quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Os erros de uma crise sem necessidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou a sua atuação neste ano eleitoral com um enorme problema gestado dentro de seu próprio corpo político. O Programa Nacional de Direitos Humanos instalou uma crise política sem precedentes em seu governo, que até então vinha flanando em céu de brigadeiro, apesar de todas as denúncias de corrupção, escândalos e problemas éticos que sequer respingaram em sua credibilidade e aceitação que se mantém acima dos 70%. A impropriedade das propostas escancararam uma reprimida intenção de promover profundas reformas de caráter institucional, atropelando o saudável debate democrático e tentando impor reformas de forma totalitária.

O Programa foi articulado pelo secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannucchi, que assimilou com perfeição todo o ranço de um grupo instalado no poder, ansioso em impor pontos de vista e reformas que ferem o consenso nacional. As manifestações de protesto vieram de todos os lados. A Igreja Católica subiu o púlpito para censurar a tentativa de legalização do aborto; os militares inssurgiram-se contra a tentativa revanchista de revogar a Lei da Anistia e promover a caça às bruxas do período da ditadura, excluindo os criminosos de esquerda; a imprensa e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) levantaram a questão de ordem da censura e controle da informação. A reversão da ordem ficou patente em questões que levam insegurança jurídica a setores essenciais, como o agronegócio, colocado com todas as letras como origem de todos os males e da exploração no campo.

O polêmico programa coloca como pedra de arrimo a todas as questões o assembleismo presente em todas as gestões petistas mais retrógradas. Com o pretexto de ouvir grupos representantes da sociedade, articula reuniões onde são tiradas as falsas conclusões endossadas por grupos sectários, assumidas como reivindicações da comunidade. Um vício de conceito que espelha o que foi a farsa do Orçamento Participativo, instrumento político para legitimar favorecimentos sectários e endossar o que seria a competência natural dos administradores. Assim nasceu o Programa Nacional dos Direitos Humanos, que em muitos aspectos não reflete o pensamento da sociedade.

Lula goza de prestígio inconteste e, aparentemente, inabalável. Sua proeminência é fundamentada na fábula construída de um operário que chega ao poder, cheio de boas intenções e programas sociais inéditos. Em verdade, ele navega nas águas calmas de uma herança bendita que lhe assegura uma confortável estabilidade econômica, uma base estacada para o desenvolvimento e uma política que levou o Brasil à sua vocação de um país do presente. Usar esse prestígio para inverter a ordem institucional é um risco e uma ameaça. É jogar o país em uma crise absolutamente inoportuna e sem necessidade.

Esperto, Lula trata de inverter o jogo, tirando a responsabilidade de suas costas e de sua candidata Dilma Rousseff. Ele prefere alegar que não leu o projeto assinado a vergar sob acusações de totalitarismo.

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