sábado, 2 de janeiro de 2010

Popularidade que resiste à realidade

O Brasil vive um momento excepcional em sua história. Depois de muitos anos de derrapar nas vias do desenvolvimento, sempre esperando pelo crescimento do bolo para promover a sua divisão, o país agora navega em águas tranquilas, firmemente estacado em um projeto que começou com a estabilização da economia, vencida a terrível inflação que oprimia especialmente as classes assalariadas. O drama vivido pelos brasileiros nos períodos que antecederam a implantação do Plano Real parece hoje uma ficção impossível, realizável apenas na memória daqueles que viveram aqueles tempos.

Emergindo de uma crise que abalou as finanças globalizadas, o Brasil tornou-se a bola da vez, por demonstrar uma incomum vitalidade para recuperação e inserção no mundo moderno entre as nações mais credenciadas a ocupar espaços entre as mais poderosas. Uma conjunção de fatores colocou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crista, auferindo um reconhecimento inusual. Com alto índice de popularidade interna e com o Brasil começando a fazer diferença no equilíbrio internacional, Lula colheu no ano que passou muitos frutos, até aqueles que não podem ser atribuídos diretamente ao seu governo.

Várias publicações internacional têm o hábito de ranquear personalidades que se destacaram em período específicos. Assim foi com o Le Monde francês, o espanhol El País e o inglês Financial Times, que conferiram ao presidente brasileiro um grau de destaque. É verdade que o ranking inglês elegeu Lula e Osama Bin Laden lado a lado como personalidades da década, o que coloca uma perspectiva menos ufanista e que exige uma correta interpretação dos critérios da mídia. Ali também estão Muhamad Ahmadinejad, o ex-presidente Bush, Vladimir Putin e o magnata russo Kordokovsky, hoje na prisão, companhias pouco lisonjeiras.

Lula é um fenômeno improvável. Mesmo mentindo, fazendo de conta que não sabe de nada, tergiversando sobre assuntos mais delicados, habilmente mascarando suas verdadeiras posições pessoais e políticas, consegue ser apontado como o brasileiro mais confiável, segundo pesquisa do Datafolha divulgada no primeiro dia do ano. O público que o reconhece é predominentemente de baixa escolaridade e mais pobre, justamente o mais próximo dos benefícios do Bolsa Família e dos programas assistenciais que se multiplicaram no seu governo. É também verdade que a pesquisa aponta o jornalista William Bonner e o padre Marcelo Rossi na sequência das personalidades confiáveis no País.

O que se deve inferir de todos esses indicadores é que a popularidade também tem um quociente de celebridade e seu culto na sociedade moderna, onde as avaliações de valor verdadeiro nem sempre estão presentes. É inegável que Lula goza de um carisma e um alto poder de manter-se em evidência. Será necessário o decorrer da história para se medir confiavelmente até que ponto a celebridade contribui para a construção de um mundo melhor para todos.

(Correio Popular, 02/1/10)

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