segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cigarro, minhas delícias


Cigarro, minhas delícias,
Quem de ti não gostarás?
Depois do café, ou chá,
Há nada mais saboroso
Que um cigarro de Campinas
e fino fumo cheiroso?

Cigarro, quanto és ditoso!
Já reinas em todo mundo,
E esse teu vapor jucundo
Por toda parte esvoaça.
Até as moças bonitas
Já te fumam por chalaça !…

Sim; – já por dedos de neve
Posto entre lábios de rosa,
Em gentil boca mimosa
Tu te ostentas com vaidade.
Que sorte digna de inveja!
Que pura felicidade!

Anália, se de teus lábios
Desprendes subtil fumaça,
Ah! tu redobras de graça,
Nem sabes que encantos tens.
À invenção do cigarro
Tu deves dar parabéns.

(...)

Cigarro, minhas delicias,
Quem de ti não gostará?
Certo no mundo não há
Quem negue tuas vantagens.
Todos às tuas virtudes
rendem cultos e homenagens.

És do bronco sertanejo
Infalível companheiro;
E ao cansado caminheiro
Tu és no pouso o regalo;
Em sua rede deitado
Tu sabes adormentá-lo.

Tu não fazes distinção,
És do plebeu e do nobre,
És do rico e és do pobre,
És da roça e da cidade.
Em toda a extensão professas
O direito de igualdade.

Vem pois, ó meu bom amigo,
Cigarro, minhas delícias;
Nestas horas tão propícias
Vem dar-me tuas fumaças.
Dá-mas em troco deste hino,
Que fiz-te em ação de graças.

(Bernardo Gumarães, Rio de Janeiro, 1864)

Nenhum comentário: