terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Diretas-Já, um momento de transformação


A história política de um país se escreve com linhas de bravura, ideologia, destemor, capacidade de transformar a sociedade, luta pelo direito e o enfrentamento das forças mais poderosas que insistem em se apoderar do bem comum em proveito próprio. A démarche da cidadania se fez presente ao longo da construção do Brasil, soberanamente governado pelos representantes da aristocracia colonial até evoluir para um sistema representativo mais pleno, livre de arbitrariedades e períodos de exceção.


O brasileiro, normalmente afeito à mansidão política, poucas vezes teve arroubos de protesto ou tentativa de transformar o quadro político através de manifestações abertas e de força. A luta armada sempre teve pouco peso e apoio na população, que prefere a natural indolência a assumir compromissos e responsabilidades. O golpe de 1964, quando os militares atingiram o poder, contou com o apoio da sociedade no primeiro momento, e com a apatia geral quando o período de exceção se estendeu até 1985, quando foi oficialmente restabelecida a eleição direta para presidente da República.

Em raro momento de lucidez e engajamento, a sociedade brasileira deu importante e marcante demonstração de civismo há exatos 25 anos, com a realização dos comícios pelas Diretas-Já, movimento iniciado em 1983 e que teve o ponto alto no ano seguinte, quando reuniu 300 mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, reverberando um grito de protesto que se espalharia por todo o País, mudando a história.

As lições deste episódio é que muitas das transformações podem e devem acontecer com a mobilização consciente de cada cidadão, criando uma corrente de força capaz de influenciar decisões, alterar o status quo, impor condições sociais e alavancar processos de mudança no caminho da normalidade democrática. Aperfeiçoar o sistema é uma luta constante onde não se pode transigir. Na história brasileira, a campanha das Diretas-Já colocou no mesmo palanque todas as vozes de oposição, alinhando Lula e FHC, entre tantas lideranças, que depois tomaram rumos diferentes em suas histórias particulares.

O tempo político de hoje é diferente, mas está a exigir um mote de aglutinação, que extrapole as amarras partidárias e una as forças no caminho de uma administração que priorize a sociedade. Não há porque se submeter à lógica partidária de interesses e negociatas, onde não existem mais ideologias, para dar lugar a um plano de intervenção séria, acima de politicagens ou interesses mesquinhos que têm sacrificado a boa política.

Das lideranças que cumprem mandatos, espera-se que mantenham as portas abertas ao diálogo e aproximação, como verdadeiros administradores que veem parceiros, não adversários. E que, juntos, possam levantar a bandeira da Moralidade-Já como tema principal onde a voz da população possa ser ouvida mais uma vez, com entusiasmo e participação como sinal de um novo tempo.

(Correio Popular, 27/1)

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