sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A verdade nua e crua dos professores

A educação é o baluarte da construção de uma nova sociedade, aperfeiçoada, crítica com seus próprios erros, consciente de seus limites e horizontes, calcada no conhecimento que alicerça o desenvolvimento individual e coletivo. É consenso absoluto a importância que o ensino tem na formação de cidadãos plenos, a ponto de a formação acadêmica estar entre os pressupostos constitucionais de responsabilidade de governantes. Permitir o acesso universal e franqueado a uma educação de qualidade é a melhor forma de distribuir equitativamente benefícios e oportunidades.

O Brasil está a muitos passos de cumprir com um mínimo de respeito ao direito de acesso escolar para seus filhos. A educação pública é de uma indigência chocante, não faltando exemplos de como faltam recursos, investimentos, qualificação e infraestrutura para dar conta da imensa demanda por cursos em todos os níveis. A carência leva a um quadro de distorção social, com a classe média e alta custeando o ensino em escolas particulares, enquanto a maioria amarga as dificuldades crônicas dos estabelecimentos oficiais, sujeitos à violência, depredação, currículos não cumpridos e até analfabetismo que se arrasta através dos primeiros anos letivos.

No eixo do problema, estão os professores. Segundo o estudo Professores do Brasil: Impasses e Desafios, divulgado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) na semana passada, os professores representam o terceiro maior grupo ocupacional do país (8,4%). Nem por isso são respeitados como profissioanais - 50% dos docentes recebem menos de R$ 720 por mês. A desmotivação chega ao ponto de 50% dos alunos que cursam o magistério e que foram entrevistados dizerem não sentir vontade de ser professores.
O preocupante quadro justifica todos os movimentos reivindicatórios por uma melhoria radical do sistema, recompondo o padrão de qualidade do ensino público que havia há décadas. Mas há que se medir a eficácia, conveniência e seriedade das manifestações. O protesto articulado pelo Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado (Udemo) para ontem, Dia do Professor, denominado "Nu Pedagógico", previa arregimentar 10 mil professores e prometia que pelo menos alguns tirariam suas roupas.

Péssima estratégia marqueteira para atrair a atenção ou mau gosto explícito, o movimento não conseguir reunir mais que algumas centenas de pessoas em São Paulo, menos em Campinas, sem que ninguém ousasse despir-se.

Os professores merecem respeito, apoio em suas reivindicações e melhores condições de trabalho. Não precisam de intervenções oportunistas como essa que beira o ridículo. Bastaria multiplicar exemplos como os mestres de Campinas que transformaram a realidade da Escola Estadual Geni Rosa, no Jardim Satélite Íris, através de intervenções positivas em sua estrutura e na autoestima de funcionários, professores, comunidade, estudantes e seus familiares. Uma forma criativa e produtiva de mostrar a realidade nua e crua da Educação no Estado mais rico da Nação.

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