segunda-feira, 27 de abril de 2009

Deixa-me ouvir o que não ouço...

Deixa-me ouvir o que não ouço...
Não é a brisa ou o arvoredo;
É outra coisa intercalada...

É qualquer coisa que não posso
Ouvir senão em segredo,
E que talvez não seja nada...

Deixa-me ouvir...
Não fales alto!
Um momento !...

Depois o amor,
Se quiseres...
Agora cala!

Tênue, longínquo sobressalto
Que substitui a dor,
Que inquieta e embala...

O quê? Só a brisa entre a folhagem?
Talvez... Só um canto pressentido?
Não sei, mas custa amar depois...

Sim, torna a mim, e a paisagem
E a verdadeira brisa, ruído...
Vejo-me, somos dois...

(Deixa-me ouvir o que não ouço, Fernando Pessoa)

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