segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sementes do amanhã

Ontem um menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã
Para não ter medo que esse tempo vai passar


Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, naça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar

Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será


(Sementes do amanhã, de Gonzaguinha)

domingo, 28 de setembro de 2008

Solito

O buço se altera vertiginosamente
No escape doloroso da rouquidão.
Doem n'alma as frestas da amargura
Correm por dentro animais estranhos,
Que se atiçam e lamentam a falta
Dos eternos marcos da solitude animal.

Cru

O universo se confunde entre meu peito e a razão
Tudo é diluido num som total, origem de todas as coisas.
Tudo me confunde entre o universo e a razão.
O som se dilui em todas as desgraças, origem de tudo.

Sofro quando penso, não penso quando vejo.
Frio, irracional. Cru, gelado, sem sorte.
Objeto: morrer com a arma da solidão da morte.
Acabar tão cedo seja necessário, para começar do fim!

Solitário, acabo sem fim. Morro sem ter vida.
Tudo passa tão rápido, não sinto.
Todos pensam tão lógicom bão penso.
Todos morrem tao cedo. Estou morto.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Descendência 9100

O bólido estoura na vastidão da engrenagem fértil
Criando a vida para a morte que vai viver
Vegetando,
Simulando,
Armando,
Amando.

Mecânico,
Sem sentido,
Sem direção,
Sem vontade sequer de viver
a artimanha de uma vida desarmada.

Chegando o semi-ser ao semi-final, seu destino,
Completa a volta reviravolta da constituição.
Dá-se a apocalíptica criação,
E morre.

Redescobrir

Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia

Como um animal que sabe da floresta, perigosa
Redescobrir o sal que está na própria pele, macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa, magia

Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Renascer da própria força, própria luz e fé, memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós, história
Somos a semente, ato, mente e voz, magia

Não tenha medo, meu menino povo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como se fosse dor, magia

(Luiz Gonzaga Jr.)

Liquidação

Criança do asfalto, olhe em torno de você
Veja a vida em prateleiras de liquidação.

Nos mostruários enormes de um supermercado,
Pequenos restos, sobras de uma existência sem igual.

Se você procurar bem, mas muito bem,
Como quem busca um preço antigo nas maravilhas de lata,
Há de encontrar lá no fundo, bem no fundo mesmo,
Uma alegria perdida entre cores e embalagens.

Por trás de cada lata, cada cor, cada fantasia,
A fantasia de um homem puro, sem embalagem,
Na busca desesperada de uma vida inútil:
vender a própria alma para liquidar a si mesmo.

domingo, 21 de setembro de 2008

A lista

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


(A Lista, de Oswaldo Montenegro)

Vermes

Vocês comem a carne mal-passada dos seus antepassados,
Regada ao sangue quente de seus filhos cegos.
Seguem, somem e se enterram
No passado que não conhecem e respeitam
Sem saber porquê

Não buscam razões, só afeto
E se entregam a um puro e odioso racionalismo,
Que sufoca, gera ódio
E nem sabem para quê

Vocês compram as vidas, sem saber viver
Vendem a própria consciência, sem saber do quê
Vocês roubam, torturam, entregam sem saber o quê
Vocês comem a vida e geram a comida de quem vai viver.
E vocês morrem. Sem saber porque.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O fim

"And, in the end, the love you take
Is equal to the love you make."

(The End, The Beatles, 1969 - última faixa do último álbum, Abbey Road)

Falsilands

O verde-malva malvinas
não resistiu ao sul
Atlântico Sul
Vento do Norte

Sabor de sorte
Ficou no ar
o cheiro da morte

Bicho ferido
Leão enfurecido
ergueu suas patas
sobre as frágeis ovelhas

Sobre a grama,
o amigo querido
e flores vermelhas

(Poema de 82, plena Guerra das Malvinas)

Campinas vista do alto

Espraiada em uma área de mais de 800 quilômetros quadrados, Campinas se revela em cada esquina. O relevo sinuoso permite, aqui e ali, vislumbrar seus contornos, seus cantos mais deslumbrantes, seus mistérios escondidos entre os prédios que abrigam seus moradores isolados. Altos e baixos, as paisagens vistas de cima se sucedem aos olhos de quem passa distraído, muitas vezes sem perceber a beleza de seus caminhos, a harmonia de seus telhados, a história de suas ruas.
Deitar um olhar atento sobre essas paisagens é como planar acima de seus problemas, além do dia-a-dia, muito longe de seus contratempos e conflitos, adiante de suas preocupações.

O princípio


1 No princípio, criou Deus os céus e a terra.
2 A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.
3 Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
4 E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
26 Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

31 Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.


(Gênesis - Capítulo 1)