A torrente de denúncias contra os atos de políticos em todos os níveis tem o pendor de criar um clima de profunda indignação na população, às portas da intolerância e com diminuída capacidade de distinguir o que é justo e o que é legal e moralmente aceitável. Já não se separa o joio do trigo; a mesma indiferença que afasta do leitor comum o espírito crítico e a capacidade discriminatória, também faz com que os bons e honestos – que ainda existem, acreditem – sejam vistos pelo mesmo prisma distorcido da corrupção e do favorecimento.
É bem verdade que os fatos atropelam a realidade. Tantas denúncias de corrupção, por tanto tempo, apenas reforçam a impressão de que tudo o que se faz, das Prefeituras a Brasília, tem um quê de aproveitamento indevido da função, de mordomia exacerbada, de desvio de verbas públicas, de corrupção escancarada que se justificam com dispositivos que “legalizam” os benefícios. À desfaçatez dos políticos, junta-se o tempero do compadrio, do protecionismo cúmplice, do corporativismo comprometedor, que tenta abafar sistematicamente a péssima repercussão dos atos ignóbeis.
Mesmo quando se divulgam informações sobre gastos legalizados de vereadores, deputados e senadores, o que se revela é um perverso mecanismo de autofavorecimento e acobertamento de privilégios inaceitáveis, na contramão de toda a sociedade, instada a promover ações de contenção de despesas, de moralização da vida pública, de sobriedade de gastos em todos os níveis.
O Congresso está imerso na péssima repercussão do uso das verbas extras. As tímidas mudanças anunciadas apenas reduzem a margem de ação dos aproveitadores. Fica devendo a regulamentação das verbas que sejam absolutamente necessárias ao exercício do mandato, cortando abusos imorais, gastos feitos com a desfaçatez de quem não se dá conta do fosso que se cava entre a opinião pública e o fétido usufruto de mordomias indevidas.
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