sábado, 14 de novembro de 2009

Filas na Saúde

O provimento de um sistema de saúde pública de qualidade é a demanda maior do Estado, que acumula a responsabilidade de atender à população em ponto absolutamente sensível e que não dispõe de prazos que permitam postergações. A precariedade do sistema é evidente, a ponto do discurso político sempre pautar soluções que raramente são implementadas, mínimas diante do gigantesco passivo acumulado por todos os governos.

Os brasileiros, incapazes de custear o atendimento médico, ficam em sua maioria na dependência de planos de saúde particulares ou nas intermináveis filas nas portas de hospitais e postos de saúde. O sistema se revela ainda mais perverso se for considerada a contribuição compulsória de todo trabalhador por anos a fio, que lhe deveria garantir atendimento de saúde qualificado e aposentadoria, e que acaba sendo um estelionato institucional.

Sem opção, os pacientes deixam a grita e os protestos nas filas, enquanto aguardam atendimento para a própria vida, amargando prazos absurdos diante da urgência ditada pelas doenças, sofrimentos e humilhação, agravados pela falta de perspectiva de uma solução menos aguardada que uma mera guia de encaminhamento para exames.

Em reportagem na edição de quinta-feira, o Correio Popular mostrou o drama de pacientes de Campinas que não conseguem agendamento para exames oftalmológicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A fila chega a 14 mil pessoas, a espera é de meses e pode até passar de um ano, conforme depoimentos de pessoas que testemunharam a agonia de esperar indefinidamente por um gesto ou atitude de competência ou boa vontade.

Mais do que um problema localizado, a crise na Saúde é geral. A falta de médicos, o atraso de cirurgias, a dificuldade de agendar um simples exame, a luta para conseguir uma mera consulta são a rotina para milhões de pessoas, tratadas como peças de descarte de um processo que costuma apontar alternativas para o problema em vésperas de eleições. Ainda mais grave é que outros setores essenciais como transportes, educação e segurança sofrem da mesma carência e semelhante descaso.

Um País que se ufana de todas as conquistas recentes, alardeia aos quatro ventos o empréstimo de dinheiro a fundos internacionais como um sinal de independência, deveria se envergonhar de não ter capacidade e competência para suprir suas necessidades mais elementares.

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