quinta-feira, 9 de abril de 2009

A cruzada radical contra os tabagistas


Os hábitos da sociedade se transformam com o surgimento de opções modernas, colocando à mesa alternativas de comportamento que nem sempre são bem recebidas por todos, seja na atividade profissional, na convivência social ou no entretenimento. A velocidade das transformações não são acompanhadas pelo ritmo de adaptação, gerando conflitos que precisam ser administrados com serenidade e bom senso.

O uso do cigarro mudou muito, desde as aparições charmosas de artistas de cinema tragando fumaça até o atual policiamento rigoroso dos antitabagistas, incomodados com os efeitos nefastos do fumo e a inconveniência de seu consumo em público. É notável o crescimento de pessoas que se declaram contrárias ao cigarro em estabelecimentos ou locais públicos, alegando aversão ao cheiro e mesmo os efeitos nocivos à saúde, pela inalação passiva.

A lei proposta pelo governador José Serra e aprovada nesta semana pela Assembleia Legislativa de São Paulo, que restringe drasticamente o uso de cigarros em qualquer área púiblica, levanta uma polêmica que espelha o quanto a sociedade está apaixonadamente dividida em relação ao assunto. O que não falta são argumentos radicais de todos os lados, geralmente faltando o ponto de bom senso que deveria conduzir debates desta natureza. E a lei aprovada pelos deputados não ajuda muito neste sentido.

Ao proibir o uso do tabaco em qualquer local público, à exceção das casas e da rua, a lei mostra-se pesada e inadequada para um assunto tão polêmico, necessário e delicado. A sociedade tem dado sinais claros de harmonização de interesses, criando áreas de fumantes em locais de trabalho, bares, restaurantes e hotéis, locais públicos, demonstrando respeito cada vez maior ao direito de fumantes ou não. De maneira geral, busca-se um consenso que atenda à expectativa de todos, sem radicalizações.

É preciso ter consciência de que comportamentos não mudam apenas pela edição de leis, rigorosas ou não, que acabam virando letra morta por não terem razoabilidade e tampouco fiscalização. Ao legislar diretamente dentro de espaço privado, proibindo o fumo dentro de empresas, o Estado mostra-se excessivamente interferente. Bastaria deixar a critério dos cidadãos a designação de locais apropriados, especialmente em áreas privadas de uso público, com absoluto respeito ao conforto e saúde de cada um. Cada dono de bar, por exemplo, deveria ter o arbítrio de permitir fumantes em seu estabelecimento, arcando com a eventual perda de cliente.

O que afronta é o cigarro ser demonizado, como o crime maior que atinge a sociedade. O excessivo rigor da lei a ser sancionada pelo governador joga para o cidadão e para o dono do estabelecimento a função coercitiva, a responsabilidade e a pena final, criando um clima de antagonismo em locais, em princípio, destinados a coisas mais relevantes, como o trabalho e o lazer.

(Correio Popular, 9/4)

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