É um número de um homem
Seu número é seiscentos e sessenta e seis.
(Apocalipse Capítulo XIII versículo 18)
Fiquei só, minha mente estava vazia
Eu precisava de tempo
Para tirar as memórias de minha mente
O que eu vi, posso acreditar
Que o que vi naquela noite era real
E não apenas fantasia
O que eu vi, nos meus velhos sonhos
Eram reflexões da minha mente pervertida
Me encarando
Porque em meus sonhos, está sempre lá
A face demoníaca que deforma minha mente
Me leva ao desespero
A noite estava negra, não adiantava impedir
Pois eu só tinha de ver, alguém estava me observando
Na neblina figuras escuras se moviam e rodavam
Seria tudo isso de verdade ou algum tipo de inferno
666 o número da besta
Inferno e fogo são gerados para serem liberados
Tochas brilhavam e cantos secretos eram entoados
Quando eles começavam a gritar
Mãos eram erguidas ao céu
Na noite o fogo queimando brilhante
O ritual tinha começado
O trabalho de Satã estava feito
666 o número da besta
Sacrifício está acontecendo esta noite
Isso não pode continuar, devo informar a lei
Isto pode ser real ou algum sonho maluco?
Mas me sinto atraído
Pelas hordas demoníacas que cantam
Eles parecem me hipnotizar...
Não posso evitar seus olhos
666 o número da besta
666 aquele para você e eu
Eu estou voltando, eu irei retornar
E eu irei possuir seu corpo
E irei fazê-lo queimar
Eu tenho o fogo, eu tenho a força
Eu tenho o poder de fazer
O meu mal seguir seu curso
(Esta letra foi Baseada no filme The Omem II, A Profecia II).


(Number of the Beast, Iron Maiden)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

The Walrus

I am he
As you are he
As you are me
And we are all together
See how they run like pigs from a gun
See how they fly
I'm crying

Sitting on a cornflake
Waiting for the van to come
Corporation tee shirt
Stupid bloody tuesday
Man, you've been a naughty boy
You let your face grow long

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g'joob

Mister city
Policeman sitting
Pretty little policemen in a row
See how they fly like lucy in the sky
See how they run
I'm crying

Yellow matter custard
Dripping from a dead dog's eye
Crab a locker fishwife
Pornographic priestess
Boy, you've been a naughty girl
You let your knickers down
I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g'joob

Sitting in an english garden, waiting for the sun
If the sun don't come you get a tan
From standing in the english rain
Expert texperts choking smokers
Don't you think the joker laughs at you?
See how they smile like pigs in a sty
See how they snide
I'm crying

Semolina pilchard
Climbing up the Eiffel tower
Elementary penguin
Singin' hare krishna
Man, you should have seen them
Kicking Edgar Allan Poe

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g'joob


Eu sou ele
Assim como você é ele
Assim como você sou eu
E nós somos todos juntos
Veja como eles correm como porcos de uma arma
Veja como eles voam
Eu estou chorando

Sentado num floco de cereal
Esperando a van chegar
Camiseta de corporação
Maldita estúpida terça-feira
Cara, você é um menino pervertido
Você deixa seu rosto aumentar

Eu sou o intelectual
Eles são os intelectuais
Eu sou a morsa
bom, bom trabalho.

O Sr. Policial da cidade
está sentado
Belos guardinhas em fila.
Veja como eles voam como Lucy no céu
Veja como eles correm
Estou chorando

Creme de matéria amarelada
Pingando dos olhos de um cachorro morto
Esposa do caçador de caranguejo
Sacerdotisas pornográficas
Menino, você tem sido uma garota pervertida
Você abaixa sua calcinha
Sentado num jardim inglês esperando o sol
Se o sol não vier, você fica bronzeado
De ficar debaixo duma chuva inglesa.

Eu sou o intelectual
Eles são os intelectuais
Eu sou a morsa
bom, bom trabalho.

Escritores especialistas, fumantes sufocando
Você não acha que o bobo da corte sorri para você?
Veja como eles sorriem como porcos num chiqueiro
Veja como eles debocham
Estou chorando

Sardinha de semolina
Escalando a Torre Eiffel
Um pinguim elementar
Cantando Hari Krishna
Cara, você devia ter visto eles
Chutando Edgar Allan Poe

Eu sou o intelectual
Eles são os intelectuais
Eu sou a morsa
Bom bom bom trabalho.
(I'm The Walrus, Lennon-McCartney)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Diplomacia de discursos enviezados


A política externa brasileira passa por um momento singular. A ascensão de Lula da Silva ao poder, cercado por uma intellingetsia de esquerda que trata dos aspectos ideológicos nos bastidores, provocou uma guinada surpreendente na diplomacia, privilegiando um núcleo totalmente diferenciado na política internacional. Mesmo que os técnicos ainda hesitem em definir quais seriam realmente os rumos buscados pelo Itamaraty, é evidente a busca de um rol de contatos externos em vias alternativas, com um viés de autoafirmação no panorama mundial.

O pragmatismo do governo Lula, que deixa suas marcas profundas na forma de governar com todas as correntes, esvaziando ideologias e partidos em detrimento de vantagens momentâneas, mostra-se muito evidente na agenda diplomática, abrindo espaços para líderes de governos de alta rejeição internacional pelo caráter violento, pelas relações temperamentais, pelas fraudes constantes em processos democráticos, quando não por ditaduras que se perpetuam em históricos de sangue, perseguição e traições. Foi assim a surpreendente aproximação do governo Lula com personalidades como Muammar Kadhafi e ditadores africanos, atropelando o bom senso diplomático.

Agora, na contramão das principais potências ocidentais, o Brasil abriu as portas para o chefe do governo do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, envolvido na quizília internacional do enriquecimento de urânio para fins militares, em declarações polêmicas e desprovidas de senso como a negação do Holocausto, do antagonismo visceral contra o Estado israelense e os Estados Unidos, pelas denúncias de fraudes em eleições, além de um exercer um governo autoritário e violento. O interesse é óbvio: o Irã é um país em desenvolvimento, assentado sobre reservas de petróleo e carente de diversos produtos, de alimentos a máquinas, para o que o Brasil se apresenta como um fornecedor qualificado.

A visita de Ahmadinejad tem dois propósitos: fechar um ciclo de influência na América Latina - onde já conta com o suporte de Evo Morales, Fernando Lugo, Rafael Corrêa e, evidentemente, Hugo Chávez - visando apoio político que garanta a suspensão de sanções políticas e incremente o intercâmbio comercial com a região. Por sua vez, Lula inclui a intermediação sobre a questão nuclear, colocando-se como fiel interlocutor que amenize as desconfianças de Estados Unidos, França, Inglaterra, China, Rússia e Alemanha, e arranque um pacto de processamento que assegure o fim pacífico do sistema.

Neste sentido, Lula procura avançar como elemento-chave nas negociações envolvendo a paz no Oriente Médio, ao que a história deverá julgar a conveniência e o cacife que o governo brasileiro tem na diplomacia. O que é dispensável é permitir que esses encontros sirvam de palanque para personagens como Chávez e Ahmadinejad despejem impropérios contra o restante do mundo, em pantomima que oscila entre o trágico, o cômico e o irreal.

(Correio Popular, 24/11)

Strawberry Fields Forever

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever

Living is easy with eyes closed
Misunderstanding all you see
It's getting hard to be someone
But it all works out
It doesn't matter much to me

No one I think is in my tree
I mean it must be high or low
That is you can't you know tune in
But it's all right
That is I think it's not too bad

Always, no, sometimes, think it's me
But you know I know when it's a dream
I think, er, no I mean, er, yes
But it's all so wrong
That is I think I disagree

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever
Strawberry Fields forever

(I buried Paul!)


(Strawberry Fields Forever, Lennon/McCartney)

Geração mal-educada

As variáveis do comportamento humano fazem com que cada cultura dite um determinado padrão que é aceito pela sociedade, cada qual com suas características, hábitos, maneirismos e valores, que, confrontados com os interesses dos cidadãos, promovem a necessária harmonia social. Diferenças climáticas e culturais, hábitos alimentares, nível de educação imprimem formatos de comportamento muito diferenciados, a ponto de estrangeiros sempre serem constrangidos em situações embaraçosas.

Ao longo da história, as regras de convivência vêm se alterando, no compasso dos relacionamentos mais abertos e francos, que se vão moldando em atitudes determinadas pelos espaços conquistados individualmente e pelas opções que se inserem na vida moderna. A tecnologia da informação é, desde o final do século passado, um dos motes da transformação radical, aproximando pessoas, oferecendo alternativas de comunicação, novas linguagens, inaugurando uma era de relacionamentos muito mais amplos e sem fronteiras.

Um eixo comum entre todas as formas de relações é o conceito de civilidade, a capacidade de cada pessoa manter-se original e livre, preservando os valores e respeitando os limites impostos pelos demais. A educação exige que a cordialidade e o respeito sejam notáveis, e qualquer deslize é visto com altas reservas. As pessoas não podem simplesmente passar a agir de acordo com os próprios interesses, revertendo o conceito de comunidade e impondo às pessoas próximas incômodos e aborrecimentos por transgredir a ordem e a harmonia comunitária.

O Brasil vive uma situação peculiar pela forma de agir das pessoas. Tidos como um povo cordial, hospitaleiro e fácil de lidar, os brasileiros carregam também o estigma de ser um povo de formação social precária, de baixa educação formal, de hábitos controversos e de ter arraigado em sua a lei dos mais espertos. A criatividade e empreendedorismo que são a marca do talento nacional também se aplicam em comportamentos que arrepiam culturas mais tradicionais, que não aceitam gestos de incivilidade.

Não raro, as pessoas gostam de furar filas, escamotear valores, tirar proveito de oportunidades, comportar-se egoisticamente, tratando os semelhantes com descaso e desrespeito. O trânsito é bastante emblemático da profunda falta de educação dos brasileiros, que não costumam respeitar limites de velocidade, proibição de estacionamento, respeito aos pedestres e são costumeiramente desleixados em obedecer regras mínimas, como insistir em andar em pistas de ultrapassagem.

É fácil perceber a falta de civilidade das pessoas, flagrados em sua rotina como aproveitadores, deseducados, violentos e prontos para tirar vantagens de situações. Se alguns conseguem ver proveito em se aproveitar da permissividade, também é certo que a grande maioria está pronta para declarar condenáveis essas atitudes e classificar os falsos espertos como os otários da civilização.
(Correio Popular, 22/11)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

If you wanna be a bird

If you want to be a bird
Why don't you try a little flying
There's no denying
It gets you high

Why be shackled to your feet
When you've got wings
You haven't used yet
Don't wait for heaven
Get out and fly

Just glide there
Through the clear air
Making figure eights
Through the pearly gates
Where the soul and the universe meet

If you want to be a bird
It won't take much
To get you up there
But when you come down
Land on your feet

(If you wanna be a bird, The Holy Modal Rounders)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O espaço entre o discurso e o ambiente


O compromisso com o equilíbrio ambiental deve estar presente em todas as atividades, individuais, corporativas ou institucionais, em conjunto de esforços que garanta a sustentabilidade dos sistemas e contribua definitivamente para a recuperação do enorme passivo ambiental que se acumulou por séculos de atraso e ignorância. O mundo sofre hoje os efeitos negativos de ações inescrupulosas do passado, quando não se deu o devido crédito aos apelos conservacionistas em detrimento do crescimento acelerado e predatório.

Os esforços de convencimento dos ambientalistas começaram a reverberar com maior consistência a partir da segunda metade do século 20, de início timidamente, arregimentando a consciência das pessoas e levando ao engajamento de inúmeras organizações não governamentais ao redor do mundo. A II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, foi um marco de transformação, tendo como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e sobre como de reverter o processo de degradação ambiental. Conhecida mundialmente como Rio 92, a conferência foi a maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade tentando buscar soluções para o desenvolvimento sustentável das populações mais carentes do planeta. Foi deste encontro que sairam convenções, acordos e protocolos, como a Agenda 21, que comprometia as nações signatárias a adotar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, criando um Fundo para o Meio Ambiente, para ser o suporte financeiro das metas fixadas.

Agora o mundo se prepara para um novo encontro, em dezembro, com a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague. O objetivo desta feita é estabelecer intenções de redução de emissão de carbono na atmosfera, através de protocolos assinados por todos os países. As reuniões preparatórias já acontecem e o Brasil já tomou posição política para o evento, anunciado a meta de redução das emissões entre 38% e 42%, a partir principalmente de políticas que evitem o desmatamento da Amazônia, a economia agropecuária, sistemas de geração de energia e a substituição de combustíveis poluentes.

Importante no processo é a política de projetar o compromisso de reduzir os danos ambientais. Mesmo que os percentuais anunciados revelem apenas a meta de diminuir impactos futuros - em verdade, a intenção é poluir 40% menos do que se projeta para o período, não necessariamente uma redução dos atuais índices - o Brasil se esforça por se apresentar de maneira coerente e responsável em pauta que assume caráter prioritário na política entre as nações.

Outros países preparam também seus discursos de impacto e preocupação com o meio ambiente. As atenções especiais, no entanto, estarão focadas exatamente na equação do desenvolvimento econômico e a capacidade de dar um caráter de sustentabilidade, esse sim o principal tema de um encontro que visa estabelecer barreiras ambientalistas à sanha de crescimento a qualquer custo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Prelúdio para ninar gente grande

Quando estou nos braços teus

Sinto o mundo bocejar

Quando estás nos braços meus

Sinto a vida descansar.

No calor do teu carinho

Sou menino-passarinho

Com vontade de voar

Sou menino-passarinho

Com vontade de voar

(Prelúdio para ninar gente grande, Luiz Vieira)

sábado, 14 de novembro de 2009

Desaprendendo política em 20 anos


A história política de uma nação se escreve através de seus momentos mais importantes, que se encadeiam em causa e consequência inevitáveis, permitindo que sua análise forneça uma compreensão dos processos históricos determinantes e traga à tona motivações que levaram às alianças e improváveis aproximações que se percebem nos dias atuais.

Há exatos 20 anos, o Brasil colocava o ponto final em um de seus mais controversos períodos, assinalando o fim da ditadura militar e o nascimento de uma democracia que demandaria alguns anos para atingir o nível de consciência de uma geração inteira, desacostumada com o espírito crítico, com a participação ativista, com o direito elementar de se fazer ouvir e ter liberdade de desejar um futuro melhor de acordo com seus próprios padrões.

Ao fim de duas décadas com direitos tolhidos sob o jugo de um período de exceção, os brasileiros rearranjaram a casa e tomaram em suas mãos o destino da nação. Era o grito das Diretas Já!, um movimento de proporções inimaginadas, que levaria ao fim da ditadura pelos caminhos da não violência, da negociação política sem derramamento de sangue, pela retomada do poder pela sociedade livre e dona de seu destino.

As eleições de 15 de novembro de 1989 foram as primeiras diretas depois do golpe de 1964, consequência de um período de abertura que culminou com a eleição de Tancredo Neves e a posse de José Sarney, em circunstâncias que, hoje, explicam muito dos percalços percorridos pelo País nas décadas seguintes. O pleito veio cheio de simbolismos, trazendo uma nova geração, um sonho de mudança, uma oportunidade para reescrever a história com as letras fortes que imprimiram a Constituição Cidadã no ano anterior.

O número de 22 candidatos e a polarização final entre o discurso de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva e o de direita de Fernando Collor de Mello deveriam ser esperados. No rearranjo institucional, todas as tendências desejavam ser representadas e as linhas-mestras da nova política começaram a ser traçadas. Os passos seguintes são conhecidos: Collor inaugurou a sua República de Alagoas no Planalto e os mesmos jovens que pela primeira vez haviam votado viram o primeiro presidente da abertura sair pela porta dos fundos ao admitir a total incapacidade de gerenciar a crise política que se instalou a partir do Congresso.

O espelho da história é o reconhecimento dos fatos atuais. É possível entender o que acontece hoje, embora certas circunstâncias sejam realmente difíceis de explicar. Interessante observar que muitos dos personagens da época - relembrados em reportagem especial nesta edição - são hoje figuras proeminentes na política, aliados improváveis, apoiadores de ocasião, com discursos desconstruídos ao longo do tempo e das conveniências. Ao que a população assiste em indolente letargia, ansiosa por uma mobilização cívica que não se vê há exatos 20 anos.

Russians love their children too


In Europe and America, there's a growing feeling of hysteria
Conditioned to respond to all the threats
In the rhetorical speeches of the Soviets
Mr. Krushchev said we will bury you
I don't subscribe to this point of view
It would be such an ignorant thing to do
If the Russians love their children too

How can I save my little boy from Oppenheimer's deadly toy
There is no monopoly in common sense
On either side of the political fence
We share the same biology
Regardless of ideology
Believe me when I say to you
I hope the Russians love their children too

There is no historical precedent
To put the words in the mouth of the President
There's no such thing as a winnable war
It's a lie that we don't believe anymore
Mr. Reagan says we will protect you
I don't subscribe to this point of view
Believe me when I say to you
I hope the Russians love their children too

We share the same biology
Regardless of ideology
What might save us, me, and you
Is if the Russians love their children too


Russos


Na Europa e nos EUA

Há um crescente sentimento de histeria

Condicionado pela réplica de todas as ameaças

Num retórico discurso dos Soviéticos

O senhor Krushchev citou "Nós iremos acabar com vocês"

Eu não aprovo seu ponto de vista

Será de tal maneira uma coisa ignorante de se fazer

Se os russos amam suas crianças também


Como eu posso salvar meu pequeno garoto

Do assassino brinquedo de Oppenheimer?

Não há monopólio do senso comum

No outro lado do muro

Nós compartilhamos a mesma biologia

Apesar de não compartilhar a ideologia

Eu ecredito quando digo para você

Eu tenho esperança de que os russos amam suas crianças também


Não há exemplo histórico

Colocar palavras na boca do presidente?

Não existe coisa como guerra vitoriosa,

isto é uma mentira e nós não acreditaremos em mais nada

Senhor Reagan disse, "Ele irá proteger vocês"

Eu não confio no seu ponto de vista

Acredito quando digo a vocês

Eu tenho esperança de que os russos também amam suas crianças


Filas na Saúde

O provimento de um sistema de saúde pública de qualidade é a demanda maior do Estado, que acumula a responsabilidade de atender à população em ponto absolutamente sensível e que não dispõe de prazos que permitam postergações. A precariedade do sistema é evidente, a ponto do discurso político sempre pautar soluções que raramente são implementadas, mínimas diante do gigantesco passivo acumulado por todos os governos.

Os brasileiros, incapazes de custear o atendimento médico, ficam em sua maioria na dependência de planos de saúde particulares ou nas intermináveis filas nas portas de hospitais e postos de saúde. O sistema se revela ainda mais perverso se for considerada a contribuição compulsória de todo trabalhador por anos a fio, que lhe deveria garantir atendimento de saúde qualificado e aposentadoria, e que acaba sendo um estelionato institucional.

Sem opção, os pacientes deixam a grita e os protestos nas filas, enquanto aguardam atendimento para a própria vida, amargando prazos absurdos diante da urgência ditada pelas doenças, sofrimentos e humilhação, agravados pela falta de perspectiva de uma solução menos aguardada que uma mera guia de encaminhamento para exames.

Em reportagem na edição de quinta-feira, o Correio Popular mostrou o drama de pacientes de Campinas que não conseguem agendamento para exames oftalmológicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A fila chega a 14 mil pessoas, a espera é de meses e pode até passar de um ano, conforme depoimentos de pessoas que testemunharam a agonia de esperar indefinidamente por um gesto ou atitude de competência ou boa vontade.

Mais do que um problema localizado, a crise na Saúde é geral. A falta de médicos, o atraso de cirurgias, a dificuldade de agendar um simples exame, a luta para conseguir uma mera consulta são a rotina para milhões de pessoas, tratadas como peças de descarte de um processo que costuma apontar alternativas para o problema em vésperas de eleições. Ainda mais grave é que outros setores essenciais como transportes, educação e segurança sofrem da mesma carência e semelhante descaso.

Um País que se ufana de todas as conquistas recentes, alardeia aos quatro ventos o empréstimo de dinheiro a fundos internacionais como um sinal de independência, deveria se envergonhar de não ter capacidade e competência para suprir suas necessidades mais elementares.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Crescimento nas sombras

Todo programa de empreendimento bem sucedido tem início pela correta avaliação do potencial da atividade, da disponibilidade de infraestrutura operacional, pela viabilidade comercial e pela segurança empresarial, garantida pela estabilidade das instituições, do equilíbrio econômico e pelas perspectivas de investimentos. Sem os fundamentos de segurança indispensáveis, não é possível lançar previsões ajustadas que possam oferecer aos empreendedores e investidores as bases dos negócios.

O Brasil vive um momento de extraordinárias possibilidades de crescimento, calçadas em um sistema econômico que agora oferece resultados, alavancando um futuro promissor que pode ser desenhado a partir a inserção do País em uma conjuntura global favorável. Poucas vezes na história brasileira se pôde vislumbrar oportunidade de alcançar um patamar de desenvolvimento como atualmente, mas as questões de infraestrutura chegam a ser preocupantes. É o caso do fornecimento de energia, setor crítico e essencial, por onde passam todas as metas de geração de riquezas e empregos. A ameaça de um apagão e racionamento que pende como ameaça desde o ano passado é tema recorrente, exigindo do governo Lula uma posição estratégica que sustente o discurso desenvolvimentista.

A falta de energia que atingiu grande parte do país na noite de terça e madrugada de ontem foi mais que um susto. Embora as causas e consequências não tenham sido devidamente apuradas e não permitam uma comparação com a crise de 2001, disparou o alarme da instabilidade do setor, que exige investimentos pesados, uma definição técnica de uma política energética consistente e sustentável e garantias claras que deem resguardo a todos os projetos de desenvolvimento.

A lição de 2001 precisa ser aprendida. Foram 260 dias em que a população se obrigou a baixar o consumo doméstico, desligando lâmpadas, geladeiras, eletrodomésticos, sob o risco de multa e cortes de energia. Nas empresas, o risco de consumo elevado exigiu esforço de contenção nos gastos e investimentos em sistemas geradores alternativos para não afetar produção. Ficou evidenciado que o setor público desdenhou a possibilidade de crise e coube ao empreendedor o ônus de compensação de investimentos.

A crise do setor elétrico tende a se agravar. A nomeação política de um ministro em setor estratégico mostra mais um equívoco do governo. Nem mesmo os erros de gestão que levaram ao apagão no governo de Fernando Henrique Cardoso foram suficientes para que se adotasse uma política consistente para o setor. O acidente desta semana pode ter justificativas técnicas imponderáveis, explicações que poderão tranquilizar a ansiedade dos que buscam garantias, desculpas que poderão minimizar os problemas individuais decorrentes do apagão. Mas será preciso mais que discursos para restabelecer a confiança em um governo que ocupa setores essenciais com o pagamento de faturas eleitorais.

A mulher é o negro do mundo

Woman is the nigger of the world
Yes she is...think about it
Woman is the nigger of the world
Think about it...do something about it

We make her paint her face and dance
If she won’t be slave, we say that she don’t love us
If she’s real, we say she’s trying to be a man
While putting her down we pretend that she is above us

Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don’t belive me take a look to the one you’re with
Woman is the slaves of the slaves
Ah yeah...better screem about it

We make her bear and raise our children
And then we leave her flat for being a fat old mother then
We tell her home is the only place she would be
Then we complain that she’s too unworldly to be our friend

We insult her everyday on TV
And wonder why she has no guts or confidence
When she’s young we kill her will to be free
While telling her not to be so smart we put her down for being so dumb

(Woman Is The Nigger Of The World, John Lennon-Yoko Ono)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Razão de saia curta


A questão da moral no seio da sociedade é um assunto de extrema delicadeza e de conveniente profundidade, de forma que o preconceito e a intolerância não se sobreponham aos direitos fundamentais de cada cidadão. Os limites de comportamento impostos às pessoas apenas refletem os padrões que são aceitos pela maioria, resultando no grau de aceitação de cada um em seu grupo de identificação ou de afinidades culturais.


A homogeneidade de comportamentos é inaceitável. As pessoas têm caráter e personalidade diferenciados, moldados a partir de inúmeros fatores psicológicos, físicos, culturais, éticos ou mesmo estéticos, com total liberdade de escolha pelo que lhes convêm, desde que respeitados os limites da transgressão de valores da mesma sociedade.O caso de flagrante intolerância envolvendo uma estudante da Universidade Bandeirante (Uniban), de São Bernardo do Campo, teve uma repercussão extraordinária pelo caráter inusitado dos fatos e seus desdobramentos, expondo um momento de intolerância e violência tolerados, onde vários princípios foram violados em nome de uma reação desmedida pela quebra de um pretenso padrão de moral da instituição.


Fica evidenciado que a universidade tem o direito natural de estabelecer os seus próprios padrões e rituais sociais, determinando os quesitos de disciplina, vestimentas, atitudes dentro da escola, em pacto aceito pelas partes. Mas têm também os educadores o compromisso e responsabilidade de manter o nível de relacionamento em suas instalações, não permitindo ou estimulando atitudes de agressão como as registradas no caso. Ao retroceder na intenção de expulsar a aluna envolvida no episódio, o reitor da Uniban cede posições ou busca uma saída menos comprometedora do que as evidenciadas nas primeiras manifestações, quando precipitou-se em julgamento moral que não lhe cabia.


Se a jovem teve algum comportamento indevido, nada justifica a escandalosa repressão a que foi submetida. A óbvia desproporção entre o fato de usar uma saia curta e a humilhação que lhe foi imposta mostra o quanto o espírito de descomprometimento com limites sociais está arraigado no espírito daqueles jovens, levados a uma espécie de catarse coletiva irresponsável, de fundo e motivações dificilmente explicáveis. Os jovens envolvidos demonstraram um laivo de desrespeito e infundada intolerância, não compatível com os hábitos e costumes dos mesmos estudantes, certamente expostos a situações onde as roupas e os atos não são menos ousados e nem por isso suscitam reações de violência.


O episódio apenas adquiriu tal proporção por conta da ampla exposição inicial na internet. Serve como um paradigma de reflexão sobre o comportamento da nova geração, conflituosamente dividida entre a liberdade e as indefinições de padrões. Uma geração que é bombardeada por imagens, conceitos, informações e cultura não pode deixar de lado o absoluto respeito ao direito dos demais e à natural diversidade de padrões morais e estéticos. Menos que isso é mera hipocrisia.

Mac Arthur Park

Spring was never waiting for us, girl,
it ran one step ahead
as we followed in the dance,
Between the parted pages that were pressed,
A love hot fevered like a striped pair of pants,
MacArthur Park is melting in the dark,
all the sweet, green icing flowing down.
Someone left the cake out in the rain,
I don't think I could take it,
`cause it took so long to bake it,
And I'll never have that recipe again, oh no!
I still see the yellow cotton dress
foaming like a wave upon the ground
Around your knees, and the birds
like tender babies in your hands,
And the old men playing checkers by the trees
There will be another song for me, for I will sing it
There would be another dream for me, someone will bring it
Oh, I will drink the wine while it is warm,
And never let you catch me looking at the sun
But after all the loves of my life, after all the loves,
You'll still be the one
I would take my life into my hands and I will use it,
I will win the worship in their eyes, and I will lose it
I will have all the things that I desire, and my passions
flow like rivers in the sky,
And after the loves of my life,
after all the loves of my life,
You'll still be the one


(Mac Arthur Park, Jimmy Webb)

domingo, 8 de novembro de 2009

Muro da Vergonha


A história do mundo não passa de um encadeamento lógico de ações que sucedaneamente criou o emaranhado de culturas, de identidades, de heranças étnicas e atavismos, construindo uma civilação que oscila entre a modernidade utópica e o atraso da barbárie que se fundamenta na violência, na intolerância, na arrogância. Desde os primórdios da história das civilizações, os confrontos, as disputas e a força são componentes decisivos, que explicam com clareza o caldo de influências que definem os tempos atuais. Conhecer a história é saber exatamente onde e por que cada povo fincou suas raízes.

O século 20 foi, certamente, um dos mais tumultuados e sangrentos de toda a história da humanidade. As transformações herdadas dos primórdios da Revolução Industrial desaguaram na ebulição geopolítica da Europa, onde as marcas do passado cravaram fundo na carne da sociedade, ansiosa por reaver seus valores e bens. O evento sangrento da Primeira Grande Guerra pareceu premonição do que seriam as décadas seguintes, de sede de poder, intolerância, desvalorização da vida, pulsações ideológicas que inevitavelmente levaram a conflitos bélicos.

A Segunda Guerra Mundial tem uma história peculiar, determinante da nova geopolítica do mundo, esquartejado em zonas de influência e pressão, com domínios regionais que seriam frequentemente questionados. Após o espólio das ocupações europeias e asiáticas, permaneceu um clima de absoluta tensão política e divisionária, claramente traduzida nas relações entre os blocos liderados pelos Estados Unidos da América e da União Soviética. A Guerra Fria se tornou o símbolo de um pacto de não agressão que se firmava sobre uma tênue linha de poderio bélico versus serviços de inteligência.

Nesse caldo de tensões, foi erguido o Muro de Berlim em 1961, ignóbil e ultrajante solução para um separatismo ditado pelas alianças dos países aliados, debruçados avidamente sobre os despojos dos alemães derrotados. As paredes, cercas e bloqueios dividiram famílias, comunidades, economias e o próprio mundo, separados pelo maniqueísmo ideológico que ainda resistiria por longos anos, sacrificando pessoas, nações e subjugando sonhos de liberdade. Em 1989, caíram simbolicamente as barreiras que promoveriam um novo tempo na relação entre as nações.

Hoje, os muros são diferentes: as cercas das desigualdades, da miséria extrema de alguns países, do alijamento do processo de desenvolvimento e globalização estão erguidas de forma eloquente; permanecem ainda os muros da ignorância e do fanatismo que dividem o mundo entre a paz e o terror; as fronteiras da arrogância ainda estão fechadas pela xenofobia e o preconceito. O mundo, ao celebrar os 20 anos da queda do Muro de Berlim, deve estar preparado para romper barreiras e mirar para um futuro que não envergonhe a sociedade.

sábado, 7 de novembro de 2009

Rondó da liberdade

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém
ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.

E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada
do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

(Carlos Marighella, São Paulo, Presídio Especial, 1939)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Vidas que se perdem

O enfrentamento das situações de morte varia de uma cultura para outra, mas em todos os casos, o drama das famílias e pessoas próximas deixa marcas profundas nos sentimentos de cada um. Da profunda reclusão ao mais natural comportamento, ditados pela moral social ou por crenças, todos os atos envolvem um imprescindível preito de respeito aos mortos, pranteados e velados até que levados a seu destino final.

Circunstâncias trágicas costumam colocar obstáculos ao direito de elaborar o luto e acompanhar os mortos a seu destino final. O crescimento das cidades, as circunstâncias sociais, as carências e a falta de estrutura provocam situações constrangedoras, inaceitáveis diante da fragilidade emocional de todos os envolvidos. O alto custo de um enterro coloca famílias em dificuldades, instadas a contar com a colaboração de pessoas próximas para dar um pouco dignidade ao ato de despedida de alguém querido. Nessas horas, tampouco os mecanismos oficiais são capazes de suprir o atendimento social, que deveria ser desembaraçado e dotado de eficiente suporte, não mascarado em custosos serviços negociados nas horas mais difíceis.

Na edição de domingo passado, o Correio Popular mostrou em detalhes um lado perverso do sistema, com o drama de pessoas falecidas não identificadas, jogadas em necrotérios sem a menor condição, vítimas do abandono e da distância de conhecidos, emaranhadas em questões burocráticas que não se prestam sequer para lhes dar um enterro digno. Literalmente, se deterioram em geladeiras defeituosas, à espera de soluções que se arrastam por meses ou anos.

A reportagem focou a situação trágica de Sumaré, onde a câmara frigorífica do Cemitério da Saudade apresenta defeito há seis meses e três corpos esperam por autorização judicial para serem enterrados. A manutenção e manuseio no local chega ao ponto de colocar em risco de saúde os funcionários, obrigados a entrar nas salas com roupas de proteção para enfrentar o odor demasiado forte. Em setembro, o corpo de um jovem chegou a ficar por 19 horas dentro de um carro funerário numa rua movimentada da cidade, à espera de uma solução ou um destino. Identificado dias depois, foi sepultado sem que a família pudesse velar o corpo.

Uma situação tão embaraçosa quanto inadmissível, fruto da insensibilidade dos responsáveis em emitir autorização para sepultamento e da incapacidade administrativa de prover um novo equipamento adequado. O caso de Sumaré é emblemático pelo enredo trágico, mas a carência não tem fronteiras. A estrutura disponível em muitos municípios beira a indigência e os mortos são tratados como descarte urgente.

Enquanto isto, a sociedade vira as costas para esses seres humanos a ponto de não conseguir identificá-los e ter que sepultá-los sem despedidas, sem acompanhamento, sem nomes, como se ali não estivesse a história de uma vida que se perdeu no anonimato.

(Foto: Augusto de Paiva/AAN)

Do It Again, The Beach Boys


It's automatic when I
Talk with old friends
The conversation turns to
Girls we knew when their
Hair was soft and long and the
Beach was the place to go

With suntanned bodies and
Rays of sunshine the
California girls and a
Beautiful coastline
Warmed up weather
Let's get together and
Do it again

With a girl the lonely sea looks good with your life
Makes your nighttimes warm and out of sight
Been so long
Hey now hey now hey now hey now hey now

Well I've been thinking 'bout
All the places we've surfed and danced and
All the faces we've missed so let's get
Back together and do it again

Limpeza no Congresso


A consciência popular vem se aperfeiçoando no Brasil, sendo maior o número de pessoas que adquirem conhecimento e discernimento das questões políticas. Os escândalos que têm pautado a vida pública no País levaram a população a um alto grau de indignação, fazendo com que muitos cidadãos se sentissem impotentes diante de tanta corrupção, bandalheira e impunidade. Os desacertos são tamanhos que o conceito desfrutado pela classe política é o mais rasteiro possível.

Em todas as análises, prevalece a opinião de que é necessário mudar, promover a mais profunda mudança institucional por que o País passou em décadas, resgatando a austeridade e a honestidade como valores morais. Os políticos são vistos hoje pela maioria como um bando de espertos que se locupletam à vista de todos, sem cerimônia, acumulando privilégios e benefícios imerecidos e descontextualizados. Em poucas palavras, a classe política é uma vergonha nacional, ainda que se possam pinçar alguns nomes que se sobrepõem à sujeira institucionalizada.
Diante da coronelização do poder, dos conluios vexaminosos em nome da governabilidade, do compadrio que tudo acoberta, da omissão da Justiça, sobra aos cidadãos o poder do voto, capaz de promover mudanças dentro de padrões constitucionais, elevando o nível da representação política, de forma a respaldar a legitimidade do exercício de mandatos eletivos. A cada eleição que se aproxima, renovam-se as expectativas de uma possível reforma do quadro político com a substituição dos envolvidos em escândalos. Frustradas esperanças, já que muitos políticos se mantêm com o voto de cabresto, alienado, comprometido com promessas falsas como as certidões de idoneidade.
Com a proximidade das eleições do próximo ano, já antecipadamente marcada pelos abusos de poder, de manipulação de recursos públicos e antecipação irregular de candidaturas, reacendem-se os movimentos independentes pela moralização na política. Algumas entidades ligadas ao combate à corrupção no País anunciaram um programa de conscientização do eleitorado para atingir uma pretensiosa meta de renovar 60% do Congresso Nacional.

A estratégia consiste em divulgar maciçamente o nome de deputados e senadores envolvidos em questões na Justiça, denúncias de corrupção, antecedentes comprometedores, além de procedimentos éticos como gastos com verbas indenizatórias, passagens aéreas, envolvimento com doadores de campanha. Nas últimas eleições, o índice de renovação dos quadros ficou na casa dos 40%.

A mudança da estrutura político partidária brasileira configura uma eleição onde deverão prevalecer valores individuais e projetos de grupos, deixando de lado o debate ideológico ou o perfil dos partidos, hoje transformados em agremiações com votos negociados na vazão dos interesses. Com isso, ganha força a perspectiva de uma melhora a partir de um voto crítico que identifique os melhores candidatos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O doping e a superação


A prática do esporte é considerada e aceita por todos como um instrumental perfeito para promover a integração das pessoas, estimular o espírito corporativo, desenvolver aptidões, moldar o caráter dos jovens e contribuir para a saúde pessoal. É através da atividade esportiva que crianças e jovens têm contato com as regras de disputa, ética, cortesia, incluindo a dinâmica de lutar para alcançar objetivos pessoais e grupais, identificação de metas e respeito ao próximo. Some-se a isso que o esporte é desafiador, prazeroso e recompensador.

A mescla de todas essas vantagens faz com que mais pessoas se mobilizem em disputas esportivas que em questões políticas e nacionalistas. Eventos como a Copa do Mundo e Olimpíadas são capazes de motivar multidões ao redor de todo o mundo, gerando um nível de interesse único que derruba fronteiras, barreiras e preconceitos. A disputa gera paixões e pretextos, unindo diferentes e aproximando companheiros, desafiando limites e marcando recordes a serem sucessivamente quebrados, como forma de superação constante.

Um quadro de tamanha magnitude só poderia ser imediatamente cercado de um aparato empresarial de dimensões globais que abarca todas as modalidades, impondo um conceito altamente profissional para os esportistas de elite. Agora, não são apenas os limites do corpo e do tempo que estão à prova, mas a busca pela audiência, pelo patrocínio, pela técnica mais moderna e eficaz, com métodos que nem sempre respeitam as razões, os atletas ou mesmo a ética.

Nesse contexto, torna-se cada vez mais comum a criação, aperfeiçoamento e uso de substâncias e procedimentos capazes de turbinar os corpos, alcançando marcas inimagináveis e elevando o padrão do esporte profissional a um nível acima do possível para qualquer cidadão comum. Ainda que o objetivo esportivo seja investigar até onde pode chegar o desempenho humano, existe um ligeiro consenso de que as medidas estejam se perdendo nas cobranças estendidas aos atletas e equipes.

O recente envolvimento da ginasta Daiane dos Santos em caso de doping afetou muito a imagem dos atletas brasileiros. Somente neste ano foram denunciados 26 casos, mostrando que a busca pelo melhor tempo, marca ou resultado passou a ser uma obsessão para muitos jovens, que se dispõem a quebrar regras, ultrapassar barreiras em nome de notoriedade ou contratos.
Os casos de doping se multiplicam em todo o mundo. Várias conquistas olímpicas foram questionadas e desconsideradas por mostrar que os super-homens das pistas e quadras cederam à tentação de se doparem para atingir aquele momento especial de superação. Triste é imaginar que toda a glória e reconhecimento, ao final, não passam de espanto e surpresa diante de uma máquina suicida que violenta o próprio organismo e subverte toda a lógica positiva do esporte.
(Correio Popular, 5/11)

Amazing Grace

Amazing Grace, how sweet the sound,
That saved a wretch like me.
I once was lost but now am found,
Was blind, but now I see.

T'was Grace that taught my heart to fear.
And Grace, my fears relieved.
How precious did that Grace appear
The hour I first believed.

Through many dangers, toils and snares
I have already come;
'Tis Grace that brought me safe thus farand
Grace will lead me home.

The Lord has promised good to me.
His word my hope secures.
He will my shield and portion be,
As long as life endures.

Yea, when this flesh and heart shall fail,
And mortal life shall cease,
I shall possess within the veil,
A life of joy and peace.

When we've been here ten thousand years
Bright shining as the sun.
We've no less days to sing God's praise
Than when we've first begun.

Amazing Grace, how sweet the sound,
That saved a wretch like me.
I once was lost but now am found,
Was blind, but now I see.

Amazing Grace, John Newton (1725-1807)

Graça maravilhosa! Quão doce é o som
Que salvou um miserável como eu
Eu estava perdido, mas fui encontrado
Estava cego, mas agora eu vejo

Foi a graça que ensinou ao meu coração a ter medo
E a graça aliviou meus medos
Quão preciosa essa graça apareceu
Na hora em que eu acreditei

Por muitos perigos, trabalhos pesados e armadilhas
Eu já passei
Essa graça que me trouxe em segurança de tão longe
E graça vai me levar pra o lar

O Senhor prometeu boas coisas para mim
Sua palavra segura minha esperança
Ele será meu escudo e quinhão
Enquanto a vida durar

E quando essa carne
E coração passarem
E a vida mortal cessar
Eu terei no vale
Uma vida de alegria e paz

Quando estivermos estado lá dez mil anos
Claro e brilhante como o sol
Não teremos menos dias para cantar e louvar a Deus
Que nos dias quando começamos

Graça maravilhosa!
Quão doce é o som
Que salvou um miserável como eu
Eu estava perdido, mas fui encontrado
Estava cego, mas agora eu vejo

Janis


"Todo mundo já esteve apaixonado e foi abandonado, e todo mundo já teve alguém que amou de verdade e que não foi capaz de amar. E isso é dor e é sofrimento, e é dessas coisas que eu falo quando canto, preciso acreditar nas palavras senão não consigo cantar. E lá estou eu expondo a minha alma, meus sentimentos, tudo o que tenho por dentro, e se olho a platéia e eles não estão entendendo, é como um soco na cara."


(Janis Joplin)