quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um drama social que toma as ruas

A vida se apresenta de maneiras diferentes para cada indivíduo. As variáveis de localização, oportunidades, laços afetivos, cultura e a capacidade de cada um vão aos poucos fazendo com que as pessoas façam suas escolhas e achem seu lugar na sociedade. O determinismo social é responsável por forjar os caminhos de cada um, deixando apenas por conta do arbítrio e das oportunidades a mudança de status.

A complexidade da vida moderna tem seus lados negativos, agravados pelas desigualdades, pela forma hipócrita com que a sociedade muitas vezes enfrenta seus maiores problemas, fazendo com que questões importantes caminhem por conta própria, deixando marcas de violência, desamparo, miséria. Um dos perfis mais chocantes nesta estrutura é a população absolutamente marginalizada que vive nas ruas, por falta de opções ou por escolha própria, em confusa mistura de valores e crenças que leva multidões a uma vida sem perspectivas e sonhos.

Os moradores de rua fazem de seu cotidiano uma dura realidade imposta pela incapacidade de encontrar horizontes em sua própria vida, vivendo de esmolas, muitas vezes consumidos por drogas e álcool, motivados pelo isolamento cruel, sempre em condições mínimas que não lhes permite escolhas. Abandonados pelas famílias, esquecidos pela sociedade, vão formando comunidades itinerantes, sem chão, pousada ou destino, muitas vezes sequer esperando uma sorte diferente, que ficou nas vagas lembranças do passado ou em sonhos de recomeço que dificilmente se tornarão realidade.

Campinas tem contabilizadas 1.064 pessoas em situação de rua, sendo que 842 vieram de outras localidades, deixados na rua por prefeituras e serviços de assistência de outros municípios, que confessadamente assumem não ter como dar atendimento a essas pessoas e optam pela solução de largá-los próximos de um local onde exista uma rede social com programas de atendimento aos moradores de rua. Eles chegam de vans, carros, ônibus, vindos de muitos destinos, descarregados como gado indesejável, sujos e sem recursos, largados à sorte por quem acredita que se livra do problema jogando o lixo por cima do muro.

O tratamento dispensado a essas pessoas é cruel. Há programas que podem garantir uma renda mínima a estes indivíduos, orientá-los a reencontrar um rumo para a vida, fazer contato com parentes e conhecidos, gerar algumas oportunidades. Mas os beneficiados não sabem. Muitos vagam pelas ruas sem sequer saber onde estão. Não sabem de pontos de assistência, não aceitam ajuda por absoluta falta de coragem de enfrentar o próprio problemas. Seguem amazelados pelo seu destino infeliz.

É preciso que estas políticas sociais cheguem a estas pessoas, os municípios assumam sua responsabilidade em vez de transferi-la irresponsavelmente, unindo esforços na defesa de uma parcela significativa da população, doente e perdida, que não merece ser brutalmente alijada do convívio social por problemas que eles não são capazes de reconhecer e os serviços de assistência fingem não ver.

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