A organização do espaço público é determinada por vários fatores que influem no modo de convivência das pessoas. Os costumes mudam com o tempo e as aspirações das comunidades vão se moldando às novas necessidades. Há tempos a convivência nas ruas é mais difícil, as regras de vizinhança cordial se perdem nas grandes cidades, transformando-se apenas em relacionamento harmonioso de pequenas comunidades.
O crescimento das cidades, a falta de instrumentos administrativos e de planejamento adequado levam a um desenho urbano diferenciado que atenda ao perfil da sociedade. A falta de segurança crônica que se abate sobre os cidadãos tem influenciado os modelos de arquitetura, de disposição de espaços, de áreas de convivência e mesmo de circulação de pessoas e veículos. As residências vão se fechando em altos muros, cercadas de aparatos de segurança, isolando as pessoas e criando nichos de proteção cada vez mais exigidos na infraestrutura urbana.
Quando o Estado se mostra ineficiente para suprir e montar o aparato de proteção à sociedade, resta buscar formas alternativas, como arcar com a contratação de agentes de segurança, utilização de equipamentos de cerco e vigilância, num crescendo de providências que buscam garantir um mínimo de tranquilidade, chegando aos condomínios que se multiplicam por oferecer isolamento e uma aura de proteção virtual.
Na esteira da febre de morar em locais fechados, moradores de alguns pontos de Campinas lançam-se na determinação de fechar ruas nos bairros, instituindo condomínios à margem de regulamentação, determinado regras para o espaço onde moram, e criando os chamados cinturões urbanos. Vários exemplos vão surgindo com a colocação de portões eletrônicos, obstáculos físicos e até muros erguidos, fechando ruas e acessos à revelia, criando soluções para os interessados e problemas para a Administração e para os contrários.
A questão é delicada por envolver direitos e interesses pessoais, com o agravante de impor custos que devem ser suportados pelos envolvidos. A falta de segurança credencia a aspiração de criar áreas de moradia mais seguras, mas também não se pode afetar o interesse maior da sociedade, de ter livre acesso a espaços públicos. O adiamento de soluções e de definição de regras cria um impasse desnecessário, que poderia ser resolvido com uma proposta de abordagem técnica, acima de pretextos específicos, contemplando todos os interesses envolvidos, antes que as cidades se cerquem de barreiras intransponíveis.
(Correio Popular, 5/5)
Nenhum comentário:
Postar um comentário