A classe política não perde a oportunidade para se mostrar enfraquecida moralmente para a população, acumulando denúncias que a fazem cada vez mais vulnerável, menos digna de crédito, à beira da repulsa por parte dos cidadãos que estão no limite da tolerância diante de tantos abusos. Em todos os níveis, o que se vê é uma categoria que se entende como uma casta especialmente ungida, que se autoconcede benefícios e vantagens através de artifícios legais ou na mais pura desfaçatez, como se nada lhes pudesse atingir.
A enorme distância da realidade vivida pelos parlamentares brasileiros e a imensa maioria da população é resultado de um estado de ignorância política que assola a Nação, raramente confrontada com tantos desmandos, roubos, corrupção e imoralidades que grassam nas Câmaras, Assembleias e no Congresso, com inequívocas ramificações nos gabinetes de todos os poderes, irmanados na faina de desviar recursos e esvaziar os cofres públicos, tão pequenos diante de tantas necessidades sociais.
O mais recente escândalo que abalou o mundo político diante da opinião pública é a farra das passagens aéreas, com os parlamentares lançando mão de vantagens incríveis, como levar familiares, amigos e amantes por todo o Brasil e até ao Exterior, como se o mundo lhes devesse o tapete estendido da majestade e ilimitados poderes. Quando o caso tomou as manchetes dos jornais e as conversas dos cidadãos, os políticos apressaram-se em dar respostas que, se não risíveis pela ingenuidade, revoltantes por estarem muito distantes do que se espera em termos de transparência e moral.
O presidente da Câmara Federal, Michel Temer, anunciou o corte das passagens aéreas franqueadas aos deputados, ao passo em que anunciou a negociação de aumento do salário dos parlamentares à razão de 50%. Mais uma vez, a classe política se desmoraliza e tenta jogar para baixo do tapete a realidade que mostra um grupo de pessoas inoperantes, vendidas a qualquer tentação de negociação de votos, aplicados na conquista de vantagens, a ponto de abafar as melhores intenções que tentam sobreviver em meio a tanta ignomínia.
Os casos relatados são uma afronta à moral e ao bom senso, achincalhando a classe política e levando de roldão até mesmo aqueles que tentam construir uma história pessoal ilibada. O deputado federal Fernando Gabeira é exemplo típico. Flagrado na situação de ter cedido passagens aéreas a terceiros, confessou-se culpado de não ter percebido o quanto seu gesto é imoral e que se deixou agir assim, acriticamente, porque essa era a regra no Congresso.
Esta situação de uma imoralidade vir a público, expondo os políticos a situações vexaminosas explica em parte o porquê de muitos brasileiros agirem incivilizadamente. A degradação moral é cultural, perigosamente incorporada no dia a dia das pessoas, desde aqueles que jogam um papel no chão que já está sujo, como aqueles que usam o dinheiro público irresponsavelmente, apenas porque todo mundo faz.
A questão é que nem todo mundo suja o chão ou é desonesto.
(Correio Popular, 24/4)
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