terça-feira, 26 de maio de 2009

Tragédia que denuncia a insensibilidade

A organização de um evento de porte exige um grande aparato logístico que não é para amadores. Os detalhes de concepção, produção e acompanhamento dependem muito da categoria de profissionais que se formou ao longo dos anos e da tradição. Quando se fala em promover uma festa com dezenas de milhares de pessoas, a responsabilidade é amplificada enormemente, exigindo infraestrutura adequada de recepção, estacionamento, segurança, fluxo, equipamentos de som e iluminação ambiente, serviços gerais e pontos comerciais, harmonizados de forma a atender ao público e garantir diversão sem transtornos.

Os maiores eventos que ocupam a agenda popular são as chamadas festas de peão, hoje transformadas em palco de músicos de todos os gêneros, atraindo audiências diversificadas e sendo importantes atrativos de turismo, movimentando a economia das cidades envolvidas, gerando empregos e receita.

Quando falha o planejamento, a organização e o atendimento a todos os quesitos de segurança, as consequências são graves. A tragédia ocorrida neste final de semana durante a realização do rodeio de Jaguariúna, onde quatro jovens foram mortos pisoteados, lançou uma luz de reflexão sobre o risco de eventos deste porte, onde milhares de pessoas ficam sujeitas a situações de acidentes e danos que muitas vezes são acobertados pela pouca gravidade ou por passarem desapercebidos da maioria.

Depois dos acontecimentos da madrugada de sábado, não há mais como fazer vistas grossas à falta de organização destes eventos. O rodeio de Jaguariúna vem crescendo em importância e proporção ao longo dos anos, sendo cotado entre os três maiores do Estado de São Paulo. As programações são de alto nível e não são poucas as pessoas atraídas durante os três finais de semana do evento. Em anos anteriores já foram registrados problemas de organização, com congestionamentos enormes, entraves de acesso à arena de shows e rodeios, falta de estacionamento regulamentado, além dos inconvenientes típicos da aglomeração de jovens, associados ao consumo de bebidas, com o registro de brigas e atos importunos.

O episódio trágico deixou claro que faltou previsão dos organizadores, que não consideraram as condições de acesso e saída, a possibilidade de incidentes que exigissem circulação de seguranças, assistência médica. A superlotação foi o ingrediente fatal para que a diversão se transformasse no final dramático e agora se buscam os responsáveis. É preciso que estas festas estejam sujeitas a criteriosas normas, como os estádios de futebol que reduziram sua capacidade de público em nome da segurança.

A resposta mais pronta que se pode atribuir é a ganância que sobrepujou o bom senso, a irresponsabilidade que veio à tona a partir de uma série de detalhes que culminaram na morte de jovens inocentes. Lamentável ainda imaginar que houve a tentativa de manter a programação festiva durante o final de semana, no mesmo lugar, como se fosse possível buscar diversão diante da dor das famílias das vítimas e da sociedade, escandalizada com a falta de decoro em momentos tão difíceis.

(Correio Popular, 26/5)

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