domingo, 4 de janeiro de 2009
Um sinal de que pouco mudou
Está se tornando extremamente grave o estado rejeição que os políticos enfrentam por parte da população, em grande parte afrontada com práticas de desonestidade, de total desrespeito às instituições, de desafio à moral e à ética, que se tornaram bens preciosos e raros no meio político. Para muitos, o limite já foi ultrapassado e o desconforto com a arrogância dos maus toma forma de uma rejeição que beira o asco.
É possível perceber um processo de transformação e qualificação da sociedade, sobressaltada com tantas denúncias de corrupção, de mau uso do dinheiro público, da exploração de vantagens no meio político. É uma transformação lenta, talvez desapercebida pelo eleitor menos informado, que ainda deposita seu voto de confiança em candidatos que não mereceriam sequer a legenda que os partidos lhes outorgam. Mas ainda persiste a expectativa renovada a cada eleição de que importantes passos são dados no sentido de uma plenitude democrática e uma representação política mais que legítima, mas também qualificada, bem intencionada e calçada em conceitos absolutos de ética e moral.
A Câmara Municipal de Campinas deu, nos quatro últimos anos, inúmeros exemplos de como a classe política pode ser inoperante, cercada de irregularidades, distante dos eleitores, falsa em seus propósitos, desonesta na aplicação de seus direitos. Não faltaram denúncias de desvio de verbas, contratações irregulares, negociações espúrias, tudo abafado pelo corporativismo infame que joga para baixo dos tapetes a sujeira respingada da lama nos bastidores.
As eleições de 2008 mostraram claramente a intenção de renovação, com troca significativa dos vereadores, ainda que restassem alguns espectros da má política que se instalou nos poderes. A expectativa era de uma mudança de posturas, uma nova forma de fazer política, uma mentalidade que priorizasse o município e a região com suas prioridades, sepultando a prática clientelista e deseducativa da compra de votos ou o uso sistemático de favorecimentos para obter votos. Veio a posse da nova Câmara e frustraram-se as melhores esperanças.
O primeiro sinal emitido do plenário na abertura da nova legislatura é que Campinas terá mais do mesmo. A re-eleição de Aurélio Cláudio para a presidência da Casa dá a entender que, mais uma vez, devem prevalecer os procedimentos que se esperava sepultados. Perdem os vereadores a oportunidade de mostrarem uma nova postura de independência, reafirmando os compromissos de respeito aos eleitores e de atenção aos interesses da comunidade.
A recondução de Aurélio à chefia dos trabalhos somente acontece por estranha costura de interesses nos bastidores, o que eleva a temperatura política para os próximos dois anos, quando a sociedade deverá estar pronta e atenta para fiscalizar os trabalhos legislativos dos antigos, que já deram mostras do que são capazes de fazer, dos novos que chegam negando a oportunidade de renovação que estava em suas mãos, e dos antigos oposicionistas, agora apoiadores, que terão que se esforçar para justificar a troca de posições, como que troca um paletó por outro muito mais apertado.
(Editorial Correio Popular, 4/1)
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