quarta-feira, 3 de junho de 2009

Quando se imaginava que a crise instituída entre a Administração municipal e os servidores municipais de Campinas começaria a dar sinais de desgaste, no caminho de um acordo que pudesse contemplar a expectativa do funcionalismo e as possibilidades de caixa da Prefeitura, uma inusitada perspectiva foi lançada ontem com a radicalização dos discursos, a intransigência dos manifestantes e o clima de violência que não se poderia esperar a essa altura dos acontecimentos.

Atropelando o bom senso e as considerações de segurança, os líderes sindicais levaram o protesto às portas do Paço Municipal, invadindo espaços vetados pela Justiça e exigindo a ação policial para impedir o abuso. As agressões mostram um movimento sem controle, sem foco, articulado ao sabor das conveniências e de interesses que aos poucos vão se tornando mais claros quanto mais radical se torna o discurso de palanque. O confronto aberto a que foi jogada a greve dos servidores é surpreendente por ocorrer em momento em que se julgava a caminho de uma negociação mais serena e ponderada entre as partes.

Na segunda-feira, as lideranças sindicais saíram da rodada de debates com espíritos desarmados e a firme intenção de colocar a discussão sobre os reajustes salariais em um novo patamar. As manifestações faziam crer que se abria uma janela possível para resolver o impasse levantado a partir do confronto de interesses, do porcentual de aumento colocado à mesa de negociações e das limitações legais e orçamentárias que norteiam a discussão. Em inesperada reviravolta, a corrente tomou a direção contrária, antagonizando as partes e levantando novas barreiras de forte conotação política. Em lugar de avanços na definição de porcentuais de reajuste, a agressão e a tentativa de intimidação.

Todo processo de radicalização em negociações embute conceitos extremos, como a absoluta intransigência provocada por ignorância ou pela elocubração de um discurso finamente preparado para atingir objetivos nem sempre claros à primeira vista. Quando o argumento se fundamenta em contradições, a impressão que se tem é que a dialética se faz presente de uma forma articulada, que pressente a utilização de grupos como massa de manobra.

Os novos fatos levam à reflexão dos interesses políticos embutidos no movimento. O conflito registrado ontem mostra que os grevistas abandonam seu princípio elementar, desconsideram medidas judiciais, o bom senso, a negociação e o direito dos cidadãos. O interesse da sociedade e a questão salarial passam a segundo plano para dar lugar a um processo de desabono, tendo como mola-mestra o oportunismo político.

As respostas que devem ser procuradas agora estão nas mãos dos verdadeiros interessados em criar um clima de animosidade. O que está em jogo parece estar acima de uma mera contrapartida salarial. Os fatos colocados à mesa suscitam dúvida que ocorre a todos que acompanham o movimento: a quem, afinal, interessa a greve?

(Correio Popular, 3/6 -foto Carlos Bassan/AAN)

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