domingo, 8 de novembro de 2009

Muro da Vergonha


A história do mundo não passa de um encadeamento lógico de ações que sucedaneamente criou o emaranhado de culturas, de identidades, de heranças étnicas e atavismos, construindo uma civilação que oscila entre a modernidade utópica e o atraso da barbárie que se fundamenta na violência, na intolerância, na arrogância. Desde os primórdios da história das civilizações, os confrontos, as disputas e a força são componentes decisivos, que explicam com clareza o caldo de influências que definem os tempos atuais. Conhecer a história é saber exatamente onde e por que cada povo fincou suas raízes.

O século 20 foi, certamente, um dos mais tumultuados e sangrentos de toda a história da humanidade. As transformações herdadas dos primórdios da Revolução Industrial desaguaram na ebulição geopolítica da Europa, onde as marcas do passado cravaram fundo na carne da sociedade, ansiosa por reaver seus valores e bens. O evento sangrento da Primeira Grande Guerra pareceu premonição do que seriam as décadas seguintes, de sede de poder, intolerância, desvalorização da vida, pulsações ideológicas que inevitavelmente levaram a conflitos bélicos.

A Segunda Guerra Mundial tem uma história peculiar, determinante da nova geopolítica do mundo, esquartejado em zonas de influência e pressão, com domínios regionais que seriam frequentemente questionados. Após o espólio das ocupações europeias e asiáticas, permaneceu um clima de absoluta tensão política e divisionária, claramente traduzida nas relações entre os blocos liderados pelos Estados Unidos da América e da União Soviética. A Guerra Fria se tornou o símbolo de um pacto de não agressão que se firmava sobre uma tênue linha de poderio bélico versus serviços de inteligência.

Nesse caldo de tensões, foi erguido o Muro de Berlim em 1961, ignóbil e ultrajante solução para um separatismo ditado pelas alianças dos países aliados, debruçados avidamente sobre os despojos dos alemães derrotados. As paredes, cercas e bloqueios dividiram famílias, comunidades, economias e o próprio mundo, separados pelo maniqueísmo ideológico que ainda resistiria por longos anos, sacrificando pessoas, nações e subjugando sonhos de liberdade. Em 1989, caíram simbolicamente as barreiras que promoveriam um novo tempo na relação entre as nações.

Hoje, os muros são diferentes: as cercas das desigualdades, da miséria extrema de alguns países, do alijamento do processo de desenvolvimento e globalização estão erguidas de forma eloquente; permanecem ainda os muros da ignorância e do fanatismo que dividem o mundo entre a paz e o terror; as fronteiras da arrogância ainda estão fechadas pela xenofobia e o preconceito. O mundo, ao celebrar os 20 anos da queda do Muro de Berlim, deve estar preparado para romper barreiras e mirar para um futuro que não envergonhe a sociedade.

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