Toda negociação envolve um alto grau de responsabilidade entre as partes envolvidas, que devem buscar o ponto médio de atender a todos os interesses e não podem exacerbar seus argumentos de forma a prejudicar os acordos possíveis. Se o processo envolver o direito de terceiros, o cuidado deve ser redobrado, assim como o peso de responder por prejuízos causados.
A greve dos condutores do transporte coletivo de Campinas foi marcada por uma série de irregularidades e ilegalidades, ferindo o direito constitucional dos cidadãos e expondo a falta de habilidade para conduzir uma negociação séria e relevante. A cidade parou por três dias, com enormes prejuízos causados em todos os níveis, direta ou indiretamente. Negócios foram prejudicados, empresas sofreram com a falta de funcionários, a rotina das pessoas foi alterada covardemente, até mesmo com dificuldade de buscar atendimento de saúde. O protesto protagonizado pelo Sindicato dos Condutores rasgou a cartilha do bom senso, marcado pela intransigência, pelo uso político do evento e pela dissimulação de intenções.
Mais do que uma causa trabalhista, o interesse maior de toda uma comunidade estava em jogo. É preciso sensibilidade e pulso firme ao avaliar o mérito da ação e os métodos empregados. Não pode deixar de influir na decisão o direito inalienável do cidadão comum, pego no fogo cruzado das pressões e desdenhado como parte interessada na solução.
A situação chegou ao extremo tolerável. A cidade não pode ficar à mercê dos interesses de uma categoria sempre que houver reivindicações, por mais justas que possam parecer. Os baixos salários pagos a motoristas e cobradores dizem respeito aos próprios empregados, às empresas contratantes e à Justiça do Trabalho, no caso mediadora do processo. O mote da paralisação foi um reajuste salarial de 18% a 62% e o acordo foi firmado com índices de 7,92% a 17,2%, mostrando o absurdo da pauta levada inicialmente à mesa de negociações. O impasse criado pelo Sindicato dos Condutores revelou-se oportunista, extrapolou seu limite de razão e a greve só aconteceu por interesses políticos.
Fecha-se o círculo de responsabilidades com a Administração municipal, que banca parte do sistema de transporte coletivo com subsídios e deve zelar pelo ordenamento urbano afetado com a paralisação.
Em casos como o ocorrido nesta semana, é preciso que todas as partes envolvidas em maior ou menor grau imponham condições para garantir a ordem e o atendimento à população, fazendo valer o peso político que é requisitado em situações como a greve que afetou toda a região. Todos os agentes envolvidos nos acontecimentos – sindicatos, empresários, Justiça do Trabalho e Administração Pública – devem sempre eleger o interesse maior de Campinas e região, não tergiversando sobre aspectos menores.
(Correio Popular, 15/5)
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