quinta-feira, 30 de abril de 2009

Canto de um Povo de um Lugar



Todo dia o sol levanta
E a gente canta
Ao sol de todo dia

Fim da tarde a terra cora
E a gente chora
Porque finda a tarde

Quando a noite a lua mansa
E a gente dança
Venerando a noite

(Canto de um Povo de um Lugar, Caetano Veloso)

O papel real da educação nas escolas

A educação escolar é sempre apontada como o mais completo lenitivo contra a falta de cultura política, de civilidade e comportamentos inadequados de jovens. A formação acadêmica pretende mais do que simplesmente dotar crianças e jovens do estofo cultural, mas dotá-los de noções de convivência social, respeito, disciplina e interesse pelo conhecimento. Ao longo dos anos, as escolas aprimoraram seus projetos pedagógicos, tornando-se também a porta de entrada para uma existência sadia, de perfeita interação entre os docentes e alunos, em constante processo de aperfeiçoamento pessoal e coletivo.

Todos os indivíduos guardam sua vivência escolar as melhores lembranças, entre o aprendizado das disciplinas básicas, as amizades que atravessam os anos, o verdadeiro sentido de coleguismo e as experiências determinantes que desaguarão no adulto e profissional competentes e inseridos positivamente na sociedade. É nas escolas que se complementa a atenção familiar para a formação do cidadão, integrado pelos valores morais familiares e pelos ditames cobrados para sua completa inserção na sociedade.

O padrão ideal, no entanto, não pode ser estendido à realidade vivida por muitos estudantes, pressionados entre a visão prática de atingir metas de sucesso profissional ou o enfrentamento da dura verdade de escolas depredadas, professores desmotivados, falta de segurança, violência intramuros, currículos defasados, carga horária não cumprida totalmente, falta de formação mais extensiva. A esses problemas, soma-se a preocupação com a baixa frequência de estudantes nas escolas.

Segundo estudo divulgado nesta semana pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) os estudantes com idades entre 4 e 17 anos ficam, em média, apenas 3,8 horas por dia na escola, menos que o preconizado pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação. A ausência maior é na fixa de 15 a 17 anos, correspondente ao Ensino Médio, onde o número de horas diárias que o estudante passa na escola é 3,5. Vários fatores contribuem para esta realidade, como o desinteresse dos estudantes com o estudo, o descompromisso com a escola e o currículo, falta de professores e absoluta falta de alternativas complementares à educação.

Alguns esforços tentam corrigir esta deficiência. A extensão da jornada escolar tem sido buscada através de vários programas, esbarrando sempre na falta de estrutura adequada para atender à clientela em período maior. Da mesma forma. o governo federal aposta no programa Mais Educação, onde são repassados recursos para investimentos em instrumentos musicais e elementos para quadras poliesportivas.

Na realidade, faltam professores, monitores, bibliotecários, material pedagógico e mesmo um planejamento adequado que implique em ganho aos discentes e não apenas a tentativa de ocupá-los por mais algumas horas. É preciso que o investimento seja constante e ao passo da disponibilidade de professores melhor preparados e sem sobrecarga horária, e uma escola padrão que viabilize um relacionamento franco e produtivo com os estudantes, além de uma verdadeira experiência de vida.

(Correio Popular, 30/4)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Diversão

A vida até parece uma festa
Em certas horas isso é o que nos resta
Não se esquece o preço que ela cobra
(é meu irmão se a gente não quer!?)
Em certas horas isso é o que nos sobra.

Ficar frágil feito uma criança
Só por medo ou por insegurança
Ficar bem ou mal acompanhado
Não importa se der tudo errado

Às vezes qualquer um
Faz qualquer coisa
Por sexo, drogas e diversão
Tudo isso
Às vezes só aumenta
A angústia e a insatisfação
Às vezes qualquer um enche a cabeça de álcool
Atrás de distração, mas eu digo:
Nada disso
Às vezes diminui a dor e a solidão

Tudo isso, às vezes tudo é fútil
Ficar ébrio atrás de diversão
Nada disso, às vezes nada importa
Ficar sóbrio não é solução

Diversão, solução sim
Diversão, solução prá mim

(Diversão, Sérgio Britto & Nando Reis)

Transparência é a resposta à indignação


Muito se tem dito sobre a profunda crise institucional que abala as estruturas da política brasileira, levando a sociedade a um nível tal de desacorçoamento que projeta desânimo e descrença na própria democracia, como se aos políticos não coubesse qualquer sinal possível de confiança. Os escândalos são tantos que, a cada notícia, o anterior é quase esquecido, como se fosse inesgotável arsenal de abusos, corrupção, desmandos na República. Não apenas no Senado e na Câmara Federal, mas os problemas são verificados em todos os níveis de representação.

Em tempos de crise, de pressão sofrida por tantos desacertos, a atitude mais sensata é abandonar as posições extremamente defensivas e partir para projetos que possam resgatar o conceito de representatividade. Não se trata de defender um ou outro parlamentar, mas de prevalecer o preceito constitucional, estabelecendo instrumentos de regulamentação, de punição exemplar dos infratores e recondução do Parlamento à sua condição de fórum privilegiado dos interesses da sociedade.

Ao passo de questionar a validade das mordomias e benesses atribuídos aos poderes, cabe à sociedade cerrar fileiras no trabalho de fiscalizar a atuação de seus representantes, que agem como se não lhes coubesse qualquer prestação de contas a não ser pelos escaninhos obscuros da legislação que lhes permite abusos e gastos inaceitáveis. Neste ponto, a internet tem se apresentado como valioso instrumento, colocando às claras as ações públicas, dando tardia visibilidade a tudo o que se faz. Mesmo os mais recentes escândalos e denúncias se pautaram por sítios voltados à transparência, como o Congresso em Foco, que desmascarou a farra das passagens aéreas, ou o Transparência Brasil, bem cotado no período de eleição ao divulgar fichas de candidatos.

A transparência é devida por todos que exercem função pública. Choca a indignação de alguns vereadores que se manifestaram constrangidos de ter que prestar contas à população, dar publicidade de seus atos. É um erro legal e moral. Todo representante eleito tem o dever de agir com seriedade, sem medo do compromisso de se expor. Se há desconforto, as intenções são suspeitas. Em tempos de alta suspeição com a classe política, não há melhor antídoto do que a honestidade explícita.

(Correio Popular, 28/4)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Será?, de Anita Motta


Haverei sim de arrancar a faca cravada no peito...
Estancarei o sangue que restar
E olharei para trás, gotas vermelhas marcando o chão em todos os caminhos.
Olharei a imensa ferida-coração, aberta, escancarada.
Buscarei agulha e linha. Sim, haverei de costurar parte a parte, paciência infinita, até terminar.

Até olhar e reconhecer de novo um coração,
não importam os remendos.
Apenas, de novo, um coração...
Um coração novo com força pra pulsar vida!

E cuidarei então dos pés e pernas.
Que com tanta força imaginei poderem caminhar...
Agora tão enfrequecidos.
Tudo farei para fortalecê-los.

Vou tirar cada espinho.
No lugar, pomada feita de perfumes e esperança.
Esperança na coragem, na busca de novos caminhos.
Passo a passo, suavemente, em grama verdinha.
Terra úmida lançando no ar fragrâncias de vida...

Voltar-me-ei então para braços e mãos.
Aqueles mesmos que sonhei tão abertos, capazes de conter o mundo.
Braços e mãos agora caídos, sem força sequer para o próprio abraço...

E buscarei em minha mente restos de todos os sonhos.
Ecos. Imaginando que algo ainda seja possível...
Algo mais que castelos de areia soltos ao vento.
Apenas em algo de tudo que poderia ter sido.

(Será?, texto de Anita Motta)

Deixa-me ouvir o que não ouço...

Deixa-me ouvir o que não ouço...
Não é a brisa ou o arvoredo;
É outra coisa intercalada...

É qualquer coisa que não posso
Ouvir senão em segredo,
E que talvez não seja nada...

Deixa-me ouvir...
Não fales alto!
Um momento !...

Depois o amor,
Se quiseres...
Agora cala!

Tênue, longínquo sobressalto
Que substitui a dor,
Que inquieta e embala...

O quê? Só a brisa entre a folhagem?
Talvez... Só um canto pressentido?
Não sei, mas custa amar depois...

Sim, torna a mim, e a paisagem
E a verdadeira brisa, ruído...
Vejo-me, somos dois...

(Deixa-me ouvir o que não ouço, Fernando Pessoa)

domingo, 26 de abril de 2009

A crise que ronda o STF


O Brasil está passando por uma grave crise institucional que atinge indistintamente todos os poderes da República, abalados por inusitada sequência de escândalos que não mede termos, profundidade nem extensão, com repercussão além das fronteiras. Diariamente a sociedade é confrontada com denúncias de graves abusos de poder e influência, que se renovam quando se esperava não haver mais possibilidade de suscetibilizar a opinião pública.

Desde as denúncias que levaram ao impeachment do presidente Fernando Collor de Melo até o caso do mensalão ainda no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a sociedade foi pautada por escândalos que mostram uma cultura enraizada de corrupção, de malversação de verbas públicas, de uma impunidade arrogante que não permite a necessária releitura do papel das instituições políticas. Desde então, a crise política segue um encadeamento nefasto de acontecimentos que minam a estabilidade republicana.

Fechado em copas, o Judiciário também enfrenta os seus problemas internos com menor repercussão pública. São necessários fatos notórios para expor as divergências e as irregularidades que se cometem, especialmente quando o fator político se insere nas decisões. Eventualmente, as rusgas acontecem a olhos vistos, como a ríspida discussãoentre os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira. Os panos quentes lançados posteriormente não foram suficientes para abafar a péssima repercussão do destempero na Corte.

Ao acusar o presidente do Supremo de destruir a Justiça deste País, o ministro Barbosa apenas deu voz a um sentimento que parece estar engasgado há tempos e não apenas em sua própria garganta. A discussão não foi serena, tampouco normal. Os termos foram extremamente agressivos, as insinuações graves, denotando haver muito mais divergências que as aparentes. Diante de fatos como esses, a população permanece aflita em relação à aplicação da Justiça neste País, com um poder nunca tão questionado e de imagem fragilizada.

Ao contrário do que o presidente Lula pressupõe, o bate boca ministerial não é bom para a democracia. A relação entre os membros do STF está profundamente desgastada – e não somente pela discussão – escancarando a ingerência política nos procedimentos. Gilmar Mendes foi indicação de Fernando Henrique Cardoso e Joaquim Barbosa veio do berço petista. Não fosse grave o atrito verbal dos ministros, é bom lembrar que as diatribes têm surgido com incômoda frequência nas audiências do STF, não por acaso envolvendo o mesmo Barbosa.

Se há algo positivo no escândalo que dominou o interesse da semana, é que as chagas foram expostas, os problemas apontados e o aperfeiçoamento democrático institucional somente se dará pelo enfrentamento das denúncias e aperfeiçoamento constante do sistema. Sem meias palavras e insinuações, mas no debate aberto e transparente, com o afastamento dos culpados que houver.

(Correio Popular, 26/4)

sábado, 25 de abril de 2009

Como 2 e 2

Quando você me ouvir cantar
Venha não creia eu não corro perigo
Digo não digo não ligo, deixo no ar
Eu sigo apenas porque eu gosto de cantar
Tudo vai mal, tudo
Tudo é igual quando eu canto e sou mudo
Mas eu não minto não minto
Estou longe e perto
Sinto alegrias tristezas e brinco

Meu amor
Tudo em volta está deserto tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco

Quando você me ouvir chorar
Tente não cante não conte comigo
Falo não calo não falo deixo sangrar
Algumas lágrimas bastam pra consolar
Tudo vai mal, tudo
Tudo mudou não me iludo e contudo
A mesma porta sem trinco, o mesmo teto
E a mesma lua a furar nosso zinco

(Como 2 e 2, de Caetano Veloso)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O penúltimo degrau das ignomínias

A classe política não perde a oportunidade para se mostrar enfraquecida moralmente para a população, acumulando denúncias que a fazem cada vez mais vulnerável, menos digna de crédito, à beira da repulsa por parte dos cidadãos que estão no limite da tolerância diante de tantos abusos. Em todos os níveis, o que se vê é uma categoria que se entende como uma casta especialmente ungida, que se autoconcede benefícios e vantagens através de artifícios legais ou na mais pura desfaçatez, como se nada lhes pudesse atingir.

A enorme distância da realidade vivida pelos parlamentares brasileiros e a imensa maioria da população é resultado de um estado de ignorância política que assola a Nação, raramente confrontada com tantos desmandos, roubos, corrupção e imoralidades que grassam nas Câmaras, Assembleias e no Congresso, com inequívocas ramificações nos gabinetes de todos os poderes, irmanados na faina de desviar recursos e esvaziar os cofres públicos, tão pequenos diante de tantas necessidades sociais.

O mais recente escândalo que abalou o mundo político diante da opinião pública é a farra das passagens aéreas, com os parlamentares lançando mão de vantagens incríveis, como levar familiares, amigos e amantes por todo o Brasil e até ao Exterior, como se o mundo lhes devesse o tapete estendido da majestade e ilimitados poderes. Quando o caso tomou as manchetes dos jornais e as conversas dos cidadãos, os políticos apressaram-se em dar respostas que, se não risíveis pela ingenuidade, revoltantes por estarem muito distantes do que se espera em termos de transparência e moral.

O presidente da Câmara Federal, Michel Temer, anunciou o corte das passagens aéreas franqueadas aos deputados, ao passo em que anunciou a negociação de aumento do salário dos parlamentares à razão de 50%. Mais uma vez, a classe política se desmoraliza e tenta jogar para baixo do tapete a realidade que mostra um grupo de pessoas inoperantes, vendidas a qualquer tentação de negociação de votos, aplicados na conquista de vantagens, a ponto de abafar as melhores intenções que tentam sobreviver em meio a tanta ignomínia.

Os casos relatados são uma afronta à moral e ao bom senso, achincalhando a classe política e levando de roldão até mesmo aqueles que tentam construir uma história pessoal ilibada. O deputado federal Fernando Gabeira é exemplo típico. Flagrado na situação de ter cedido passagens aéreas a terceiros, confessou-se culpado de não ter percebido o quanto seu gesto é imoral e que se deixou agir assim, acriticamente, porque essa era a regra no Congresso.

Esta situação de uma imoralidade vir a público, expondo os políticos a situações vexaminosas explica em parte o porquê de muitos brasileiros agirem incivilizadamente. A degradação moral é cultural, perigosamente incorporada no dia a dia das pessoas, desde aqueles que jogam um papel no chão que já está sujo, como aqueles que usam o dinheiro público irresponsavelmente, apenas porque todo mundo faz.

A questão é que nem todo mundo suja o chão ou é desonesto.


(Correio Popular, 24/4)

Raízes, de Renato Teixeira

Galo cantou
Madrugada na campina
Manhã menina
Tá na flor do meu jardim
Hoje é domingo
Me desculpe eu tô sem pressa
Nem preciso de conversa
Não há nada prá cumprir
Passar o dia
Ouvindo o som de uma viola
Eu quero que o mundo agora
Se mostre pros bem-te-vi
Mando daqui das bandas do rural lembranças
Vibrações da nova hora
Prá você que não tá aqui

Amanhecer é uma lição do universo
Que nos ensina
Que é preciso renascer
O novo amanhece
O novo amanhece

Já tem rolinha
Lá no terreiro varrido
E o orvalho brilha
Como pétalas ao sol
Tem uma sombra
Que caminha pras montanhas
Se espelhando feito alma
Por dentro do matagal
E quanto mais
A luz vai invadindo a terra
O que a noite não revela
O dia mostra prá mim
A rádio agora
Tá tocando Rancho Fundo
Somos só eu e mundo
E tudo começa aqui

Amanhecer é uma lição do universo
Que nos ensina
Que é preciso renascer
O novo amanhece
O novo amanhece

(Raízes, Renato Teixeira)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Uma política fétida



A torrente de denúncias contra os atos de políticos em todos os níveis tem o pendor de criar um clima de profunda indignação na população, às portas da intolerância e com diminuída capacidade de distinguir o que é justo e o que é legal e moralmente aceitável. Já não se separa o joio do trigo; a mesma indiferença que afasta do leitor comum o espírito crítico e a capacidade discriminatória, também faz com que os bons e honestos – que ainda existem, acreditem – sejam vistos pelo mesmo prisma distorcido da corrupção e do favorecimento.


É bem verdade que os fatos atropelam a realidade. Tantas denúncias de corrupção, por tanto tempo, apenas reforçam a impressão de que tudo o que se faz, das Prefeituras a Brasília, tem um quê de aproveitamento indevido da função, de mordomia exacerbada, de desvio de verbas públicas, de corrupção escancarada que se justificam com dispositivos que “legalizam” os benefícios. À desfaçatez dos políticos, junta-se o tempero do compadrio, do protecionismo cúmplice, do corporativismo comprometedor, que tenta abafar sistematicamente a péssima repercussão dos atos ignóbeis.
Mesmo quando se divulgam informações sobre gastos legalizados de vereadores, deputados e senadores, o que se revela é um perverso mecanismo de autofavorecimento e acobertamento de privilégios inaceitáveis, na contramão de toda a sociedade, instada a promover ações de contenção de despesas, de moralização da vida pública, de sobriedade de gastos em todos os níveis.

O Congresso está imerso na péssima repercussão do uso das verbas extras. As tímidas mudanças anunciadas apenas reduzem a margem de ação dos aproveitadores. Fica devendo a regulamentação das verbas que sejam absolutamente necessárias ao exercício do mandato, cortando abusos imorais, gastos feitos com a desfaçatez de quem não se dá conta do fosso que se cava entre a opinião pública e o fétido usufruto de mordomias indevidas.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

You got a friend


When you're down and troubled
and you need a helping hand
and nothing, ooh, nothing is going right.
Close your eyes and think of me
and soon I will be there
to brighten up even your darkest nights.

You just call out my name,
and you know wherever I am
I'll come running, oh yeah baby
to see you again.

Winter, spring, summer or fall,
all you have to do is call
and I'll be there, yeah, yeah, yeah
You've got a friend.

If the sky above yous
hould turn dark and full of clouds
and that old north wind should begin to blow
Keep your head together and call my name out loud
and soon I will be knocking upon your door.

People can be so cold.
They'll hurt you and desert you.
Well they'll take your soul if you let them.
Oh yeah, but don't you let them.

You just call out my name,
and you know wherever I am
I'll come running to see you again.
Oh babe, don't you know that,
Winter, spring, summer or fall,
Hey now, all you've go to do is call.
Lord, I'll be there, yes Iwill.
You've got a friend.

Você tem um amigo


Quando você estiver abatida e preocupada
E precisar de uma ajuda,
E nada, nada estiver dando certo,
Feche seus olhos e pense em mim
E logo eu estarei aí
Para iluminar até mesmo suas noites mais sombrias.
Apenas chame alto meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja
Eu virei correndo
Para te encontrar novamente.

Inverno, primavera, verão ou outono,
Tudo que você tem de fazer é chamar.
E eu estarei lá, sim, sim, sim,
Você tem um amigo.

Se o céu acima de você
Tornar-se escuro e cheio de nuvens
E aquele antigo vento norte começar a soprar,
Mantenha sua cabeça sã e chame meu nome em voz alta
E logo eu estarei batendo na sua porta.
Ei, não é bom saber que você tem um amigo?
As pessoas podem ser tão frias,
Elas te magoarão e te abandonarão
E então elas tomarão sua alma se você lhes permitir
Oh, sim, mas não permita

Apenas chame alto meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja
Eu virei correndo para te encontrar novamente.
Você não entende que
Inverno, primavera, verão ou outono,
Ei, agora tudo que você tem a fazer é chamar?
Senhor, eu estarei lá, sim eu estarei,
Você tem um amigo...


(You've Got A Friend, Carole King)




terça-feira, 21 de abril de 2009

Sonhos de crack e games

A base da construção de uma sociedade é a formação de crianças e jovens, amparados pela sociedade contra a violência, a falta de cultura e de cidadania, angariando uma descendência que tenha condições de lutar pelos seus direitos e liberdades sem se render às pressões nefastas do mundo. O conceito de uma geração sadia vai além dos cuidados como corpo e aparência, estende-se a todos os preceitos sociais e intelectuais.

O comportamento das pessoas muda ao sabor das novidades, dos avanços da comunicação, das referências individuais e grupais, exigindo constante adaptação às novas linguagens e modismos, em evolução de sentidos, exigências para a convivência, cobranças sociais e profissionais. Os problemas são superados a partir da estrutura familiar, a formação escolar acadêmica e social, a vida comunitária e o desenvolvimento de aptidões adultas de trabalho e realização.

Os adolescentes têm uma característica especial de comportamento, reflexo de seu caminho para a autoafirmação e maturidade, nem sempre cumprido com serenidade e coerência, desafiando pais e educadores com atitudes de quase bipolaridade. No mais das vezes, os resultados são normais e o ciclo da vida segue o seu curso. Em alguns casos, exigem dura intervenção para que os jovens não se percam em sua própria contradição.

Nos tempos mais modernos, o comportamento adolescente têm suscitado graves preocupações. O uso abusivo de drogas e o comportamento rebelde da maioria dos jovens definem um quadro cultural muito claro, onde o compromisso moral, o cuidado com o corpo e a mente são detalhes deixados ao largo, dando lugar a baladas constantes, uso da violência como forma de expressão, da incivilidade como padrão.

Duas reportagens recentes do Correio Popular mostram um recorte da realidade vivida por muitas crianças e adolescentes, geralmente à margem da percepção dos pais, reflexo de uma cultura de violência cada vez mais presente no dia-a-dia das pessoas. O uso de cocaína e crack por crianças mostra o quanto a cultura das drogas está presente na rotina da sociedade, surpreendida por um padrão assustador. E a venda indiscriminada de jogos que exaltam atos de sexo e violência como diversão mostra o lado mais perverso da edicação que os adolescentes têm recebido.

O perfil desta geração, refletido no consumo exacerbado e cada vez mais cedo de drogas pesadas, mostra ainda a falta de respeito em salas de aula, depredação de bens públicos, mudança de hábitos de higiene e até do trato pessoal com os que lhes cercam. Muitos dos valores se perderam no caminho e o jovem segue a sua trilha natural de desorientação. Neste momento em que a única certeza é o desgaste da sociedade, a educação assume valor imprescindível, nas escolas, igrejas e grupos que privilegiem o senso de respeito ao próximo e cidadania, trabalhando junto com a família no resgate de valores naturais e impondo limites que respeitem a liberdade individual mas fechem as portas aos desafios de perigo do futuro.

(Correio Popular, 19/4)

domingo, 19 de abril de 2009

É para sempre


“Da luz nada sei, nem donde vem, nem para onde vai,/ apenas quero que a luz alumie./ E também não peço à noite explicações,/ espero-a e envolve-me,/ E assim tu/ pão e luz e sombra és./ Chegastes à minha vida com o que trazias,/ feita de luz e pão e sombra,/ eu te esperava, e é assim que preciso de ti,/ assim que te amo”. Assim, Neruda, o poeta do amor maior, me traduz em palavras tantos anos de sentimentos e de luz.

Um dia, eu mostrei a você a minha vida. Você aprendeu de mim e me deu em troca a sua vida e a vida de meus filhos. Você fez de mim o homem melhor que eu poderia ser. “A princípio não te vi: não soube que ias comigo,/ até que as tuas raízes/ atravessaram o meu peito,/ se uniram aos fios do meu sangue, / falaram pela minha boca,/ floresceram comigo”.

Hoje, tanto tempo depois, entre perdões, amores declarados ou apenas vividos, renovo não apenas os votos de nosso casamento, mas todos os sentimentos que não têm palavras. Diante de tantas pessoas queridas, só consigo dizer que te amo hoje e desde sempre, e gastarei todas as minhas forças e vontades para que você me aceite inteiro no seu universo. Até porque, só Deus sabe o que seria de mim sem você.

Unchained Melody

Oh, my love, my darling,
I've hungered for your touch,
A long lonely time.
And time goes by so slowly,
And time can do so much,
Are you still mine?

I need your love.
I need your love.
God speed your love to me.

Lonely rivers flow to the sea, to the sea,
To the open arms of the sea.
Lonely rivers sigh,
wait for me, wait for me,
I'll be coming home, wait for me.

Oh, my love, my darling,
I've hungered, hungered for your love,
A long lonely time.
And time goes by, so slowly,
And time can do so much,
Are you still mine?

I need your love.
I need your love.
God speed your love to me



Meu amor, minha querida,
Eu tenho ansiado por seu toque,
Um longo tempo solitário
E o tempo passa, tão lentamente,
E o tempo pode fazer tanto.
Você ainda é minha?

Eu preciso do seu amor,
Eu preciso do seu amor.
Deus, mande depressa teu amor para mim

Rios solitários fluem para o mar, para o mar,
Para os braços abertos do mar.
Rios solitários suspiram,
Espere por mim, espere por mim,
Estarei chegando em casa, espere por mim




(Unchained Melody, Righteous Brothers)

sábado, 18 de abril de 2009

Andança











Vim, tanta areia andei
Da lua cheia eu sei
Uma saudade imensa...
Vagando em verso eu vim
Vestido de cetim
Na mão direita, rosas
Vou levar...

Olha a lua mansa a se derramar
Aoluar descansa meu caminhar
Meu olhar em festa se fes feliz
Lembrando a seresta que um dia eu fiz

Já me fiz a guerra por não saber
Que esta terra encerra meu bem-querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor me ensina onde vou chegar

Rodei de roda, andei
Dança da moda, eu sei
Cansei de ser sozinha...
Verso encantado, usei
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho
Onde andei..


No passo da estrada só faço andar
Tenho meu amor pra me acompanhar
Vim de longe léguas cantando eu vim
Vou, não faço tréguas sou mesmo assim

Já me fiz a guerra por não saber
Que esta terra encerra meu bem-querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor me ensina onde vou chegar

(Andança, de Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A luta contra o estresse ambiental


A administração pública deve ter sua natural extensão na iniciativa privada quando o assunto é preservação ambiental e esforços para resgatar o equilíbrio na natureza. A cobertura vegetal degradada em todo o Estado, ainda mais fortemente nos perímetros urbanos, traz consequências graves que demandam anos de trabalho árduo de recuperação. O sinal de alerta é dado a cada ocorrência de animais silvestres em vias públicas, córregos e ribeirões que secam ou são assoreados, o gradiente térmico se eleva nos centros urbanos, mostrando que as respostas da natureza afetam grandemente a qualidade de vida dos cidadãos.

Em seminário realizado nesta semana sobre os recursos hídricos e florestais da Região Metropolitana de Campinas (RMC), o estresse ambiental foi abordado por técnicos especializados, que apontaram o estado crítico das reservas locais, sendo que a cobertura vegetal chega a 2% da área, mais notadamente em Santa Bárbara d’Oeste, Sumaré e Hortolândia, seguidos de Campinas, Americana e Artur Nogueira com 5%, em fragmentos que impedem a formação do habitat ideal.

Estima-se que a estabilidade ambiental requer no mínimo 30 hectares contínuos. A falta de continuidade leva ao comprometimento do habitat de animais silvestres, que fogem em buscam de extensões territoriais convenientes e acabam se perdendo, procurando abrigo nas cidades. Tanto assim que têm sido comuns aparecimento de animais e aves no perímetro urbano, em contraste com sua natureza, desde capivaras, onças a gaviões e saguis. Estes são os primeiros passos para a extinção das espécies que não conseguem adaptar-se ou sofrem a perseguição humana.

O quadro não é animador e os investimentos, raros. O Estado de São Paulo tem projeto de aumentar a cobertura vegetal para cerca de 20% da área, o que significa 1,7 milhão de hectares de mata ciliar em quatro anos. É um bom sinal que avança no sentido de criar uma consciência ecológica, ao amparar projetos de revitalização das margens de rios e córregos. Mas o desmatamento cravou profundas marcas no mapa do Estado e agora é preciso despender um longo período para reverter a situação.

Neste ponto, estreitam-se os interesses dos governos e administrações municipais com a iniciativa privada, onde se pode incutir a necessidade das compensações ambientais e estímulos a projetos de reflorestamento. E também são bem vindos recursos derivados de organizações como o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que espera antecipar R$ 3,08 bilhões em investimentos para reverter a degradação das águas das bacias oferecendo como garantia os recursos da cobrança do uso da água dos rios federais e estaduais. O foco de recuperação ambiental, mesmo focado na recuperação da qualidades da água captada, tem derivação em reflorestamento e em restauração da mata ciliar, o que já é um bom começo para refazer a cobertura vegetal no Estado.
(Correio Popular, 17/4)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tortura nas mãos da Net e da Telefônica, entre outros


As relações entre empresas e seus clientes estão sujeitas às regras do mercado que determinam os direitos e obrigações de ambas as partes, criando uma harmonia que se traduz em negócios realizados, satisfação de clientes e fidelização da marca. O objetivo é estabelecer uma relação de concorrência onde a oferta de produtos e serviços, preço e qualidade entram na composição de escolha do consumidor.

Quando as possibilidades de selecionar fornecedores são mais restritas, as relações tendem a se acomodar na falta de respeito, na desatenção dos serviços de atendimento a clientes, na recepção de queixas, impondo aos consumidores um calvário para fazer valer seus direitos elementares. Mesmo com o Código de Defesa do Consumidor avançado e moderno, os brasileiros arcam com um sistema jurídico engessado que não dá vazão às reclamações mais simples, além de serviços de proteção que até conseguem intimidar as empresas reclamadas e impor multas, mas são de acesso difícil que não se justifica em demandas menores.

Os recursos mais modernos que incorporam tecnologia de comunicação são uma solução na maioria das vezes e um conforto para clientes interessados. Os canais de contato com as empresas, no entanto, são verdadeiras armadilhas que tentam sujeitar os clientes a longos períodos de espera, dificuldade de falar com as pessoas responsáveis, protocolos infindáveis de atendimento e poucos resultados. Ao serem cobradas por um serviço não realizado, uma cobrança indevida ou assistência técnica, algumas empresas tentam sistematicamente confundir os clientes através do emaranhado de linhas telefônicas.

No Brasil, os serviços de telefonia, internet, televisão a cabo e administradoras de cartões de crédito são os que apresentam mais problemas para os clientes e maior número de queixas nos serviços de proteção ao consumidor. É lugar comum ouvir queixas de contratantes destes prestadores, que se desgastam em tentativas de fazer o sistema funcionar a contento, em prejuízo acumulado e difícil de contabilizar juntamente com a irritação e frustração de pagar por serviços pessimamente organizados e com suporte abaixo da crítica.

Os consumidores estão no limite da paciência e a impressão que se tem é que sempre que o assunto vem à tona não faltam vítimas para narrar casos de contratempos e longos períodos ao telefone para tentar resolver o que deveria ser um procedimento simples. Os serviços de call center, geralmente terceirizados, apresentam baixo nível de qualificação e as rotinas de administração obviamente não são dominadas pelas empresas, gerando entraves em questões que seriam resolvidas na ponta do lápis.

Se considerar o universo de consumidores envolvidos nesses serviços que apresentam problema, é de surpreender a falta de ação e fiscalização das agências reguladoras e, principalmente, das empresas, ciosas nos investimentos e na construção de sua imagem, que se deixam comprometer pela falta de uma política honesta de relacionamento com seus clientes.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Uma nova mulher

Que venha essa nova mulher de dentro de mim,
Com olhos felinos felizes e mãos de cetim
E venha sem medo das sombras, que rondam o meu coração,
E ponha nos sonhos dos homens
A sede voraz, da paixão

Que venha de dentro de mim, ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das onças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher


Livre, livre, livre para o amor....
Quero ser assim, quero ser assim
Senhora das minhas vontades
E dona de mim livre, livre, livre para o amor, quero ser assim,
Quero ser assim, senhora das
Minha vontades e dona de mim....

Que venha de dentro de mim, ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das corças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher

Livre, livre, livre para o amor quero ser assim, quero ser assim,
Senhora das minhas vontades
E dona de mim livre, livre, livre para o amor, quero ser assim,
Quero ser assim, senhora das
Minhas vontades e dona de mim....
Que venha essa nova mulher de dentro de mim

(Uma nova mulher, Paulo Debétio - Paulinho Rezende)

Dia Branco



Se você vier pro que der e vier comigo
Eu te prometo o sol se hoje o sol sair
Ou a chuva..
Se a chuva cair.

Se você vier até onde a gente chegar
Numa praça na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar.
Neste dia branco se branco ele for
Esse canto, esse tão grande amor

Se você quiser e vier pro que der e vier comigo.

(Dia Branco, Geraldo Azevedo/ Renato Rocha)

terça-feira, 14 de abril de 2009

A greve de fome de Morales


A política é a arte de convencer as pessoas de seus propósitos e intenções, usando dos recursos do encantamento pelas palavras, o arrazoado sólido, a firmeza de ideias e a habilidade de construir uma linha de argumentos que possa fazer os demais mudarem de posição e adotarem seu ponto de vista. Fora destes padrões de exercício de direitos, a imposição de conceitos leva inexoravelmente ao totalitarismo, às ditaduras espúrias, à noção de poder que desconsidera os mais comezinhos princípios de democracia.

A América Latina tem um histórico de intervenções políticas desastrosas, que subjugaram os povos a regimes ditatoriais violentos que legaram um passivo de atraso, de falta de educação, de submissão a culturas exógenas, de descaracterização de gerações inteiras. Os países sul-americanos são marcados pela imagem de colônias exóticas, de caudilhismo e golpes de estado que se sucederam por décadas, despertando apenas um interesse de exploração econômica pelo países do Hemisfério Norte. Os anos de retrocesso apresentam uma conta alta a ser paga pelas novas gerações, uma necessidade a ser coberta por investimentos em educação, amadurecimento político e civilidade crítica.

Em alguns países, recrudesce o espírito caudilhesco que aposta na passividade crônica da massa ignara, que não distingue políticos de líderes populistas e aceita de mão beijada pequenos favores. Neste meio, surgem presidentes como Hugo Chávez, com seu destempero verbal e intelectual, e Evo Morales, legítimo representante de um povo que busca ansiosamente a sua reconstrução como nação, que se aboleta no discurso de atraso de seu colega venezuelano.

A greve de fome deflagrada por Morales é mais um lance de puro histrionismo latino. Na falta de articulação política, o presidente boliviano lança mão da pressão extrema para obrigar aos opositores a votar uma nova lei eleitoral que permita convocação de eleições gerais para dezembro, quando tentaria a sua reeleição. O recurso é radical, mas nem por isso é novidade: Morales já usou a tática 18 vezes em sua vida de sindicalista.

Usar o recurso da greve de fome é covardia, porque transfere para seus opositores a responsabilidade sobre a vida daquele que protesta. Revela fraqueza de caráter e espírito totalitarista, de alguém que quer impor sua vontade acima de qualquer discussão. A greve de Morales não encontra parâmetro no esforço de Mahatma Ghandi, outra cultura e outro contexto, além do que o indiano pretendia levar seu intento até a morte. É mais próxima do patético protesto do ex-governador Garotinho.
(Correio Popular, 14/4)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A moral dos políticos e a imprensa



O sentido de moralidade na vida pública não tem a amplitude que se pode desejar. O conceito é pétreo e deve refletir o consenso da sociedade sobre o que é lícito, determinando limites e o padrão de comportamento que se espera de representantes populares ocupando cargos para os quais foram eleitos ou indicados. Ao lidar com interesses e orçamentos da sociedade, a primeira premissa que se estabelece é que toda ação deve estar cercada de total transparência, dentro do princípio constitucional da publicidade de atos.


Os políticos brasileiros não passam por bons momentos. A política brasileira está em franco processo de transformação, expondo as próprias chagas da corrupção, da imoralidade, do crime organizado nos bastidores das casas de lei, das verdadeiras quadrilhas que se instalaram no poder e se mantém por força de uma rede de impunidade apoiada no compadrio, na camaradagem repulsiva, no compromisso de acobertar todo e qualquer desvio.

Os cidadãos mostram-se mais conscientes. O escândalo do mensalão, embora não suficiente para criar uma nova geração de eleitores com peso crítico, teve o dom de arregimentar uma grande massa de pessoas que não aceitam mais ver os poderes da República achincalhados por aqueles que se perpetuam impunes. E a imprensa tem se colocado como o porta-voz destes cidadãos, cumprindo seu papel de cobrar, fiscalizar, denunciar e buscar nos escaninhos do Congresso, Assembleias e Câmaras municipais a transparência que falta aos mal intencionados.

Nesta semana, o presidente da Câmara Federal, deputado Michel Temer (PMDB-SP) acusou a imprensa de mover uma ação para indispor os políticos com a sociedade. Irritado com a repercussão negativa dos sucessivos escândalos, tentou jogar sobre a imprensa o ônus da rejeição crescente de eleitores aos atos praticados no Congresso. Sua voz teve o endosso de alguns outros deputados, indignados por constatarem que a sociedade sabe de todos os crimes, o desvio de recursos públicos, as fraudes, a corrupção, que são cometidos sob o manto da imunidade parlamentar.

Essa irritação e tentativa de transferir responsabilidade são condenáveis. A imprensa cumpre o seu papel de fiscalizadora do serviço público a partir do mandato outorgado pelos seus leitores. Os parlamentares devem, sim, satisfação à população e a mídia tem o dom de trazer o assunto à discussão. Há dúvidas e o comportamento e intenção dos políticos deve estar sempre sob suspeição. Se os políticos desejam manter a imagem da instituição, precisam começar a agir com moral e absoluta honestidade. Afinal, não basta bater no peito como arautos da honestidade, é preciso agir como tal.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Cigarro, a necessidade de achar um inimigo

(Marcelo Coelho, Folha de S. Paulo)


Entendo, até certo ponto, que proíbam o cigarro em bares e restaurantes. Mesmo com áreas divididas, os garçons terminam sofrendo as consequências do fumo passivo.Mas impedir que alguém fume dentro de um quarto de hotel? Sem ninguém por perto?Lembro ainda que em muitos hotéis existem andares exclusivos para quem não fuma. Nem mesmo o resquício de um cheiro de cigarro incomodaria os mais sensíveis.

Houve tempo em que os fanáticos de direita procuravam comunistas até debaixo da cama. Mas nem debaixo da cama o fumante poderá se esconder, pelo o que diz a lei recentemente aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

Debaixo de marquises também não. Pode-se fumar em terraços, desde que não tenham cobertura. Assim, quem sabe, será mais fácil identificar o fumante de longe e fuzilá-lo com um rifle de alta precisão.

No fundo, acredito que esses exageros do antitabagismo correspondem a essa necessidade, tão comum nos EUA, e imitada aqui, de encontrar um inimigo com quem lutar.

Acabou-se a ameaça comunista, e os membros da Al Qaeda não são tantos a ponto de mobilizar uma caçada coletiva que valha a pena.Os fumantes, entretanto, estão em todo lugar -com a vantagem de se esconderem cada vez mais. Deixam sinais de sua presença. São nocivos, malignos, suicidas. Quanto mais cercados, quanto mais restrita a sua área de atuação, mais fácil e divertido será persegui-los.Não acho que exista sadismo da parte dos perseguidores. O mecanismo é mais complexo.

O Estado e a população impõem um regime de terror sobre alguma minoria. Identificam nessa minoria uma ameaça: são "eles" os terroristas, são "eles" que nos perseguem, são "eles" que querem nos destruir.

Dito isso, podemos perseguir, aterrorizar e destruir. "Eles" é que começaram.

O cigarro mata, claro. Quem não tem medo da morte? E eis que surge o grupo dos fumantes renitentes, que parece não ligar para isso. Os fumantes escarnecem de nosso medo da morte.

Fica fácil, dessa perspectiva, identificá-los com terroristas. A tentação para a caça às bruxas se torna muito grande. Instituir o Terror sempre foi o ato reativo de quem está aterrorizado. Tome-se cuidado, entretanto. O fogo que queima as feiticeiras também costuma exalar muita fumaça cancerígena.

(Marcelo Coelho, Folha de S. Paulo. 9/4)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Poesia matemática, de Millor Fernandes



Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a, do Ápice à Base,
uma figura ímpar:
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
Ao que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar,
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia. Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de círculos concêntricos,
viciosos. Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.



A cruzada radical contra os tabagistas


Os hábitos da sociedade se transformam com o surgimento de opções modernas, colocando à mesa alternativas de comportamento que nem sempre são bem recebidas por todos, seja na atividade profissional, na convivência social ou no entretenimento. A velocidade das transformações não são acompanhadas pelo ritmo de adaptação, gerando conflitos que precisam ser administrados com serenidade e bom senso.

O uso do cigarro mudou muito, desde as aparições charmosas de artistas de cinema tragando fumaça até o atual policiamento rigoroso dos antitabagistas, incomodados com os efeitos nefastos do fumo e a inconveniência de seu consumo em público. É notável o crescimento de pessoas que se declaram contrárias ao cigarro em estabelecimentos ou locais públicos, alegando aversão ao cheiro e mesmo os efeitos nocivos à saúde, pela inalação passiva.

A lei proposta pelo governador José Serra e aprovada nesta semana pela Assembleia Legislativa de São Paulo, que restringe drasticamente o uso de cigarros em qualquer área púiblica, levanta uma polêmica que espelha o quanto a sociedade está apaixonadamente dividida em relação ao assunto. O que não falta são argumentos radicais de todos os lados, geralmente faltando o ponto de bom senso que deveria conduzir debates desta natureza. E a lei aprovada pelos deputados não ajuda muito neste sentido.

Ao proibir o uso do tabaco em qualquer local público, à exceção das casas e da rua, a lei mostra-se pesada e inadequada para um assunto tão polêmico, necessário e delicado. A sociedade tem dado sinais claros de harmonização de interesses, criando áreas de fumantes em locais de trabalho, bares, restaurantes e hotéis, locais públicos, demonstrando respeito cada vez maior ao direito de fumantes ou não. De maneira geral, busca-se um consenso que atenda à expectativa de todos, sem radicalizações.

É preciso ter consciência de que comportamentos não mudam apenas pela edição de leis, rigorosas ou não, que acabam virando letra morta por não terem razoabilidade e tampouco fiscalização. Ao legislar diretamente dentro de espaço privado, proibindo o fumo dentro de empresas, o Estado mostra-se excessivamente interferente. Bastaria deixar a critério dos cidadãos a designação de locais apropriados, especialmente em áreas privadas de uso público, com absoluto respeito ao conforto e saúde de cada um. Cada dono de bar, por exemplo, deveria ter o arbítrio de permitir fumantes em seu estabelecimento, arcando com a eventual perda de cliente.

O que afronta é o cigarro ser demonizado, como o crime maior que atinge a sociedade. O excessivo rigor da lei a ser sancionada pelo governador joga para o cidadão e para o dono do estabelecimento a função coercitiva, a responsabilidade e a pena final, criando um clima de antagonismo em locais, em princípio, destinados a coisas mais relevantes, como o trabalho e o lazer.

(Correio Popular, 9/4)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Tears In Heaven



Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Will you be the same
If I saw you in Heaven?

I must be strong
And carry on
Because I know I don't belong
Here in Heaven

Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven?

I'll find my way
Through night and day
Because I know I just can't stay
Here in Heaven

Time can bring you down
Time can bend your kneesT
ime can break your heart
Have you begging please
Begging please

Beyond the door
There's peaceI'm sure
And I know there'll be no more
Tears in Heaven

Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Will you be the same
If I saw you in Heaven?

(Tears In Heaven, Eric Clapton/Will Jennings)
Lágrimas No Paraíso
Você saberia meu nome
Se eu o visse no Paraíso?
Você seria o mesmo
Se eu o visse no Paraíso?
Preciso ser forte
E aguentar firme
Porque sei que não pertenço
Ao Paraíso
Você seguraria minha mão
Se eu o visse no Paraíso?
Você ajudaria a levantar-me
Se eu o visse no Paraíso?
Acharei meu caminho
Pela noite e dia
Porque sei que não pertenço
Ao Paraíso
O tempo pode te trazer para baixo
O tempo pode fazê-lo curvar-se
O tempo pode partir seu coração
Fazê-lo implorar por favor
Implorar por favor
Atrás da porta
Há paz estou certo
E eu sei que não haverá mais
Lágrimas no Paraíso


segunda-feira, 6 de abril de 2009

A apatia diante do crime com cerol


A sociedade tem dificuldades para se estruturar de forma eficiente diante de tantos problemas que cobram ação administrativa e aplicação legal para a sua defesa. O amplo leque de exigências faz com que muitas demandas sejam deixadas de lado em detrimento do atendimento de prioridades ditadas pelas extremas carências verificadas em setores essenciais como saúde, segurança, educação, transporte, habitação e bem-estar social.

Considerado assunto grave e ameaçador, o uso de cerol em linhas para empinar pipas sempre vem à discussão a cada notícia de ferimento ou morte provocados pelo uso irracional do que deveria ser uma brincadeira. São notificados cerca de cem acidentes por ano no Brasil, sendo 50% graves e 25% fatais, geralmente atingindo ciclistas e motociclistas em trânsito, feridos pela linha afiada brandida por inconsequentes. O sentido de revolta parece não deixar marcas mais profundas na opinião pública e o que se nota é que o uso de cerol é francamente liberado, não havendo qualquer investida no sentido de barrar o uso criminoso do artefato.

A legislação foi aperfeiçoada em vários municípios, incorporando punições mais severas que visavam inibir o uso de cerol. Mas a realidade se impôs e não se tem notícia de uma única notificação de multa. Não há fiscalização, o policiamento ignora o uso de cerol, não se percebe nas escolas qualquer orientação específica para mudar a mentalidade dos jovens que não conseguem avaliar o risco que provocam. As medidas conjuntas e aplicação da lei hoje não passam de letra morta.

O sentido de discutir assuntos polêmicos e que causam indignação à população é provocar ações eficazes para conter abusos e estabelecer parâmetros de segurança e conforto mínimos para todos. Quando o debate sobre algo grave como as mortes provocadas pelo uso de cerol não prospera, é como se a sociedade estivesse anestesiada diante da falta de providências, apática por não ver repercussão de seu protesto, abatida por ver que ideias simples não são aplicadas pelas autoridades competentes.

(Correio Popular, 4/3)