Ao propor a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar irregularidades na Petrobras, o Senado abriu a torrente de mais um escândalo político que poderá assumir proporções extraordinárias ou apenas revelar-se mais um instrumento de exploração partidária de esquemas de desvio de verbas no setor público, no caso envolvendo uma das mais tradicionais e conceituadas empresas nacionais. O risco iminente não afasta a possibilidade e o interesse em instituir mais uma CPI, desde que respeitados os limites de atuação do Legislativo e se tenha como mote principal esclarecer fraudes e desvios de dinheiro apontados pela Polícia Federal.
A tensão em torno do assunto é evidente. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apressou-se em condenar a bancada tucana no Senado pela criação da CPI, taxando de irresponsável e oportunista a iniciativa, esquecendo-se de que outros partidos deram apoio à criação da comissão. Ao perder espaço na tentativa de desqualificar o trabalho dos senadores, Lula perdeu o primeiro round de uma queda de braço que tende a se desdobrar em intenso noticiário político. Ao assacar a crise econômica internacional como desculpa para que o assunto não seja levantado, Lula compromete a sua seriedade e avança atabalhoadamente sobre a competência do Congresso.
A economia brasileira tem vivido momentos de tensão e apreensão por parte de investidores, que procuram por âncoras seguras onde aportar seus interesses durante o desdobramento da crise financeira que abalou as estruturas do sistema financeiro, principalmente nos nichos do capital especulativo mundial. O período de instabilidade, no entanto, não se presta a justificar vista grossa sobre as denúncias. O esquema levado ao Ministério Público dá conta de fraudes em licitações, sonegação fiscal e irregularidades no repasse de royalties. A Petrobras é um patrimônio nacional, uma das mais fortes âncoras da economia brasileira, mas não está isenta de fiscalização, e por isto deveria ser a primeira a ostentar transparência em seus negócios, até por conta de seus investidores e acionistas.
Da parte dos parlamentares, é exigível serenidade e objetividade, até porque os muitos exemplos de comissões redundaram em explícitos palanques de oposição, onde mais valiam a arrogância e discurso inflamado de seus membros que o real esforço de investigação. Com o interesse maior da Nação em jogo, não é tempo de transformar o episódio em escambo político.
(Correio Popular, 19/5)
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