sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A sociedade e o capricho de criminosos


Quando a força fala mais forte que a razão e os argumentos se perdem no emaranhado da ignorância que descarta a moral, o resultado são ações violentas que buscam impor uma verdade que fere os princípios da decência e da cidadania. É assim que agem os fracos e desprovidos de consciência coletiva, os que entendem ser o mundo o palco para seu próprio desiderato e vontade.


Na noite de quarta-feira, a Rede Anhanguera de Comunicação (RAC) sofreu um violento atentado, uma criminosa e planejada ação que, por sorte e imperícia, não trouxe consequências mais graves. A tentativa de fazer explodir uma granada contra o prédio da empresa, em local onde trabalham funcionários da empresa, foi um gesto da mais absoluta intolerância, do total desrespeito à vida humana, da irresponsabilidade de colocar em risco pessoas inocentes e alheias a quaisquer problemas que possam ter motivado a ação covarde. A tentativa, registrada pelas câmeras de segurança da empresa, foi da mais alta crueldade. Foi um atentado intencional, deliberado e com uso desmedido da força. O poder de destruição do artefato é real e apenas o acaso impediu os danos ao prédio e morte de pessoas.

A gravidade do atentado expõe também o estado de desamparo a que a sociedade se submete. A criminalidade anda solta, a impunidade é quase a regra e destaca-se a alta periculosidade de grupos que demonstram ser capazes de agir com desfaçatez e arrogância para tentar impor o seu padrão de moral e comportamento. Como nos atentados perpetrados pelo PCC contra os distritos policiais em 2006, quando o crime quis de mostrar organizado, coordenando ataques que surpreenderam pela audácia e violência, há ainda remanescentes das quadrilhas que julgam estar acima da lei e da ordem.

A intenção é clara. Sejam quem forem os autores do ataque ou seus ordenantes, o que está por trás de tudo é a tentativa de intimidação da imprensa, de cercear o direito de manifestação, a liberdade de pensamento. É preciso que o mentor do ataque tenha consciência de que é possível intimidar um jornalista. Até é possível acuar um jornal. Mas a imprensa é maior do que isto. Atos de violência desta natureza apenas fazem com que as empresas de comunicação se preparem ainda melhor para manter o seu compromisso de informar e alertar a população, mesmo contra todas as disposições contrárias daqueles pouco afeitos à normalidade legal.
Atentados como este e outras manifestações de violência mostram o quanto a sociedade está doente, o quanto a segurança é frágil. Num átimo, pode-se perder a vida, um ente querido, um bem, tomados à força pela intolerância, pela arrogância de uns poucos que acham que podem agir à revelia da ordem e impor seu padrão de comportamento violento, seguros de que o mundo deve se render a seus caprichos.

(Editorial Correio Popular, 23/1)

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