segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Um partido esquecido no passado


O espectro político brasileiro pode ser analisado em grande parte pela história da constituição dos partidos, que assumiram formas tão variáveis quanto foram os regimes e as situações de instabilidade institucional. Longe de ser apenas um efeito decorrente dos longos anos de ditadura militar iniciada nos anos 60 do século passado, os partidos foram moldados pelas conveniências desde os tempos do Império, onde os interesses dos nacionalistas e dos portugueses se confrontavam.

O que mais caracterizou a história política brasileira foram os regimes de exceção, que determinaram a manutenção do poder oligárquico através dos anos, em interminável sucessão de efeitos que sempre resultaram na manutenção do poder das classes dominantes, desde as oligarquias fundiárias ao modelo mais recente do neoliberalismo. Diferentemente do padrão de outros países, onde os partidos políticos têm representatividade e história — nos Estados Unidos, os democratas existem desde 1790 e os republicanos desde 1837 — os partidos brasileiros sempre foram coletâneas de movimentos ideologicamente alinhados, mas de vida curta. A estrutura partidária não resistiu à República, às insurreições militares do começo do século passado, à proibição dos partidos durante a ditadura getulista e o ato institucional de 1965 que criou o bipartidarismo de Arena e MDB que desaguaria no multipartidarismo da Nova República.

No berço da abertura democrática, em 1984, surgiram os partidos que foram a base da transição, o PSDB, o PMDB, o PTB, o PDT e, especialmente, o Partido dos Trabalhadores, que se destacou por montar um bem aparelhado sistema de diretórios por todo o País e aglutinado uma militância fielmente articulada. Por muitos anos, o PT manteve o discurso da ideologia, da ética e da convicção de uma real mudança do quadro político, parecendo aos olhos de grande parte dos brasileiros que o partido representaria a redenção nacional. Do discurso à prática, revelou-se uma distância intransponível.

O projeto de poder do PT materializou-se na figura emblemática do metalúrgico Lula, que representou a chegada da classe operária ao paraíso. O Luiz Inácio presidente é hoje uma figura descaracterizada, desvinculada de seu partido de origem e de suas próprias convicções, deixando à deriva uma estrutura que hoje sobrevive de uma militância extensiva e desmotivada. O operário deu as costas ao seu passado e dedica-se apenas a um plano maior de manter-se no poder a qualquer custo. E a fatura é alta. As defecções de nomes ilustres como Marina Silva, a desarticulação nas bases, o explícito apoio de Lula a candidatos de outros partidos — exemplo do desprestígio da sigla em Campinas—, e o constrangimento submetido ao senador Mercadante na semana passada são apenas sinais exteriores de uma grave crise interna que começa a tomar forma, dando a entender que as eleições do próximo ano poderão representar um verdadeiro divisor de águas na história política brasileira.

2 comentários:

Unknown disse...

Amigo Rui

Impecável sua postagem sobre PT, Lula e a descaracterização que o poder proporcionou.
Lord Acton, faz muito tempo, comentou que "o poder corrompe e o poder absoluto, ou dissoluto como no nosso caso, corrompe absolutamente"

Abraço

Cecília disse...

Quando se dá as costas às vivências do passado como Lula fez, perde-se o que poderia ter resultado em sabedoria... A casa
se rompe em seus alicerces e já sabemos o que esperar...