O sentido de moralidade na vida pública não tem a amplitude que se pode desejar. O conceito é pétreo e deve refletir o consenso da sociedade sobre o que é lícito, determinando limites e o padrão de comportamento que se espera de representantes populares ocupando cargos para os quais foram eleitos ou indicados. Ao lidar com interesses e orçamentos da sociedade, a primeira premissa que se estabelece é que toda ação deve estar cercada de total transparência, dentro do princípio constitucional da publicidade de atos.
Os políticos brasileiros não passam por bons momentos. A política brasileira está em franco processo de transformação, expondo as próprias chagas da corrupção, da imoralidade, do crime organizado nos bastidores das casas de lei, das verdadeiras quadrilhas que se instalaram no poder e se mantém por força de uma rede de impunidade apoiada no compadrio, na camaradagem repulsiva, no compromisso de acobertar todo e qualquer desvio.
Os cidadãos mostram-se mais conscientes. O escândalo do mensalão, embora não suficiente para criar uma nova geração de eleitores com peso crítico, teve o dom de arregimentar uma grande massa de pessoas que não aceitam mais ver os poderes da República achincalhados por aqueles que se perpetuam impunes. E a imprensa tem se colocado como o porta-voz destes cidadãos, cumprindo seu papel de cobrar, fiscalizar, denunciar e buscar nos escaninhos do Congresso, Assembleias e Câmaras municipais a transparência que falta aos mal intencionados.
Nesta semana, o presidente da Câmara Federal, deputado Michel Temer (PMDB-SP) acusou a imprensa de mover uma ação para indispor os políticos com a sociedade. Irritado com a repercussão negativa dos sucessivos escândalos, tentou jogar sobre a imprensa o ônus da rejeição crescente de eleitores aos atos praticados no Congresso. Sua voz teve o endosso de alguns outros deputados, indignados por constatarem que a sociedade sabe de todos os crimes, o desvio de recursos públicos, as fraudes, a corrupção, que são cometidos sob o manto da imunidade parlamentar.
Essa irritação e tentativa de transferir responsabilidade são condenáveis. A imprensa cumpre o seu papel de fiscalizadora do serviço público a partir do mandato outorgado pelos seus leitores. Os parlamentares devem, sim, satisfação à população e a mídia tem o dom de trazer o assunto à discussão. Há dúvidas e o comportamento e intenção dos políticos deve estar sempre sob suspeição. Se os políticos desejam manter a imagem da instituição, precisam começar a agir com moral e absoluta honestidade. Afinal, não basta bater no peito como arautos da honestidade, é preciso agir como tal.
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