terça-feira, 11 de novembro de 2008

Os ventos não trazem mais respostas

O mundo vive em eterna convulsão, como um organismo vivo e em constante mutação. A estrutura física do planeta passa por profundas e radicais modificações, como se o processo de criação fosse uma constante e a sedimentação ainda faltassem milhares de séculos para se estabilizar. Terremotos, movimentação de geleiras, assentamento de placas tectônicas e outros fenômenos mostram que a Terra é uma variável e o comportamento humano é exigido para que as pessoas possam se adaptar ao seu habitat com recursos de inteligência, adaptação e interação com o ambiente, garantindo a sobrevivência da espécie. Nesse contexto, a vida em sociedade é pautada por atitudes de sustentabilidade e constante revisão de seus atos predatórios.

Da mesma forma, as pessoas fazem o seu tempo com atitudes políticas, moldando a história de acordo com as circunstâncias e as necessidades prementes, adotando comportamentos que forjam o futuro como conseqüência das disposições do momento. As páginas da história ressaltam momentos que definiram o papel de cada sociedade, em episódios de conflitos, de enfrentamento pela busca do poder, de lutas pela liberdade. Nos tempos modernos, o ano de 1968 foi emblemático na luta pelas liberdades individuais, pela busca de identidade entre as pessoas, pela apresentação de propostas de rompimento que, da singeleza do discurso adolescente, fizeram brotar avanços consideráveis na sociedade mundial.

Na agitada Paris de 40 anos atrás, o discurso inflamado de Daniel Cohn-Bendit sintetizava a busca de um novo tempo, com frases cunhadas com criatividade e rebeldia: “Sejam realistas, exijam o impossível!" e “É proibido proibir” sintetizavam um desejo que tomou o coração dos jovens em todo o mundo, espalhando-se como mensagem positiva, direto recado ao status quo que insistia em fórmulas que tinham gerado duas guerras mundiais e um modelo desgastado de injustiças e discriminação.

No Brasil, o movimento teve características especiais, retratadas com fiel respeito pelo escritor Zuenir Ventura, que revisitou o tema recentemente. O retrato da opressão do regime militar deu novo contorno às manifestações, mas ecoou por aqui a necessidade de colocar para fora a indignação principalmente dos jovens.

Passados 40 anos, a nova geração mostra-se desagregada, sem bandeiras, sem motivação política. Desde o movimento pelas Diretas Já e o fenômeno dos caras-pintadas não se vêem jovens com justa motivação. Não há propostas de mudança, não há indignação nas ruas. O fórum de convivência é a internet e nem mesmo os escândalos recentes parecem capazes de acender qualquer chama de reivindicações, de rebeldia.

A política é a história dinâmica da sociedade. Através da participação ativa em todos os momentos é possível a transformação, a mudança do quadro atual. Fazendo mover as placas tectônicas da política, é possível prever terremotos ideológicos que possam fazer eclodir padrões de moral compatíveis. Espera-se que não seja preciso mais quatro décadas para essas transformações.

(Editorial do Correio Popular, maio 2008)

Um comentário:

Anônimo disse...

Não podemos jamais deixar de acreditar no vento e na sua força...