As escolas sempre foram uma referência no processo de educação de crianças e jovens, local onde são aperfeiçoados os ritos sociais através da difusão do conhecimento, do aprendizado direcionado, das experiências de relacionamento, construindo gerações nos moldes preconizados pela sociedade como ideais. É nas escolas que se completa o ciclo da educação familiar, onde as pessoas desenvolvem sua cultura, seu ciclo de convivência e a própria personalidade.
De algum tempo, os costumes se deterioraram grandemente no Brasil e as instituições de ensino público, de modo geral, perderam a aura devida de respeito e reverência. Os prédios deixaram de ser encarados como "templos do saber", como chegaram a ser nominados em décadas passados, e hoje são cobertos de garranchos de pichações, sujeira, falta de manutenção. Professores são afrontados diariamente, a violência é marcante em muitos locais e a disciplina se impõe pelo esforço, carisma e didática de funcionários e docentes, não mais pelo respeito que o ambiente deveria suscitar.
O resgate das qualidades das instituições de ensino deve obedecer um sério planejamento que implica em investimentos maciços, provimento da qualificação e remuneração digna de professores, e recuperação dos imóveis, ao par de um programa extensivo de aperfeiçoamento didático e pedagógico. Entre as transformações esperadas, alguns gestos podem ser emblemáticos, como a decisão do governo de São Paulo que proíbe a comercialização ou consumo de bebidas alcoólicas dentro das escolas estaduais. A lei foi promulgada nesta semana , proposta por projeto de lei do deputado Celso Giglio.
É fora de discussão a conveniência de estabelecer séria restrição ao consumo de bebidas no ambiente escolar. É comum se ver jovens consumindo bebidas em horários de aulas ou intervalos, em especial no Ensino Superior, com a venda nos próprios estabelecimentos, campus ou proximidades. É importante disseminar que existe hora e lugar para o consumo e, certamente, o calendário escolar não contempla este hábito. O debate provocado por esta matéria deveria suscitar outras medidas que restringissem a venda de bebidas no entorno de escolas de todos os níveis e implantassem rigorosa fiscalização contra a venda de álcool a menores de idade.
No entanto, mais uma vez o espírito altamente regulador do governador José Serra excede à intenção e provoca efeito colateral exagerado, ao impedir a venda de quentão e bebidas em eventos realizados no espaço das escolas. Desconsidera que essas promoções são normalmente promovidas pelo corpo diretor das instituições, em parcerias com associações de pais, fora do período letivo, muitas vezes levantando recursos para reformar ou equipar as escolas deixadas ao léu pelo Estado.
Revela, no mais das vezes, como no caso da legislação antitabagista ou a restrição à venda de frituras nas cantinas, uma indisfarçada noção de que hábitos tidos como inconvenientes podem ser removidos da sociedade por decreto, o que é por si só um mau costume.
(Correio Popular, 27/5)
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