terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A invasão dos violentos


A questão da reforma agrária é uma das bandeiras recorrentes dos chamados movimentos de esquerda, que advogam a necessidade de uma mobilização sistemática da população na busca de uma área para a instalação de cooperativas de produção rural ou para a construção de moradias no espaço urbano. Despertados para a urgência de uma solução em nível nacional, os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva vêm desenvolvendo nos últimos anos uma política intensa neste sentido, no ritmo ditado pelas dificuldades inerentes que o assunto impõe.


Os resultados nem sempre aparecem na cota de urgência dos grupos politicamente organizados, como o Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), envolvido em recente invasão de área em Sumaré, e mesmo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o núcleo que primeiro levantou a bandeira das ocupações de terras ociosas e agora se dedica a uma militância extrema de interesses diversos.

O grupo do MTST que invadiu há 24 dias uma área particular no Jardim Denadai, em Sumaré, protagonizou no período uma situação de instabilidade no município, com uma ação irresponsável que foi decidida na óbvia ordem judicial de reintegração de posse, submetendo inúmeras famílias a uma situação de desconforto, fome, dificuldades enormes de viver em acampamento com crianças e idosos, alimentados pela esperança vã de conseguir um terreno para construção de suas casas. Não bastasse a ação violenta de ocupação de uma área particular, os dirigentes do MTST incitaram parte do grupo a uma passeata pelas ruas centrais de Sumaré na quinta-feira, que exigiu a intervenção da Guarda Municipal e Polícia Militar, e criou um estado de pânico que levou ao fechamento de estabelecimentos comerciais, o cerco ao Paço Municipal e até o lançamento de bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes hostis.

Desacostumados ao diálogo e cedendo ao espírito antagônico ditado pelas suas cartilhas, alguns membros do movimento ousaram a agredir e ameaçar a equipe de reportagem da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC) no domingo, em ação que revela o quanto de intolerância e falta de respeito norteiam as ações de invasão, onde os discursos sobre direitos estão na ponta da língua, mas as obrigações legais e de convivência social são deixadas para trás.

É lamentável que um assunto da maior importância como o atendimento às famílias seja tratada da maneira irresponsável como acontece nestes núcleos. Aos participantes ingênuos é vendida a tese de que somente com a violência das ocupações os direitos serão conquistados, como que se esquecendo de que o poder federal está hoje nas mãos do maior partido de esquerda do País, que se deu conta das dificuldades na questão da terra. A organização reivindicatória é correta e bem-vinda, desde que não contaminada pela virulência da má política, do discurso reacionário, da incitação à desordem e pelo desrespeito a todos os demais direitos da sociedade.

(Editorial Correio Popular, 9/12)

Nenhum comentário: