terça-feira, 24 de novembro de 2009

Geração mal-educada

As variáveis do comportamento humano fazem com que cada cultura dite um determinado padrão que é aceito pela sociedade, cada qual com suas características, hábitos, maneirismos e valores, que, confrontados com os interesses dos cidadãos, promovem a necessária harmonia social. Diferenças climáticas e culturais, hábitos alimentares, nível de educação imprimem formatos de comportamento muito diferenciados, a ponto de estrangeiros sempre serem constrangidos em situações embaraçosas.

Ao longo da história, as regras de convivência vêm se alterando, no compasso dos relacionamentos mais abertos e francos, que se vão moldando em atitudes determinadas pelos espaços conquistados individualmente e pelas opções que se inserem na vida moderna. A tecnologia da informação é, desde o final do século passado, um dos motes da transformação radical, aproximando pessoas, oferecendo alternativas de comunicação, novas linguagens, inaugurando uma era de relacionamentos muito mais amplos e sem fronteiras.

Um eixo comum entre todas as formas de relações é o conceito de civilidade, a capacidade de cada pessoa manter-se original e livre, preservando os valores e respeitando os limites impostos pelos demais. A educação exige que a cordialidade e o respeito sejam notáveis, e qualquer deslize é visto com altas reservas. As pessoas não podem simplesmente passar a agir de acordo com os próprios interesses, revertendo o conceito de comunidade e impondo às pessoas próximas incômodos e aborrecimentos por transgredir a ordem e a harmonia comunitária.

O Brasil vive uma situação peculiar pela forma de agir das pessoas. Tidos como um povo cordial, hospitaleiro e fácil de lidar, os brasileiros carregam também o estigma de ser um povo de formação social precária, de baixa educação formal, de hábitos controversos e de ter arraigado em sua a lei dos mais espertos. A criatividade e empreendedorismo que são a marca do talento nacional também se aplicam em comportamentos que arrepiam culturas mais tradicionais, que não aceitam gestos de incivilidade.

Não raro, as pessoas gostam de furar filas, escamotear valores, tirar proveito de oportunidades, comportar-se egoisticamente, tratando os semelhantes com descaso e desrespeito. O trânsito é bastante emblemático da profunda falta de educação dos brasileiros, que não costumam respeitar limites de velocidade, proibição de estacionamento, respeito aos pedestres e são costumeiramente desleixados em obedecer regras mínimas, como insistir em andar em pistas de ultrapassagem.

É fácil perceber a falta de civilidade das pessoas, flagrados em sua rotina como aproveitadores, deseducados, violentos e prontos para tirar vantagens de situações. Se alguns conseguem ver proveito em se aproveitar da permissividade, também é certo que a grande maioria está pronta para declarar condenáveis essas atitudes e classificar os falsos espertos como os otários da civilização.
(Correio Popular, 22/11)

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