sexta-feira, 6 de março de 2009

Política de mais do mesmo


A política é a arte de convencer os demais de seus princípios, intenções e valores, impondo de forma democrática a vontade da maioria que se manifesta através dos instrumentos constitucionais e seus representantes. É rico o sistema que aperfeiçoa esses mecanismos de apuração e faz valer os princípios contidos no seio da sociedade, pautando o desenvolvimento harmonioso e a multiplicação de oportunidades sociais para todos os cidadãos.

No sentido inverso, quando a política se transforma em seara dos espertalhões e desonestos, quando o poder é transformado em moeda de troca e a atividade parlamentar é meio de se locupletar, perde a Nação, que vê se esvaírem os recursos que faltam em setores essenciais e se perpetuarem personagens que têm o dom de se reciclar politicamente na alternância de cargos, desfazendo da memória dos eleitores.

Na semana que passou, o Senado protagonizou mais um episódio que emoldura o quadro político brasileiro atual. O senador Fernando Collor assumiu a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado, por indicação de Renan Calheiros que, de sua parte, recebeu a quitação da fatura política de José Sarney, com as bênçãos do Planalto. Em uma única e acidentada eleição interna, cruzam-se três gerações da política recente do País, desafortunadamente marcadas, cada qual a seu tempo, por escândalos de corrupção, de péssima gestão de recursos públicos. Nomes que mereceriam cair no esquecimento mas contrariam a ordem da sensatez e da seleção natural.

Não apenas as velhas e arcaicas lideranças se mantêm por força de influência nefasta. O próprio sistema de alianças a qualquer preço cava o fosso da incongruência. Para manter a popularidade e governabilidade em alta, o presidente Lula aceita e aprova a proximidade indecente com antigos adversários, desafetos que hoje são aliados que o obrigam à mudança de discurso como quem troca de camisa.

A sedimentação de lideranças questionáveis no Congresso e em todos os níveis apenas reafirma a sensação de que a classe política trata de se manter através de acordos espúrios, para usar termo atual, onde os partidos políticos não mais existem, as legendas são nomes fictícios em que não cabem ideologias, objetivos comunitários, históricos de militância. Tudo parece se resumir a interesses menores, onde o que importa é se dar bem, tirar o máximo proveito das benesses do poder, a qualquer custo.

Este alinhamento por baixo tem sido a causa do esfacelamento do conceito de que desfrutam os políticos perante a sociedade. Ao oferecer cada vez mais do mesmo, renovam um quadro que já teve amplas e irrestritas manifestações de repúdio mas persiste na inconsistência de um sistema que não consegue punir os figurantes que fogem do roteiro e terminam como protagonistas de uma ópera bufa de graves consequências para as instituições.

(Correio Popular, 8/3)

2 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Rui

Esse absoluto descalabro em que os corruptos & criminosos por interesse, os ignóbeis por alpinismo social e os ignorantes por exclusão de outros meios, transformaram o sistema político/judiciário brasileiro, o famoso toma lá da cá, tem uma cruel agravante que nem sempre é levada em consideração quando analisamos a ópereta bufa, como tão bem colocou você, em que vivemos politicamente. É a absoluta incompetência que essas criaturas trazem para os quadros administrativos da Nação e que através do acêrto/erro levam a administração aos trancos e barrancos, perdendo um tempo imenso e que jamais poderá ser recuperado. Apenas entendem bem de corromper e ser corrompidos.
O pior de toda essa porcaria em que chafurdamos, acredito ser a burrice incompetente e plena de orgulho dos que sempre vem com a única finalidade de "se arrumar" e aos seus acólitos.
Será que os amigos já se deram conta de que esses tipos exóticos que habitam executivos, judiciários e legislativos nunca administraram nem um bar de esquina e estão estreando dirigindo um País?
A falta de estadistas inteligentes e competentes é o grande problema.

Anônimo disse...

Esses cânceres persistem no poder porque o povo assim decide nas urnas. Sim, o povo, pois hoje o voto é livre e secreto. Só se poderia isentar o povo de qualquer responsabilidade pela eleição desses tumores se comprovado ter havido fraude e manipulação nas urnas. Fora isso, o eleitor vota consciente ou inconsciente ou faz de seu voto moeda de troca. Nem mesmo a mais recente ditadura se manteve por 20 anos sem apoio do povo e suas principais instituições. Os que espernearam e lutaram contra são os que hoje se prestam ao mesmo jogo sujo de interesses obscuros. É só no Brasil que isso acontece? Não. É no mundo todo.