quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O bolo da vitória


Atravessar o período eleitoral exige de cada candidato um forte condicionamento cívico, uma ampla percepção da realidade que o cerca e um preparo físico admirável, que resista aos muitos quilômetros caminhados e a dietas que oscilam entre o inconveniente e o constrangedor. Há também a rotina dos abraços fortes e apertos de mão, aproximando ideologias, familiaridade, relações nem sempre cordiais, fazendo amigos por toda a parte. Ser candidato é atravessar um deserto de percalços e pressões, disputando na técnica, na conversa e no comportamento cada voto que será disputado nas urnas.

No longo percurso, os políticos ainda têm que carregar o peso dos partidos, para muitos apenas uma sigla onde se podem acomodar os interesses locais, formar uma indispensável militância, armar uma mesa de negociações, viabilizar constitucionalmente as candidaturas. Mais importante, mas não tão decisivo, os partidos ainda foram concebidos para dar abrigo a ideologias e correntes políticas, procurando dar aos eleitores um sinal ainda que vago das propostas que serão defendidas pelos seus representantes.

As coligações permitidas em lei para a disputa das eleições são uma forma legítima de arregimentar apoios e harmonizar interesses em momentos específicos, dando suporte às agremiações mais fortes e melhor estruturadas, dando oportunidade a que os partidos menores manifestem intenção de colaborar com os futuros governos. Daí surgem as alianças que, no plano teórico da democracia, dão aos eleitos uma base sobre a qual fundear seu governo e a composição política que pode sustentá-los.

Ao partir para a campanha pela reeleição, o prefeito de Campinas Hélio de Oliveira Santos acionou seus contatos para a configuração de uma ampla coligação jamais vista no cenário local, atraindo partidos de todos os matizes e tendências que se abrigaram sob o teto magnânimo de uma administração solidamente instalada e com grandes chances eleitorais. Não foi difícil costurar as alianças de tal forma que até o Partido dos Trabalhadores de Campinas cedeu à conveniência de abdicar de uma candidatura própria para seguir os desígnios emanados diretamente do Planalto.

Passada a festa, escancarado o resultado das urnas, vem o gosto amargo da vitória, a hora de partilhar o butim político de lotear a administração municipal entre todos os interesses e colaboradores. Para o prefeito Hélio de Oliveira Santos, começa a inglória tarefa de repartir o bolo entre tantos convidados, sob o risco de uma severa descaracterização da equipe do primeiro mandato. O vice-prefeito eleito Demétrio Vilagra, em sua primeira entrevista oficial, antecipou que a partilha já está sendo pensada.

Resta saber o quanto a conta a ser paga pelo prefeito e seus aliados será salgada e o quanto pesará para a sociedade que apostou em peso na continuidade do atual grupo no poder.


(Editorial Correio Popular, 8/10)

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