O crescimento do Brasil se dá em geométrica progressão, sem que as estruturas sociais acompanhem o crescimento demográfico, deixando hiatos de formação dos cidadãos, ansiosos em progredir na formação acadêmica e nas oportunidades de emprego, normalmente abortadas pelas desigualdades, pelos fossos de injustiça que separam aqueles que terão acesso a escolas de qualidade, tudo afunilando na entrada do Ensino Superior, por onde passa uma privilegiada minoria. O resultado é uma nação cindida em estratos, perpetuando diferenças que poderiam ser superadas com políticas de distribuição de renda e oportunidades.
O abismo poderia ser ainda maior não fosse a ação de inúmeros abnegados, voluntários que cumprem dever de Estado e assumem a responsabilidade da atenção social em todos os níveis. Desde o atendimento de saúde, atenção e cuidados com idosos, formação escolar funcional, recuperação de adictos, até o provimento de alimentação básica, grande parte da responsabilidade recai sobre instituições e entidades que preenchem os vazios deixados pelas más gestões públicas.
A formação de jovens para a cidadania e para o trabalho é um dos pilares da construção de uma sociedade mais equânime, onde as diferenças são niveladas a partir da instrução elementar de relacionamentos sociais, de preparação básica para atividades corporativas, de valorização pessoal, construindo gerações mais equilibradas, sensatas. É o caso da instituição Patrulheiros de Campinas, que nesta semana comemorou 43 anos de existência, uma experiência partilhada com tantas outras entidades semelhantes que suprem importante mister de dar esperança a dezenas de milhares de jovens que passaram pelas portas da profissionalização e do civismo.
Ao atuar em uma das sustentações da formação do caráter dos adolescentes, essas entidades se transformam em ferramentas da construção da sociedade. Devem ser estimuladas, incentivadas, apoiadas por parcerias construtivas, para que seu efeito formador seja multiplicado na medida em que a sociedade é cada vez mais carente. Toda tentativa de cercear este trabalho, como a ação que pretende afastar os jovens em formação do serviço público, devem ser sopesadas com as consequências com a prudência e bom senso, pois há que se admitir que o abismo maior que existe na situação é a falta de conceituação do que seja exploração do trabalho infantil e oferecimento de real oportunidade de uma vida mais digna.
(Correio Popular, 8/5)
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