domingo, 15 de fevereiro de 2009

Saudade de um tempo que não volta


Contar a história da criação de um jornal como O IMPACTO não é tarefa fácil, especialmente para quem esteve diretamente envolvido com as situações. Por mais isenção que se busque, os fatos serão relatados sob a ótica única do autor, privilegiado em poder lançar sobre o papel a sua interpretação do que aconteceu.

Longe de mim, portanto, pretender registrar parte da história da imprensa de Mogi Mirim, até porque muito já se perdeu nestes anos e as lembranças nos surgem eivadas de versões atualizadas por vagas conversas que nos remetem à tradição oral. Talvez deste material se possam tirar importantes lições de ética, estratégias de trabalho ou apenas mais um relato de como se fazer jornalismo no interior. Se ao menos servir como referência de uma época particularmente interessante para os contemporâneos, já terá valido o esforço.

Em uma tarde fria de junho de 1981, eu me dirigia ao prédio onde funcionara por muitos anos a Adap, fábrica de móveis de aço no distrito industrial de Mogi Mirim. Ali seria realizada a VI Faibam e eu, como repórter do jornal A Comarca, estava preparando a cobertura do evento. O antigo prédio estava abandonado e os estandes eram construídos em uma grande área coberta. Aquele era um dia especial, realmente. Após entrar no recinto da exposição, subindo uma rampa de cimento para o pátio onde se montavam os estandes, encontrei Mauro de Campos Adorno Filho no espaço reservado para a Viação Santa Cruz, atarefado na organização da feira. Tratamos de alguns assuntos mais imediatos e, antes de sair, lembro de ter dito a ele, com um entusiasmo que ainda posso sentir: "Vou montar um jornal em Mogi Mirim. Só não sei como, nem quando". Lembro ainda a expressão de surpresa do Mauro antes de me afastar, mas naquela hora tive a certeza de que uma semente tinha sido lançada em solo fértil.

Nosso primeiro encontro de trabalho foi no bar do Posto do Ari, no alto da avenida Padre Roque. Sentamos no final de tarde em uma mesa e falamos longamente da idéia de fazer um jornal popular, com uma abordagem inteiramente voltada para a valorização das coisas de Mogi Mirim, sem deixar de lado a polêmica, a denúncia, cumprindo rigorosamente o propósito de sermos porta-vozes da comunidade. Isto ficou bastante claro desde o primeiro editorial.

Hoje, tantos anos passados, vejo o rosto de cada um dos companheiros que dividiram conosco as realizações, as alegrias e as muitas dificuldades. Tantos que já se perderam no tempo. E me resta o direito de sentir orgulho de ter visto este nosso filho andando pelas próprias pernas, traçando o seu próprio destino, cumprindo seu ideal. Mas, como dizia Khalil Gibran, "vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma". Assim, resta-nos apenas o consolo de termos legado a Mogi Mirim este fruto bendito.

(Texto adaptado do original escrito em 2006, pelos 25 anos de fundação de O Impacto, de Mogi Mirim)

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