sexta-feira, 24 de outubro de 2008

As viúvas da desgraça

Escrevi, certa vez, que “surge um novo Lula. Maquiado, manipulado, travestido, dissimulado. Um Lula que não convence ninguém, evasivo em suas colocações, medroso quanto às próprias convicções, um traidor de sua própria história. Tornou-se portador de um discurso que caberia na boca de qualquer líder do PFL, que não o torna diferente de FHC. É hoje um personagem grotesco que chocou até seus próprios companheiros”. Este texto tiro de um artigo escrito e publicado neste espaço em julho de 2002, em que, pretensiosamente, exercitava um pouco de premonição.

Em março de 2003, ocupava novamente este espaço com o artigo “Sem medo e sem esperança”, onde escrevi: “Nas primeiras medidas práticas anunciadas pelo governo petista, já começam a aparecer os pequenos desníveis entre o que se fala e o que será feito. Exemplos há de monte”.

Pois bem, em ambos os casos sofri desatinadas críticas. Não ligo, exerço apenas o meu pesado ofício de expressar o que penso. Mas não posso esconder uma íntima satisfação de, agora, ter sido o portador do que à época parecia recalcada impressão. Ninguém de sã consciência pode ficar feliz com o desacerto institucional, o que seria uma absoluta irresponsabilidade. Falo, apenas, daqueles pobres inocentes que acreditaram.


Que o rei está nu, todos sabem. Caíram a máscara, a arrogância da certeza, o pressuposto da virtude, as vestais do partido. O rei está nu e é muito feio.

(...) Às viúvas da desgraça tenho usado um argumento contundente: foram vocês que convenceram milhões de brasileiros de que Lula era um homem preparado, que para exercer a Presidência bastava ter boas intenções. Não venham agora negar a biografia do presidente, não finjam ignorar tudo o que foi dito antes da eleição. As regras do jogo foram cantadas com muita antecedência e todos ficaram à espera do butim a ser partilhado.

Para isto, não precisa ser um gênio da premonição, astuto analista político ou mesmo gozar de informações privilegiadas. Bastava ter ouvidos e querer ouvir.

(Trecho de artigo publicado em O Impacto, em junho de 2005)

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