terça-feira, 24 de março de 2009

A lição tirada do caso das capivaras


As questões ambientais ocupam espaço privilegiado nas discussões de políticas públicas, despertando atenção da sociedade cada vez mais preocupada com as repercussões de atos impensados, inconsequentes e em flagrante desrespeito ao equilíbrio natural. A defesa do meio ambiente e em especial da fauna adquire formas de discursos engajados e defesas sérias fundamentadas em técnicas comprovadas, mobilizando ativistas e organizações que acabam impondo regras aceitas de consenso.

Em alguns casos, a mobilização popular é apaixonada, despertando a atenção ou a ira de parte da sociedade, dividida em aplicações práticas, exigências de aparatos técnicos, decisões tempestivas, criando polêmica onde o bom senso e a sobriedade poderiam apresentar soluções eficazes em nome da defesa da natureza. O caso mais recente que dividiu opiniões diz respeito às capivaras concentradas no Lago do Café, em Campinas, onde foram verificados casos de febre maculosa transmitida pelo carrapato-estrela, que é parasita dos roedores.

A comprovação da infecção de dois funcionários do local e a morte trágica de um deles despertou a necessidade de medidas sanitárias urgentes para evitar a proliferação dos carrapatos e evitar o ciclo de transmissão da febre maculosa. De início, o local foi isolado, extinguindo-se a área de lazer e funcionários foram destacados para outros órgãos da Administração. Cogitou-se a remoção das capivaras do local e até a solução do sacrifício das mesmas, sob alegação de proteção da saúde humana. Aí manifestaram-se os ambientalistas e defensores da causa animal, que levantaram vozes contra o radicalismo da medida e protestaram contra a matança.

O debate se estendeu por longas semanas e, quando parecia não haver mais possibilidade de consenso, um encontro realizado na semana passada apaziguou os ânimos com o aceno de uma solução técnica, racional, de baixo custo e aceitável por todas as partes. Onde o problema se manifestava mais evidente, está sendo construído um recinto especial para abrigar e isolar os animais, restringindo a área de circulação a um espaço de controle, onde médicos-veterinários, pesquisadores e pessoal de manejo poderão controlar a infestação dos carrapatos e o risco de contaminação humana. Há a anunciada intenção de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de São Paulo (USP) utilizarem o isolamento para aprofundarem pesquisas neste tipo de intervenção.

A lição que se depreende de toda a polêmica é, ainda uma vez, que o consenso está na solução prática, lógica, fundamentada, isenta de paixões e opiniões preconcebidas, que normalmente tem o dom de provocar longos e exaustivos debates sem perspectiva de acordo, quase sempre em prejuízo da razão. Este é, ademais, um parâmetro para o enquadramento de vários problemas que afetam a sociedade.

(Correio Popular, 24/3)

Nenhum comentário: