domingo, 17 de maio de 2009

A praga do bullying

As relações sociais são determinadas pelo nível de cultura e civilidade de cada cidadão, determinados pelo conjunto de características individuais e pelos grupamentos determinados pelas escalas de convivência. Em maior ou menor grau, o relacionamento é aprofundado pelo tempo em que as pessoas permanecem unidas por contingências ou interesses comuns, não raro criando laços de amizade.

As escolas são importante campo para o desenvolvimento dos parâmetros de convivência e para estabelecer regras de socialização. As crianças passam a maior parte do tempo com seus colegas e professores, além de estender seu relacionamento para atividades extra classe, o que dá uma dimensão de importância para as bases que são sedimentadas nesta fase da vida.
O comportamento de crianças e jovens é marcado pela experimentação dos sentidos. As brincadeiras são, em essência, representações de um teatro anímico onde são testados os limites de cada um, traçando as ascendências no grupo, as lideranças, as influências que permearão os relacionamentos. Neste contexto, surgem os excessos, os atritos, os abusos traduzidos em perseguições, agressões e violência de todos os modos que deixam profundas marcas.


O bullying não é fenômeno novo. Desde sempre as escolas foram palco de perseguições entre alunos, muitas vezes ao largo do controle de professores e responsáveis, levando a traumas graves e perturbações que acompanham a pessoas pela vida afora. Agora, dá-se um nome à atitude e especialistas conseguem avaliar a gravidade do que não pode mais ser tratado como uma brincadeira infantil. A perseguição é um caso sério e deságua em mais violência que precisa ser estancada em sua origem.

Reportagem publicada nesta edição mostra o lado perverso do bullying. Pesquisas mostram que o fenômeno não tem limites e o pátio das escolas é o lugar onde a opressão toma a forma das zombarias eivadas de preconceito, discriminação, violência implícita, contrangendo seriamente algumas crianças, sempre selecionadas entre os que são "diferentes", seja por característica física, comportamento ou postura social.

É preciso que a sociedade seja finalmente despertada para a gravidade da situação, sob pena de construir uma geração desrespeitosa, incivilizada e violenta. As crianças perseguidas são vítimas de uma forma cruel de opressão, feita às vistas de todos e sob complacência dos responsáveis. A situação é grave, até porque o bullying assume a cada dia contorno mais impiedoso, insensível.
Se a agressão sempre foi uma constante na história das relações entre estudantes, agora é ainda mais séria. Em um mundo em que os jovens não respeitam mais o próprio espaço, chegam a agredir e ameaçar professores, têm laços familiares difusos, é possível imaginar o nível de agressividade que podem assumir para subjugar seus companheiros. É preciso que toda criança e jovem nas escolas tenham a atenção de professores e diretores. Os pais têm o direito de serem imediatamente notificados de alterações de comportamento e constrangimento de seus filhos. As sequelas do bullying são graves e não podem depender de chegar a níveis absurdos para que a proteção seja estendida às vítimas.


(Correio Popular, 17/5)


Nenhum comentário: