terça-feira, 28 de abril de 2009

Transparência é a resposta à indignação


Muito se tem dito sobre a profunda crise institucional que abala as estruturas da política brasileira, levando a sociedade a um nível tal de desacorçoamento que projeta desânimo e descrença na própria democracia, como se aos políticos não coubesse qualquer sinal possível de confiança. Os escândalos são tantos que, a cada notícia, o anterior é quase esquecido, como se fosse inesgotável arsenal de abusos, corrupção, desmandos na República. Não apenas no Senado e na Câmara Federal, mas os problemas são verificados em todos os níveis de representação.

Em tempos de crise, de pressão sofrida por tantos desacertos, a atitude mais sensata é abandonar as posições extremamente defensivas e partir para projetos que possam resgatar o conceito de representatividade. Não se trata de defender um ou outro parlamentar, mas de prevalecer o preceito constitucional, estabelecendo instrumentos de regulamentação, de punição exemplar dos infratores e recondução do Parlamento à sua condição de fórum privilegiado dos interesses da sociedade.

Ao passo de questionar a validade das mordomias e benesses atribuídos aos poderes, cabe à sociedade cerrar fileiras no trabalho de fiscalizar a atuação de seus representantes, que agem como se não lhes coubesse qualquer prestação de contas a não ser pelos escaninhos obscuros da legislação que lhes permite abusos e gastos inaceitáveis. Neste ponto, a internet tem se apresentado como valioso instrumento, colocando às claras as ações públicas, dando tardia visibilidade a tudo o que se faz. Mesmo os mais recentes escândalos e denúncias se pautaram por sítios voltados à transparência, como o Congresso em Foco, que desmascarou a farra das passagens aéreas, ou o Transparência Brasil, bem cotado no período de eleição ao divulgar fichas de candidatos.

A transparência é devida por todos que exercem função pública. Choca a indignação de alguns vereadores que se manifestaram constrangidos de ter que prestar contas à população, dar publicidade de seus atos. É um erro legal e moral. Todo representante eleito tem o dever de agir com seriedade, sem medo do compromisso de se expor. Se há desconforto, as intenções são suspeitas. Em tempos de alta suspeição com a classe política, não há melhor antídoto do que a honestidade explícita.

(Correio Popular, 28/4)

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