segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O desespero e a dor de não punir culpados


De tempos em tempos, e com frequência cada vez maior, a sociedade é sacudida com casos extremos de violência que comovem a opinião pública e deixam profundas marcas da barbárie humana sobre seus semelhantes. As ocorrências se sucedem em escala preocupante, trazendo a realidade de que o aparato de segurança não está minimamente preparado para dar solução aos casos. O sistema mostra-se falho na maioria das vezes, deixando os cidadãos sem alternativas de obter apoio.


O índice de elucidação de casos de crimes é extremamente baixo. No caso de solução decorrente de um trabalho sério de investigação, é praticamente nulo. A Polícia Civil não tem estrutura para dar conta do atendimento à rotina básica de segurança e dizer de trabalho de inteligência e polícia técnica soa fantasioso. O acúmulo de processos em delegacias é imenso e as ações contra o crime organizado e quadrilhas se resumem à verificação de denúncias e, muito eventualmente, alguma evidência decorrente de outra ocorrência.

Na posição de vítimas, cabe aos cidadãos comuns buscarem a própria segurança e se conformarem com a indiferença nos distritos policiais, onde a burocracia se instala para o registro de ocorrências que parecem servir apenas para alimentar estatísticas e servir à esfera da polícia judiciária. Querer saber do andamento dos inquéritos e ter esperança de que algum crime esteja sendo acompanhado beira a ingenuidade de quem não se dá conta da fragilidade da Segurança.

A reação emocional da família do jovem Renato Dobelin, assassinado há um ano em Sumaré, vale como registro de um fundamentado protesto. Depois de infrutífera peregrinação pelos distritos atrás de informações sobre os assaltantes que mataram friamente seu filho, o pai não conseguiu se conter e tornou pública sua indignação com cartazes espalhados nas rua pedindo justiça.


A revolta se justifica. Dia após dia, a família viu que nada estava sendo feito, nenhum esforço de identificação dos criminosos. Em verdade, o caso está provavelmente esquecido em alguma gaveta, junto com tantos outros que terão o mesmo destino até que sejam efetivamente arquivados ou reabertos a partir de uma confissão improvável ou associação com alguma outra tragédia que não tardará a se repetir, como o caso de latrocínio em Holambra, acontecido há pouco mais de uma semana em circunstâncias semelhantes e não menos chocantes.


O gesto desesperado da família Dobelin é uma tentativa de obter o consolo de que aqueles responsáveis pela morte do jovem não estão por aí, provavelmente delinquindo, ameaçando as pessoas, fazendo da violência o seu dia a dia. Não se trata de vingança pura e simplesmente, mas da profunda indignação diante da impunidade que toma conta da sociedade e é inoculada de volta no sistema, alimentando o círculo vicioso da violência por não conseguir impor as razões de justiça e responsabilidade.

(Correio Popular, 24/1)

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo, e pelo apoio ao nosso protesto em busca de justiça, é muito triste agente ter que pedir para polícia investigar o caso, quando eles deveriam fazer natualmente, a vida do Renato agente sabe que não voltará mais, só que mais nos revolta é saber que esses marginais estão a solta e com certeza cometendo o mesmo crime com outras pessoas.

Marcelo Dobelin
Irmão do Renato