As atividades esportivas em qualquer modalidade foram desenvolvidas para aferir a capacidade física, estratégica, mental ou de organização em equipes de oponentes, atribuindo um valor de recompensa aos melhores, no melhor espírito olímpico. Através dos esportes, o homem se realiza, estabelece metas, desenvolve sua capacidade de realização e de convivência social.
A profissionalização do esporte foi a forma de dar um caráter objetivo às atividades, ainda que ao custo da perda de alguns dos valores mais autênticos, como o prazer da disputa, a afinidade com o clube e seus símbolos, o respeito às regras e aos limites do próprio corpo, que passou a ser um instrumento preciso a ser moldado para obter maior rendimento.
O mais novo escândalo que aflorou no circo da Fórmula 1 traz uma versão inusitada de um gesto altamente condenável, envolvendo a escuderia Renault e o piloto brasileiro Nelson Piquet Júnior e seu pai, o tricampeão da categoria. A história ainda promete muitos desdobramentos no curso da investigação levada a efeito pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), mas os primeiros detalhes são sórdidos o suficiente para levantar a indignação de todos contra a atitude antidesportiva, irresponsável, desprovida de um mínimo de caráter que se esperaria de pessoas normais.
Ao ser demitido da equipe francesa, o jovem piloto brasileiro e seu pai intentaram levar à frente a denúncia de que um acidente teria sido forjado para favorecer o primeiro piloto Fernando Alonso. Piquet declarou ter aceito a determinação da equipe para bater seu carro propositadamente, alegando ter interesse em fazer o jogo sujo para facilitar a renovação de seu contrato, então sob risco. De todos os escândalos que enodoam a categoria do automobilismo, esse é certamente o mais grave e revoltante. Não somente por colocar em risco a vida do piloto, fiscais de prova, outros competidores e, eventualmente, até a plateia, o gesto representa a total subversão da lógica do esporte e mostra a que ponto o caráter de algumas pessoas pode capotar numa curva.
Não bastasse a baixeza de ter urdido um plano tão sórdido, os protagonistas avançaram de maneira absurdamente desleal. Conseguiram descer mais um degrau para o fundo do poço da canalhice. Frustrada a intenção de renovar o contrato do jovem piloto, Nelson Piquet, pai, correu à FIA para denunciar Flavio Briatore, negociando a imunidade do filho pela delação. Ocorre que o gesto está longe de representar um rumo de correção ao caso. Presta-se apenas como retaliação por ter os interesses contrariados.
Casos como esse escandalizam e merecem total repúdio. É sabido que o mundo profissional dos esportes não é um conto de fadas de amizades e companheirismo. Mas não deveria ser tão abjeto e irresponsável. Quanto aos atletas e ídolos de todas as modalidades, deveriam se resguardar e cumprir a responsabilidade de serem exemplos, parando de mostrar às novas gerações o cínico apelo de que o importante é sempre se dar bem, não importando o quanto de sujeira e destroços ficarem pelo caminho.
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