segunda-feira, 6 de abril de 2009

A apatia diante do crime com cerol


A sociedade tem dificuldades para se estruturar de forma eficiente diante de tantos problemas que cobram ação administrativa e aplicação legal para a sua defesa. O amplo leque de exigências faz com que muitas demandas sejam deixadas de lado em detrimento do atendimento de prioridades ditadas pelas extremas carências verificadas em setores essenciais como saúde, segurança, educação, transporte, habitação e bem-estar social.

Considerado assunto grave e ameaçador, o uso de cerol em linhas para empinar pipas sempre vem à discussão a cada notícia de ferimento ou morte provocados pelo uso irracional do que deveria ser uma brincadeira. São notificados cerca de cem acidentes por ano no Brasil, sendo 50% graves e 25% fatais, geralmente atingindo ciclistas e motociclistas em trânsito, feridos pela linha afiada brandida por inconsequentes. O sentido de revolta parece não deixar marcas mais profundas na opinião pública e o que se nota é que o uso de cerol é francamente liberado, não havendo qualquer investida no sentido de barrar o uso criminoso do artefato.

A legislação foi aperfeiçoada em vários municípios, incorporando punições mais severas que visavam inibir o uso de cerol. Mas a realidade se impôs e não se tem notícia de uma única notificação de multa. Não há fiscalização, o policiamento ignora o uso de cerol, não se percebe nas escolas qualquer orientação específica para mudar a mentalidade dos jovens que não conseguem avaliar o risco que provocam. As medidas conjuntas e aplicação da lei hoje não passam de letra morta.

O sentido de discutir assuntos polêmicos e que causam indignação à população é provocar ações eficazes para conter abusos e estabelecer parâmetros de segurança e conforto mínimos para todos. Quando o debate sobre algo grave como as mortes provocadas pelo uso de cerol não prospera, é como se a sociedade estivesse anestesiada diante da falta de providências, apática por não ver repercussão de seu protesto, abatida por ver que ideias simples não são aplicadas pelas autoridades competentes.

(Correio Popular, 4/3)

Um comentário:

Lotito disse...

Olá Amigo Rui

Nossa sociedade é escapista, jeitinhosa e tende ao noticiário burlesco/ordenhador de tragédias, tanto que as câmeras nos casos de mídia televisiva mais esdrúxula, sempre fecham o zoom em close no olho lacrimoso.......assim, o caso do cerol vai sendo levado até que um filho/a de um prócer...presidente, governador, etc. venha a ser vitimado pela prática hedionda.
Então teremos o velório em câmara ardente, todas as TVs/jornais se acotovelando momescamente para cobertura, a fala de S.Excia ferida, chefetes de polícia bravatando e toda a opereta bufa a que já nos acostumamos, ou opção dois que eu prefiro, um grupo de motociclistas entre os quais um com PORTE LEGAL DE ARMA DE FOGO e que tenha um de seus membros ferido fatalmente por um grupelho de pivetes mal-formados-familiarmente em feroz combate com suas pipas, barriletes, pandorgas, papagaios ou o que preferirem, cujas linhas tenham sido preparadas em casa com cacos de vidro de lâmpadas moídas e aglutinados à linha 24 com cola branca, o cerol; nesse instante de grande comoção, o motociclista armado reagirá naturalmente e no ímpeto de seu foguetório irá ferir gravemente uns tantos garotos com "sindrome de mamy na zona".
Iremos assistir debates, palestras, entrevistas, matérias, colunas de discussões eternas, sobre o direito de portar armas.

Infelizmente isto é nossa sociedade.