segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
A expectativa de uma nova era nos EUA
O mundo vive um momento especial de grande expectativa. A aproximação do fim da primeira década do século 21 oferece a oportunidade de um balanço de todos os acontecimentos que marcaram a história da humanidade em ritmo vertiginoso de transformações, que muitas vezes são difíceis de compreender em seu contexto temporal. Desde o simbolismo esotérico da chegada do ano 2000, o mundo convulsionou-se de tal forma que mesmo os mais atentos analistas se surpreendem. Os ataques terroristas a Nova York em 2001 criaram uma clara linha no tempo, como se a história precisasse ser contada com um antes e um depois do choque.
Os conflitos comprovam que a humanidade está longe de gozar de momentos de paz. As diferenças sociais, culturais, econômicas, ideológicas e de credo se aprofundaram, exigindo uma busca constante de personalidades que possam liderar no caminho da harmonia. Para arrematar, a crise mundial eclodida no segundo semestre do ano passado pautou todos os investimentos e ações ao redor do planeta, destruindo riquezas e trazendo a preocupação de reorganizar o sistema econômico na perspectiva da inversão de valores de rendimentos e produção.
Este painel de problemas está colocado à frente de outro fato relevante que se concretiza nesta terça-feira. Os Estados Unidos da América se preparam para a abertura de um novo mandato presidencial, com o negro Barack Obama carregando todo o peso da expectativa mundial de transformação. Nascida no seio da convulsão, a candidatura do democrata apoiou-se na necessidade evidente de pôr um fim na era Bush, símbolo de um dos períodos mais tristes da história americana moderna. A simpatia despertada em todo o mundo carregou de tintas fortes o discurso de mudanças, a ponto de as pessoas divisarem um neomessianismo caracterizado pela forte emoção demonstrada por líderes de todo o mundo com a ascensão de Obama.
Fazer frente às expectativas de grande parte das pessoas não é o maior desafio do novo presidente norte-americano. O primeiro dia à frente da Casa Branca já tem um peso extraordinário a ser carregado por qualquer ser humano. O papel de influência dos EUA nos destinos do mundo ainda é incontestável e cada passo que o gigante dá reverbera em todos os continentes, seja pelo cacife econômico, político ou militar. E há questões urgentes a serem enfrentadas decisivamente já nos primeiros dias.
Duas guerras em curso provocam apreensão na comunidade internacional. O infindável conflito no Iraque é a maior herança da dinastia Bush e onde se esperam decisões impactantes. Obama, em gesto de marketing político, garantiu o fechamento da prisão em Guantánamo no primeiro dia com assento na Casa Branca. O cronograma de retirada de tropas americanas é o próximo passo. Na Faixa de Gaza, o mundo espera que os Estados Unidos finalmente se posicionem para garantir o fim do conflito e abertura de negociações de paz.
Finalmente, o novo presidente tem os olhos voltados para si no contexto de alicerçar a recuperação da economia diante da crise, o que será fundamental para definir o humor do mercado financeiro e recuperar o nível de crédito em efeito dominó.
Diante de tantas atenções e expectativas, a posse de Obama tende a ser mais um fato marcante neste início de século. E a esperança maior é de que, aos poucos, o mundo possa encontrar um caminho melhor para trilhar, sem superestimar a capacidade pessoal de uma importante personagem ou de um único país.
(Editorial Correio Popular, 19/1)
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