sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O papel do lixo

Faça-se justiça. Já no final dos anos 70, o então vereador Décio Mariotoni subia freqüentemente à tribuna da Câmara Municipal e levantava temas polêmicos e – por incrível que possa parecer – modernos para a época. Seu discurso falava com insistência de temas como fluoretação da água, políticas ambiental e de saúde pública, e especialmente de usinas de tratamento de lixo urbano. Chegou a comandar comissões que visitaram experiências industriais interessantes neste setor, mas suas idéias invariavelmente caíram no descaso das administrações. Muitos colegas seus deveriam penitenciar-se por não anteverem a urgência de solução de tais problemas nos dias de hoje.

O lixo urbano é uma questão política, antes de mais nada. Deixá-lo na rua é um contra-senso; investir nesta área, acredita-se que seja má política eleitoral. E assim, a microrregião deixa de beneficiar-se da possibilidade de um projeto comum por histórica falta de interesse e de diálogo entre os prefeitos.

As grandes concentrações urbanas fazem aumentar o lixo. No Brasil, hoje, produz-se mais de 240 mil toneladas de lixo por dia. Os lixões a céu aberto recebem 76% deste volume; 13% são depositados em aterros controlados, 10% em aterros sanitários e apenas 10% são compostados em usinas ou incinerados. Uma surpreendente falta de cultura e de compromisso com a saúde pública, diante de um problema que tem horas contadas para eclodir.

Longe da discussão sobre os custos da coleta de lixo e o respectivo repasse deste encargo à população, afirmo que o problema é muito maior que isto: há anos, falta aos administradores desta Mogi Mirim uma política para o lixo. Uma abordagem corajosa que exceda a esquemas de simples recolhimento manual da sujeira produzida por uma sociedade consumista e o entulhamento precário em lixões que logo não comportarão mais nada.

Há alternativas de bom senso e exemplos inteligentes a serem imitados. Soluções não convencionais podem parecer complexas do ponto de vista operacional, mas servem como mote de geração de emprego e renda, com evidentes ganhos para o meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida. Vários projetos podem ser executados sem altos custos e o retorno social é facilmente avaliável.

Neste espaço não cabe discutir tais propostas, até porque são sobejamente conhecidas. Os esforços neste sentido é que são tímidos. A cooperativa de reciclagem de materiais, por exemplo, funciona, mas tem pouca adesão da população, o que restringe o seu alcance social e não satisfaz os envolvidos, que reclamam de melhores resultados financeiros.

Se o município hoje não suporta mais os custos de manuseio do lixo doméstico - que exige cada vez mais programas de reciclagem, coleta seletiva e usinagem - deve espelhar-se em projetos bem sucedidos e fazer uma análise crítica da eficiência do sistema. Afinal, a população não pode concordar com acondicionar indefinidamente verbas públicas em sacos de plástico e colocar na calçada da rua dr. José Alves.

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